As empresas aguentam novo confinamento? Ouvimos 4 empresários.

Clementina Freitas, CEO da Latino Group, Gustavo Rodrigues Dias, CEO e Chief Executive Stratosphere, Nuno Matos Sequeira, CEO da Solzaima, e Domingos de Carvalho, diretor geral da Polinnovate, partilharam com o Link To Leaders como estão a lidar com o novo confinamento e como veem o futuro dos seus negócios.
Como estão as empresas e as start-ups a reagir ao novo confinamento e como perspetivam o impacto na sua empresa e no seu setor de atividade foram as questões que lançamos a quatro responsáveis de empresas, de quatro setores de atividade distintos: tecnologia, têxteis, sistemas de aquecimento e reutilização e inovação.
Clementina Freitas, CEO da Latino Group, Gustavo Rodrigues Dias, CEO e Chief Executive Stratosphere, Nuno Matos Sequeira, CEO da Solzaima, e Domingos de Carvalho, diretor geral da Polinnovate, aceitaram o desafio de partilhar as suas visões sobre como as empresas vão sobreviver ao confinamento provocado pela pandemia e como este cenário afeta os negócios no seu todo, e os seus em particular. E, de uma forma geral, as opiniões dos quatro empresários, na sua essência, apontam no mesmo sentido: necessidade de resiliência.
Responsável pelo Latino Group, empresa que há mais de 34 anos atua no setor do vestuário profissional, Clementina Freitas mostra-se otimista, mas reservada. Se as empresas aguentam ou não “apenas o futuro o dirá”, frisou. Destaca, contudo, o facto de que quem está mais preparado para o embate económico são as empresas com maior suporte financeiro e aquelas que estão menos dependentes dos setores que confinam, como o turismo e o comércio não essencial.
Quanto ao seu setor de atividade em particular – produção de vestuário técnico-profissional, uniformes militares, equipamentos táticos e equipamentos de proteção individual – a sua previsão, contrariamente a muitas outras indústrias, é de crescimento. “Temos perspetivado crescer, tomando medidas de reforço nas vendas e nos canais de venda. No nosso setor de atividade, os têxteis e vestuário, poderá haver fortes constrangimentos quando as empresas estão muito dependentes do comércio tradicional de venda”, explicou a CEO da Latino Group.
Gustavo Rodrigues Dias, CEO e Chief Executive Stratosphere também avalia a forma como as empresas enfrentarão o confinamento em função do setor de atividade. “Creio que depende muito do segmento e área de negócio”, salienta. Na sua opinião “negócios muito focados em B2C terão mais problemas que B2B. Em particular os que têm uma componente digital baixa. Por isso, refere, “vai haver uma desaceleração geral, mas creio que a generalidade dos negócios está mais adaptado a funcionar nestas novas circunstâncias. Vamos necessitar ainda de resiliência para 2021”.
Mas no seu caso concreto, como perspetiva o impacto do confinamento? O CEO e Chief Executive Stratospher, aponta para “um ano de 2021 melhor que 2020, com uma subida significativa do volume de negócios. Em particular fora do segmento aeronáutico comercial”. Gustavo Rodrigues Dias explica que os verticais que trabalham, como o espaço e a defesa, sustentam o crescimento da Stratosphere. “O volume de negócios crescerá fundamentalmente em exportação e não na componente nacional”, conclui.
Nuno Matos Sequeira, CEO Solzaima, empresa especializada no fabrico de equipamentos e soluções de aquecimento a biomassa, lembra que “o impacto do confinamento irá fechar diversas lojas da especialidade, restringindo temporariamente o consumo dos consumidores, o que não é positivo. Por outro lado, o maior tempo em casa tem levado os consumidores a quererem melhorar as condições de conforto das casas, em especial num inverno que tem iniciado de forma rigorosa”. Desta forma, assegura, a Solzaima não se pode queixar já que começaram janeiro 2021 com uma forte procura dos seus produtos. “A biomassa (aquecimento a lenha e/ou pellets) é a forma mais económica de aquecer as casas, pelo que é uma excelente solução em tempos onde iremos gastar mais no aquecimento doméstico do que em anos não confinados”, refere.
