Entrevista/ “Acreditamos no potencial e na capacidade das micro e pequenas empresas”

Paulo Lima, coCEO da Matoaka

“Queremos ser de facto uma solução que promova o crescimento do tecido empresarial português e a capacitação dos seus gestores”, explica  Paulo Lima, coCeo da Matoaka, uma nova empresa que também quer contribuir para potenciar o investimento e a continuidade das micro e pequenas empresas.

Este ano, a Matoaka pretende apoiar cerca de 20 micro e pequenas empresas nos seus processos de crescimento, e no segmento Transfer quer chegar ao final do ano com 50 oportunidades de negócio e 10 operações concretizadas. Recém lançada, a empresa posiciona-se “como uma tribo, um ecossistema de cooperação e potenciação de empresas”, que quer alavancar o crescimento das micro e pequenas empresas nacionais. Em suma, “pretendemos ser catalisadores de uma mudança cultural, desafiando a perceção tradicional sobre a compra e venda de empresas”, explica Paulo Lima, coCEO e um dos fundadores da Matoaka. Por agora, e no primeiro ano de atividade, o foco está no mercado nacional, mas a curto prazo também pretendem chegar a Espanha.

Como surgiu a ideia de criar a Matoaka?
A Matoaka resulta da união de dois projetos que faziam caminhos paralelos no âmbito das soluções de apoio às micro e pequenas empresas. Por um lado, a Ó Capital, grupo liderado pela Sara do Ó, que tem um forte conhecimento do tecido empresarial português, desenvolvia uma solução única de apoio acompanhado para os gestores de micro e pequenas empresas e, por outro lado, eu e o Miguel Marecos que estávamos a desenvolver uma resposta para um problema que tínhamos identificado no mercado que é a dificuldade em vender ou investir em micro e pequenas empresas.

Juntámos as valências das duas equipas e criámos a Matoaka, um ecossistema inovador que tem como principal objetivo apoiar estas empresas tão importantes no nosso tecido empresarial. Por um lado, através de uma solução que potencia o crescimento e, por outro, através de uma plataforma que permite juntar vendedores e investidores de micro e pequenas empresas.

O que faz exatamente uma empresa “dedicada a promover a cooperação e potenciação das micro e pequenas empresa, como se apresentam ao mercado”?
Acima de tudo acreditamos no potencial e na capacidade das micro e pequenas empresas. E são estas empresas que queremos valorizar, tanto através do seu desenvolvimento sustentável, potenciando o seu crescimento, como através da cooperação entre elas. Para isso criámos soluções que levam estas empresas a compreender o poder da colaboração, ou seja, que as fragilidades de uma podem ser as valências de outra e que muitas vezes podem unir forças e crescer juntos, num ecossistema de entreajuda e confiança.

“(…) não existia em Portugal uma plataforma digital que partilhasse informações fidedignas sobre as empresas que estão à venda”.

Quais os serviços/produtos que a Matoaka vai disponibilizar às empresas?
Disponibilizamos dois serviços desenhados à medida das micro e pequenas empresas, o Energize, focado no crescimento, e o Transfer, um espaço dedicado à compra e venda de micro e pequenas empresas. O Energize é um acompanhamento especializado para micro e pequenas empresas e está divido em duas fases: o Energize & Feel it e o Energize & Do it. Na primeira fase, durante dois dias, levamos o cliente e a sua equipa de gestão para uma experiência imersiva, fora da rotina do dia a dia, onde estamos 48h a pensar e a debater o seu modelo de negócio como uma equipa única. Estes dois dias resultam num relatório que é enviado ao cliente em cinco dias com uma série de ações que pode implementar para potenciar o crescimento da sua empresa. Sabemos que o caminho do líder é por vezes solitário e nem sempre é fácil implementar tudo o que tem definido para o crescimento da empresa e por isso a segunda fase é o acompanhamento próximo e permanente da nossa equipa, em que temos mesmo uma pessoa da Matoaka a acompanhar o dia a dia da gestão do negócio e a apoiar a implementação das iniciativas nas diferentes frentes.

