Entrevista/ “Agora é muito mais fácil para muitos países irem para a Arábia Saudita”

Khalid Al Oraij, fundador, vice-presidente e CEO da KABi

Os planos de expansão da KABi na Europa podem passar por Portugal, revelou ao Link to Leaders Khalid Al Oraij, fundador, vice-presidente e CEO da start-up da Arábia Saudita.

A KABi é uma jovem start-up da Arábia Saudita que atua na área dos recursos humanos com recurso a inteligência artificial. Criada em 2018 “com o objetivo de revolucionar a indústria do capital humano para transformar a experiência dos profissionais e das empresas”, aproveita a Inteligência Artificial (IA) para melhorar a abordagem das organizações aos recursos humanos (RH). Tem uma equipa diversificada de profissionais de RH e especialistas em tecnologia, e as suas soluções permitem que as empresas transformem a experiência de contratação, melhorem o envolvimento dos funcionários, ajudem na retenção de talentos, automatizem tarefas mundanas, no fundo fazer com que se tornem mais ágeis.

Falámos com Khalid Al Oraij, fundador, vice-presidente e CEO da KABi, que esteve em Portugal por ocasião da Web Summit – integrado na comitiva de start-ups que o fundo saudita Monsha’at trouxe ao nosso país – sobre os seus planos de expansão, que podem passar por Portugal, e sobre como é ser empreendedor na Arábia Saudita.

Qual o core business da sua start-up?
O que fazemos é revolucionar o capital humano, utilizando produtos com tecnologia IA. Temos atualmente seis produtos e outros em estudo.

Como surgiu a ideia do projeto KABi?
Na verdade, surgiu comigo e duas outras pessoas. Eu venho da área de consulting, de venture capital, com um background nacional e internacional. Em determinada altura senti que havia um gap no mercado em certas áreas. A visão do mercado está a mudar muito, mas o capital humano é uma área em que ainda acredito que podemos criar transformação… na nossa perspetiva. Em 2018, eu e dois colegas começamos a empresa. Começamos por fazer muito new business, mudando muito até chegarmos a esta área e a este foco. Hoje estamos com um crescimento anual de mais de 100%, temos mais de 100 empregados, estamos em seis países e estivemos na Web Summit para expandir o mercado global.

Estão a planear vir para Europa?
Sim. Na realidade foi por isso que estivemos no Web Summit com a Monsha’at, e com um programa que nos suporta há algum tempo nesta área. Convidaram-nos a participar no evento para explorar o mercado europeu e ver as potencialidades deste mercado. Vimos muitas oportunidades e vamos ver como corre nos próximos tempos.

Estão a pensar em algum mercado ou país em particular?
Não. Vejo a Europa como um mercado é o que estamos à procura. Não decidimos ainda um mercado específico.

“Portugal pode ser um mercado promissor devido às mudanças que têm acontecido”.

Portugal, França, Inglaterra… o que é que está no radar?
Diria que para nós, para o nosso negócio, apreciamos a Inglaterra sobre outro mercado europeu devido ao Brexit. Já estamos no Reino Unido, mas noutros mercados europeus ainda não. Portugal pode ser um mercado promissor devido às mudanças que têm acontecido.  Inclusive, na Web Summit ouvi o presidente da Câmara de Lisboa e o ministro da Economia falarem das mudanças da legislação e também do apoio ao empreendedorismo. Acredito que Portugal está a fazer muitas coisas. Então pode ser um ponto de partida, mas ainda não decidimos.

Quais as expetativas que tinha para o Web Summit?
As nossas expetativas eram de encontrar um parceiro global com o qual possamos expandir. As expetativas foram cumpridas e vi muitas empresas com possibilidade de poderem fazer parcerias connosco no mercado europeu.

Como está o empreendedorismo na Arábia Saudita?
Acredito que o ecossistema passou por muitas fases, por muitas mudanças, por muitas milestones e acredito que hoje a milestone que o ministro do investimento e outros players estão a fazer é massiva, com um programa completo para atrair investimento internacional e empresas que se queiram mudar ou ter ali a sua sede.