No que respeita à resistência das empresas para suportar o confinamento, Nuno Matos Sequeira lembra que algumas empresas nacionais “aguentarão o confinamento e algumas seguramente não conseguirão ter a resiliência necessária, depois de um ano de esforço, para ultrapassar estes momentos de incerteza e de receio dos consumidores”.
Este empresário acredita que “haveria outras formas, mais eficientes e mais económicas, de combater a pandemia”. E avança alguns exemplos. “Atualmente estou a comprar testes rápidos de antigénio da Abbot Alemã (com resultados em poucos minutos), por forma a testar qualquer caso suspeito e todas as pessoas com contactos próximos na empresa, e fazemos isto para tentar manter a atividade produtiva da forma o mais normal possível, e minimizando os riscos e os contágios na empresa. Se o Governo entendesse fazer o mesmo, poderíamos testar toda a população portuguesa, num fim de semana, com a ajuda do exército e dos bombeiros, confinando os casos positivos e mantendo o resto do país a funcionar. Isto custaria cerca de 6€ por teste, ou seja, custaria cerca de 60M€ de euros em testes, testar toda a população. Uma semana depois deveríamos repetir os testes, pois no primeiro final de semana haverá ainda muitos casos, onde o teste poderá ter dado falsos negativos ou onde o teste poderá não ter sido positivo porque os dias de contágio não estariam dentro da efetividade dos testes. Desta forma, reduziríamos drasticamente em duas semanas a capacidade de contágio na população portuguesa e consequentemente a pressão nos nossos serviços de saúde”. Sem isso, o CEO Solzaima acredita que “o custo do confinamento é incomparavelmente maior e levará seguramente muitas empresas a fechar portas”.
A atuar no setor da reutilização de resíduos plásticos, com a criação, produção e distribuição exclusiva de produtos fabricados em Polisin, a Polinnovate mantem a esperança de conseguir a sobrevivência neste período, para alcançar a tão esperada melhoria quando toda a conjuntura pandémica for, finalmente, ultrapassada. Domingos de Carvalho, diretor-geral da Polinnovate, refere que o seu setor de atividade “é um dos mais privilegiados, na medida em que estamos num momento em que a reutilização de resíduos plásticos e a reciclagem são ainda consideradas prioridade, não obstante a pandemia que, naturalmente, colocou a preocupação da saúde pública à frente de qualquer outro tema de relevância na atualidade”.
Quanto a saber se as empresas nacionais e as start-ups aguentam um novo confinamento, Domingos de Carvalho vaticina que algumas aguentarão, outras, infelizmente, terão de encerrar a sua atividade sob risco de penhorarem o seu futuro.
“Um dos dados que mais me surpreendeu no primeiro confinamento foi a percentagem altíssima de empresas nacionais que não aguentam mais de um mês sem faturar! Isto é muito revelador das condições em que subsiste o nosso tecido empresarial e demonstra as dificuldades constantes com que os empresários portugueses vão conseguindo manter os seus projetos”, alerta.
Este deveria ser, na sua opinião, um dado que despoletasse alguma reflexão, até a nível político, relativamente às condições oferecidas aos empreendedores portugueses.
“As obrigações legais, quer a nível de taxas, quer de licenças e exigências impostas em Portugal, começam a ser asfixiantes e, sem sombra de dúvida, que abrir o próprio negócio em Portugal é matéria para poucos… e loucos!”. E apesar de até considerar que “o Governo português tem estado bem na busca das soluções possíveis de suporte aos empresários, sempre na tentativa de alteração e adaptação das linhas de apoio às necessidades que vão sendo identificadas”, Domingos de Carvalho salienta que “é incontornável que nenhum Governo poderá substituir-se à economia de um país inteiro. É impossível exigirmos muito mais, e isso, preocupa-me”.