Também focado nas micro e pequenas empresas, o Transfer é uma plataforma digital que junta vendedores e investidores. Até ao momento não existia em Portugal uma plataforma digital que partilhasse informações fidedignas sobre as empresas que estão à venda. A informação muitas vezes só é disponibilizada após um primeiro contacto. E foi esta falta de informação e de profissionalização da compra e venda de micro e pequenas empresas que nos levou a criar uma plataforma que dá acesso à informação financeira fidedigna de forma clara e estruturada, que por um lado permite aos gestores venderem a sua empresa de forma simples e ágil e, por outro, dá visibilidade ao investidor sobre as características do possível investimento.

Como vai funcionar essa plataforma de compra e venda de negócios?
O Transfer é uma plataforma inovadora no mercado que junta vendedores e investidores. Numa primeira fase o sócio da empresa pode criar de forma autónoma o anúncio da sua empresa, para isso apenas precisa dos dados de identificação da empresa e do seu cartão de cidadão. O processo é bastante simples e automático, sendo apenas necessário responder a um breve questionário que resulta num intervalo de avaliação da empresa. Após indicado o valor pretendido, o anunciante pode rever e publicar o seu anúncio. Depois de publicada a oportunidade, a intermediação é feita pela equipa da Matoaka que gere a ligação entre o comprador e o vendedor, apoia a negociação e a conclusão do negócio, e garante a veracidade da informação disponibilizada.

Qual o vosso target em termos de empresas? Micro, PME, start-ups?
Tanto no Energize como no Transfer, o nosso target são as micro e pequenas empresas. No Energize apoiamos apenas empresas com mais de três anos de histórico, com dificuldade em potenciar o seu negócio, mas que tenham essa ambição. Já no Transfer, o requisito é que as micro e pequenas empresas à venda demonstrem resultados positivos e que o valor pedido pela empresa se encontre dentro do intervalo da avaliação feita pela plataforma para evitar a especulação e garantir negócios viáveis para todos os investidores.

“Queremos ser uma solução tanto para quem quer vender o seu negócio (…) como para as pessoas que procuram a sua independência profissional (…)”.

De que forma querem ser um agente de mudança no panorama empresarial português?
Por um lado, queremos ser de facto uma solução que promova o crescimento do tecido empresarial português e a capacitação dos seus gestores. Apoiar as empresas e os seus líderes no caminho de micro a pequena e de pequena a média empresa. E, por outro lado, queremos potenciar o investimento e a continuidade das micro e pequenas empresas. Queremos ser uma solução tanto para quem quer vender o seu negócio, seja por falta de sucessão ou por se querer dedicar a outra profissão, como para as pessoas que procuram a sua independência profissional ou mesmo para os empreendedores que começam muitas vezes um negócio do zero, mas que podem começar já com um negócio estabelecido e ter à partida uma fonte de rendimento numa fase inicial do seu empreendedorismo.

“(…) o caminho do empreendedorismo por via da aquisição acarreta um menor risco, uma vez que o empreendedor inicia o projeto com uma empresa que já tem histórico (…)”.

A cultura empresarial portuguesa está preparada para a vossa oferta de produtos/serviços?
Os gestores de micro e pequenas empresas em Portugal têm a perceção de que as soluções de apoio à gestão dos negócios são muito focadas em médias e grandes empresas e que não se enquadram na capacidade financeira da sua empresa ou mesmo na literacia que as suas equipas têm. Por outro lado, estas empresas vivem com os seus gestores focados maioritariamente naquilo que é o core business da empresa, levando-os a viver os seus dias a executar tarefas operacionais e ao desfoque da gestão do negócio.

Da nossa experiência, próxima da realidade das micro e pequenas empresas, sabemos que este caminho de ter apoio externo não é muitas vezes tido em conta na rotina dos gestores pelas razões que falei anteriormente e é por isso que na Matoaka pretendemos ser um elemento “energizador” que os acompanha no dia a dia da gestão, com soluções criativas tanto no nosso modelo de atuação como de monetização, adequados à realidade e estágios de maturidade das empresas.