Houve um grande foco nos últimos quatro a cinco anos, e agora é muito mais fácil para muitos países – ao nível do mercado, regulação, atração de players globais – irem para a Arábia Saudita e juntarem forças.

Quais os principais desafios que um jovem empreendedor enfrenta na Arábia Saudita?
Diria que o mercado da Arábia Saudita está muito desafiante. Temos um Governo que está muito à frente em termos de tecnologia. Houve mais tecnologia no Governo antes do setor privado, o que não é muito normal porque, normalmente encontramos mais tecnologia no privado do que no público.  Se conseguirmos ser bem-sucedidos na Arábia Saudita é muito mais fácil sermos bem-sucedidos noutros locais do mundo. Acredito que esse é um dos grandes desafios.

O segundo desafio é que temos um mercado emergente e uma liderança muito ambiciosa quer no Governo quer no setor privado. Isso coloca-nos uma grande pressão em termos de desenvolvimento contínuo… Estes são os dois desafios que me ocorrem.

Acredito no talento num mercado como o nosso. Estamos a expandir globalmente, por isso o acesso a talento é um desafio internacional, mas diria que temos um sistema que facilita muito o crescimento que procuramos.

Quais são as áreas principais, as mais desenvolvidas no seu país?
Não sou a melhor pessoa para falar sobre isso, mas diria que fintech está trendy e a IA. Outro setor em que acredito é a indústria da banca. Também está muito avançada na Arábia Saudita. Pessoalmente, não me lembro da última vez que fui ao meu banco. Temos o online banking onde podemos fazer tudo. Acredito que o fintech é muito promissor e ao mesmo tempo desafiador na Arábia Saudita e também a IA como um emergente global.

A healthtech acredito que agora é também uma nova tendência. Há muitos projetos privados que estão a desenvolver a healthtech.

“(…) convido todos os europeus a visitarem a Arábia Saudita e poderem ver o que o que temos e o que estamos a fazer”.

Que expetativas tem para a sua empresa, por um lado, e para o seu país, por outro, no futuro?
Estamos a planear fazer uma IPO, espero que em 2024 a empresa esteja listada na bolsa saudita. Estamos a crescer bem todos os anos, o que é ótimo. Estamos numa boa condição e acredito que é uma altura boa para estar no mercado público e mostrar a nossa história, e a nossa jornada a outras companhias que façam o mesmo.

Como cidadão estou muito orgulhoso de um país como a Arábia Saudita. Para ser honesto, tudo o que temos agora e todas as mudanças que aconteceram, a visão, a regulamentação, o futuro, a ambição, não consigo encontrar uma forma de expressar o meu orgulho e até a minha atitude positiva quanto ao futuro. Somos o futuro e acredito que o futuro está aí.

Trabalhei em várias companhias internacionais, trabalhei em Nova Iorque, em Londres e noutros locais no mundo, mas desta vez acredito que não podia estar mais orgulhoso de ser cidadão saudita, que serve o país, que é parte deste país. É criar o futuro para todos e não só para nós. Já temos a Expo que acontecerá em Riade em 2030, o campeonato mundial de futebol em 2034… e isto são apenas exemplos. Convido todos os europeus a visitarem a Arábia Saudita e poderem ver o que o que temos e o que estamos a fazer. Acredito que o futuro está ali.

Acha que o mundo já vê o potencial que o seu país tem em termos de inovação, de tecnologia?
Estamos a fazer o nosso caminho, a nossa agenda, a nossa direção… Se o mundo vê isso é ótimo, se não vê já não é um assunto nosso.

“Acredito (…) que no próximo ano estaremos na Europa”.

No próximo ano, vamos ver a KABi em força na Europa?
Acredito que sim, que no próximo ano estaremos na Europa. Espero que em Portugal. Creio que temos um grande negócio para atrair potenciais clientes, alguns já estão a falar connosco. O que é muito bom.

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