Opinião

Liderança em férias

Carlos Rocha, administrador do Banco de Cabo Verde

Agosto é, para as nossas culturas, o mês das férias por excelência e, sendo o mês das férias, proponho um artigo mais suave, mais condizente com o período.

Efetivamente, neste mês de agosto, normalmente, até o líder vai de férias! O líder vai de férias? Atualmente? Não me parece, na era da tecnologia e do “sempre conetado” em banda larga em que vivemos.

Se num passado não muito longínquo era possível estar “desligado” bastando para tal não estar no escritório, atualmente isso é quase impossível, desde que o local onde estejamos esteja coberto por uma conexão de banda larga, seja ela fixa, móvel ou satélite. Na realidade, houve um período intermédio, quando surgiram os primeiros telefones portáteis, em que já era possível estabelecer comunicação de voz mesmo fora de casa ou de escritório.

Efetivamente, essa situação leva-nos, necessariamente, ao contributo da tecnologia no aumento da produtividade, quando bem utilizado, pois toda a moeda tem duas faces. Imagine o salto que foi dado com a introdução de toda a tecnologia (software e hardware) e o contributo para os negócios, saúde, desporto, cultura, religião, ensino, etc. Imagine o encurtamento das distâncias entre continentes e como isso contribuiu para a redução dos prazos e a tomada das melhores decisões. Imagine um europeu a fazer negócios com o continente asiático, antes das atuais tecnologias que hoje conhecemos; a capacidade de enviar um catálogo de produtos à velocidade da luz e alguém conseguir responder de imediato e encomendar o produto do outro lado do planeta – esta situação não se compara quando tinha de ser enviado fisicamente pelos correios ou, eventualmente, via fax.

As condições tecnológicas que atualmente temos permite ter o escritório móvel e gerir uma organização de qualquer lugar do planeta, desde que haja uma conexão de banda larga.

Imagine as vantagens da telemedicina em que consultas, diagnósticos, prescrições e muito mais pode ser feito, remotamente, recorrendo à tecnologia. Quanto se poupa em recursos, mas sobretudo em vidas e se melhora na prestação de cuidados de saúde.

Até um Presidente dos Estados Unidos, de férias no Havai, com um oceano pelo meio a separar, conseguiu, remotamente, utilizando um mecanismo chamado de autopen, assinar uma importante lei que já tinha sido aprovada pelos Congresso e Senado, a tempo de evitar o chamado ‘abismo fiscal’, como se pode ver aqui.

Ao nível de equipamento terminal já nem temos que pensar em ter um desktop, pois o “simples” smartphone já permite fazer muita coisa.

Ao nível do acesso à informação para poder trabalhar e decidir, já nem se tem que preocupar onde ela se encontra armazenada, se em casa ou no escritório, pois podemos acedê-la remotamente porque está armazenada em nuvem (cloud computing).

Ao nível do software, um dos últimos gritos, a tecnologia blockchain, (blocos de informação em cadeia e coletivamente validados) promete revolucionar muitas áreas onde qualquer operação precisaria de ser validada por um organismo centralizado.

Com toda esta panóplia de tecnologia, pergunto se, efetivamente, a liderança consegue ir e ficar de férias, desconectado? Eu não.

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Carlos Rocha

Carlos Rocha

Carlos Rocha é economista e atualmente é vogal do Conselho de Finanças Públicas de Cabo Verde e ex-presidente do Fundo de Garantia de Depósitos de Cabo Verde. Foi administrador do Banco de Cabo Verde, onde desempenhou anteriormente diversos cargos de liderança. Entre outras funções, foi administrador executivo da CI - Agência de Promoção de Investimento. Doutorado em Economia Monetária e Estabilização macroeconómica e política monetária em Cabo Verde, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – Lisboa, é mestre em... Ler Mais..

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