Na vertente do Transfer (plataforma de compra e venda de empresas), é fundamental mudarmos o paradigma. Geralmente quando vemos uma empresa à venda, o primeiro pensamento é que se está à venda é porque não é um bom negócio, mas muitas vezes não é isso que acontece. As empresas podem estar à venda porque o empresário quer seguir um novo rumo profissional, se quer dedicar a outro negócio, não tem sucessão ou quer mesmo seguir um novo caminho de vida.

Por outro lado, quando alguém quer iniciar um caminho de empreendedorismo, raramente olha para as empresas que estão à venda como uma oportunidade e inicia o desafio do zero. Mas na realidade o caminho do empreendedorismo por via da aquisição acarreta um menor risco, uma vez que o empreendedor inicia o projeto com uma empresa que já tem histórico e por norma permite iniciar um projeto que já conta com retornos da operação, que já existe e possibilita mais rapidamente a mudança de vida e o alcance da independência profissional ambicionada.

Quais as expetativas para o primeiro ano de atividade da Matoaka?
Na vertente do Energize, este ano pretendemos apoiar cerca de 20 micro e pequenas empresas nos seus processos de crescimento, e no Transfer queremos chegar ao final do ano com 50 oportunidades de negócio e 10 operações concretizadas. Atualmente somos cinco pessoas e no curto prazo pretendemos mais do que duplicar a nossa equipa.

(…) a curto prazo pretendemos chegar também a Espanha”.

O mercado nacional é o foco exclusivo da Matoaka ou as vossas ambições são geograficamente maiores?
Pelo nosso conhecimento do mercado nacional, Portugal é o nosso foco para o primeiro ano, sendo que a curto prazo pretendemos chegar também a Espanha.

“(…) gostávamos que todos os empreendedores que têm novas ideias de negócio, e mesmo pessoas com capacidade de investimento, olhassem para as micro e pequenas empresas como uma boa solução para os seus caminhos”.

O que esperam, ou gostariam, de trazer de mais-valia ao mercado empresarial português?
Acima de tudo queremos potenciar o crescimento das micro e pequenas empresas. Alavancar o seu crescimento e a capacitação dos seus líderes. Adicionalmente, pretendemos ser catalisadores de uma mudança cultural, desafiando a perceção tradicional sobre a compra e venda de empresas. Queremos que gestores e empreendedores compreendam que adquirir uma empresa já estabelecida pode ser uma estratégia menos arriscada e mais vantajosa do que começar um novo empreendimento a partir do zero.

No que diz respeito à nossa atuação, estamos empenhados em ser um apoio eficaz para micro e pequenas empresas, muitas vezes negligenciadas pelas soluções existentes no mercado. Pretendemos desmistificar a ideia de que as soluções de gestão são inacessíveis ou incompatíveis com as capacidades financeiras dessas empresas. Ao contrário, queremos ser um elemento “energizador”, proporcionando não apenas assistência prática, mas também soluções criativas adaptadas à realidade e estágio de maturidade de cada empresa. Queremos apoiar as micro e pequenas empresas a fazer o crescimento de micro para pequena e de pequena para média empresa, de forma sustentável e estruturada.

Por outro lado, gostávamos que todos os empreendedores que têm novas ideias de negócio, e mesmo pessoas com capacidade de investimento, olhassem para as micro e pequenas empresas como uma boa solução para os seus caminhos. Em resumo, a Matoaka aspira a ser uma força com impacto no panorama empresarial português, promovendo crescimento, transparência e colaboração entre as micro e pequenas empresas, enquanto desafia as perceções convencionais sobre a aquisição e venda de negócios.

O que falta para que as micro e pequenas empresas nacionais consigam fazer valer todo o seu potencial?
Do nosso ponto de vista, falta olharmos para as micro e pequenas empresas com o valor que elas realmente têm. É sempre importante relembrar que estas empresas representam 96% do tecido empresarial português e empregam mais de 40% dos trabalhadores nacionais. Mas a sigla que mais utilizamos é a de PME – pequenas e médias empresas. Enquanto não tivermos um segmento específico MPE – Micro e pequenas empresas – com políticas e medidas especificas estamos a desvalorizar o enorme contributo destas empresas para a economia nacional.

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