Entrevista/ “A qualidade de vida que as localidades do interior oferecem poderá ser um dos luxos dos próximos anos”

“O interior é um mundo por descobrir. E se atentarmos que uma elevada percentagem dos profissionais de IT é oriunda de aldeias, vilas e cidades do interior do país, conseguimos perceber que temos aqui um oceano azul para explorar”, afirma Flávio Massano, CEO da team.it, em entrevista no Link To Leaders.
Ficou conhecida desde o seu lançamento, em setembro de 2021, por ser a empresa que promete trabalho no interior, mas com salário de cidade. Seis meses depois, a team.it anuncia que fechou o ano de 2021 com 867 milhares de euros de faturação e traça previsões otimistas para 2022: expandir a sua equipa, passando dos 45 para os 80 colaboradores, e aumentar a faturação em 211% para chegar aos 2,7 milhões de euros.
Por isso, quer “continuar com a mesma filosofia que temos tido até aqui e que tem resultado na atração de novos talentos para a nossa equipa: remote work e uma estratégia de work-life balance, com grande foco no envolvimento comunitário”, revela Flávio Massano, CEO da team.it, que tem sede em Lisboa e que pertence ao grupo francês MoOngy, de Engenharia e TI, que tem 26 marcas e 700 colaboradores em 13 países.
A team.it fechou o ano de 2021 com uma faturação de 867 milhares de euros. A que se deve este resultado?
Este resultado deve-se essencialmente à dedicação e ao trabalho de todas as pessoas que, em pouco mais de meio ano, vestiram esta camisola e se alinharam, desde a primeira hora, com a missão e a visão da team.it. Quando se constrói uma equipa é essencial perceber o perfil pessoal dos que se vão somando ao projeto. Na team.it, o critério principal era justamente o alinhamento do perfil pessoal com a estratégia definida para o projeto tecnológico e social que ambicionámos. Garantido esse “fit” cultural, a fluência do trabalho surgiu com naturalidade e esse foi sem dúvida o principal ingrediente para o sucesso destes primeiros meses de atividade.
Que balanço faz destes seis meses de atividade?
O balanço é muito positivo, principalmente pelas pessoas que conseguimos cativar e trazer para a empresa. Há uma comunhão de valores muito especial entre as pessoas que compõem a team.it, pelo que essa é a nossa grande vitória. Os resultados são o reflexo da nossa ousadia e ambição e da disrupção que causámos neste mercado com a ideia de dar significado ao dia a dia dos nossos colaboradores. O envolvimento comunitário que preconizámos e a procura do regresso às origens idealizada trouxeram-nos muitas pessoas que se identificaram com o nosso posicionamento.
Quais têm sido os grandes desafios da team.it? Se pudesse o que teria feito de diferente?
Eu diria que todos os desafios têm sido grandes. Começar uma empresa e construir uma equipa do zero nunca é uma missão linear e na team.it, apesar dos resultados nos deixarem orgulhosos, não significa que não tenhamos lidado com muitas dificuldades e situações que exigiram uma enorme capacidade de adaptação e flexibilidade mental.
Atualmente, neste mercado, há problemas novos a cada instante e o facto de lidarmos cada vez mais com cidadãos do mundo exige da nossa parte uma resposta que vai muito para além da simples oferta de uma oportunidade profissional. Dito isto, diria que não faria nada de diferente porque costumo dizer que nunca há dois caminhos iguais. A capacidade que temos em dar respostas diferentes perante situações aparentemente idênticas é o que nos confere aquilo que considero ser uma vantagem competitiva.
“A team.it é uma equipa dedicada, sobretudo, ao talento que contrata e que procura reter, através de um forte compromisso com o crescimento de carreira dos seus colaboradores”.
Que serviços disponibilizam atualmente e qual o mais requisitado?
A team.it é uma equipa dedicada, sobretudo, ao talento que contrata e que procura reter, através de um forte compromisso com o crescimento de carreira dos seus colaboradores. Por essa razão, e respondendo a este apelo interno (consultores), mas também do mercado externo (parceiros), segmentamos a nossa oferta em três vértices de negócio: Outsourcing Services; Team as s Service e Team as a Project.
