Opinião
A vida e a morte das empresas
Quando uma marca se confunde com o produto ou serviço, talvez tenha alcançado a eternidade. É o caso da norte-americana Tupperware, que, apesar de declarada insolvente, vai provavelmente continuar a identificar os recipientes de plástico onde guardamos os alimentos.
O mesmo acontece com a Kispo, a Gillete, a Post-it, a Chiclets, a X-Acto ou a Uber, que ganharam o estatuto de produtos ou serviços, embora sejam marcas. Uma coisa é a marca, outra bem diferente é a empresa enquanto organização que visa a obtenção de lucros com a produção de bens ou serviços. Como se vê pelo exemplo da Tupperware, o facto de uma marca ficar inscrita na memória coletiva não garante a competitividade e a sustentabilidade da empresa que a desenvolveu. As marcas podem ser imortais, mas as empresas não. Esta é a lição a reter da falência da multinacional que produzia os icónicos recipientes de plástico.
A vida das empresas é feita de ciclos e transformações, altos e baixos, venturas e desventuras. Como a vida das pessoas, no fundo. As empresas nascem, vivem e morrem. Não há empresas too big to fail, como se prova pelas derrocadas da Tupperware, mas também da Blockbuster, da Enron, da Napster, da Compaq, da Netscape, da Polaroid ou do Lehman Brothers. Nos negócios, as fórmulas mágicas para o sucesso não existem de todo. Mesmo quando se trata de projetos realmente inovadores e com grande potencial, a evolução nem sempre é linear ou isenta de contratempos. E, claro, o êxito não está garantido.
Basicamente, as empresas devem satisfazer as necessidade do consumidor, com bens ou serviços de qualidade a um preço considerado justo. Para isso, têm de produzir com eficiência esses bens ou serviços, gastando menos recursos, cortando nos desperdícios e não causando danos para a comunidade e para o ambiente. Acresce que, para serem competitivas, as empresas devem diferenciar os seus produtos no mercado, incorporando conhecimento, inovação, tecnologia, criatividade…. Por fim, exige-se às empresas que se comportem de forma ética e sejam socialmente sustentáveis, o que implica assegurar boas condições de trabalho, remunerações justas e oportunidades de carreira.
Ora, tudo isto obriga a esforço e resiliência. A atividade empresarial é comprovadamente difícil, custosa, complexa e arriscada. Muitas vezes, o negócio segue by the book, cumpre os requisitos indispensáveis ao êxito e mesmo assim não resulta.
Por isso, a ANJE tem feito do estigma do insucesso um dos seus “cavalos-de-batalha”. Importa, de facto, retirar a carga negativa que o fracasso ainda tem na atividade empresarial em Portugal. O erro, a falha, a perda ou o infortúnio fazem parte do processo evolutivo de todos nós e, por maioria de razão, dos empreendedores, que têm de tomar muitas e importantes decisões diariamente. Há, pois, que aprender a resistir a um contexto social que ainda penaliza o insucesso e a fazer do erro um fator transformador e até motivacional.
Ajudar os empreendedores portugueses a lidarem com os seus erros, a corrigirem a trajetória dos seus negócios e a continuarem a acreditar nos seus projetos é uma missão dos atores do ecossistema empreendedor, como a ANJE. São conhecidas, aliás, as dificuldades que muitas start-ups têm em atravessar o chamado “vale da morte”, período crítico no crescimento das empresas. Nessa altura, é necessário ser resiliente o suficiente para superar erros, incertezas e contrariedades e seguir em frente sem medo de falhar.
*Associação Nacional de Jovens Empresários