Atualmente o serviço mais requisitado recai sobre a nossa área de Outsourcing Services, visto que apresentámos a empresa ao mercado em setembro do ano 2021. E como somos uma equipa de pessoas para pessoas, os clientes que acreditaram nas nossas pessoas sabiam que a nossa área de intervenção core é de facto a consultoria de serviços especializados em sistemas de informação em regime de Outsourcing.
Naturalmente, com o forte crescimento inicial e com a perspetiva de abrirmos novos clientes e mercados, já estamos também a posicionar-nos à data de hoje num segmento que vai além do time&means, para estarmos nas outras duas áreas igualmente: Team as a Service e Team as a Project. Dentro do core de Outsourcing Services, o nosso expertise técnico está, sobretudo, vocacionado para sistemas de informação em temas como: Software Engineering, Cloud&Devops, BigData, Quality&Assurance, Project Management.
Como caracteriza o vosso tipo de cliente?
Conseguimos nestes primeiros meses crescer muito em vários clientes, mesmo sendo uma empresa nova e que aparece já em meados de 2021. Isso deveu-se à tal equipa que construímos e que, na minha opinião, conseguiu ter as pessoas certas nos lugares certos. Nada foi por acaso e a seleção e integração de pessoas foi muito rigorosa na questão do fit cultural e pessoal. Quando assim é, penso que se torna mais simples fazer chegar a mensagem aos nossos parceiros, porque o alinhamento é total e as pessoas confiam e acreditam convictamente no serviço que estão a prestar.
A fixação de quadros superiores no interior do país continua a ser a missão da team.it?
É a nossa missão. A team.it tem uma estratégia de corporativismo sustentável, que se baseia em três pilares-base: work-life balance, trabalho remoto e envolvimento comunitário. A fixação de quadros superiores no interior acaba por relacionar-se de certa forma com todos esses princípios dos quais não abdicamos. Queremos fixar pessoas nesses territórios, porque estamos a falar de territórios autênticos e de pessoas genuínas, com riquezas naturais e culturais que não podem ser desconsideradas na equação da qualidade de vida que procuramos para as nossas pessoas e para a nossa equipa.
Como fomentam a possibilidade de profissionais de tecnologia poderem exercer a sua profissão a partir de regiões que tenham melhor custo de vida, com vencimentos iguais aos do resto do país?
Se há premissa que a pandemia nos confirmou foi que o remote work funciona. As barreiras geográficas, que tantas vezes dificultavam processos de recrutamento, começam a cair porque as empresas já percebem quais as vantagens que este modelo de trabalho traz para a sua competitividade.
A team.it é remote first desde a sua génese e, por esse motivo, não acreditamos em distinções salariais entre diferentes regiões do país. Os salários-base que são pagos a quem trabalha a partir dos nossos escritórios, em Lisboa, são os mesmos que são pagos a quem esteja, por exemplo, no Fundão, em Castelo Branco ou em Manteigas.
“Eu acredito que as novas gerações não encaram as grandes cidades como a única – nem sequer a principal – solução para o desenvolvimento das suas carreiras e vidas pessoais”.
Considera que há cada vez mais pessoas a mudarem-se para o interior do país?
O interior é um mundo por descobrir. E se atentarmos que uma elevada percentagem dos profissionais de IT é oriunda de aldeias, vilas e cidades do interior do país, conseguimos perceber que temos aqui um oceano azul para explorar. Eu acredito que as novas gerações não encaram as grandes cidades como a única – nem sequer a principal – solução para o desenvolvimento das suas carreiras e vidas pessoais. A qualidade de vida que as localidades do interior oferecem poderá ser um dos luxos dos próximos anos.
Basta recordar que, por causa da pandemia, a vida nas grandes cidades foi posta em causa e que o interior cresceu como há muito não se verificava. A team.it acredita que está no caminho certo e que a nossa aposta na descentralização do mercado de trabalho veio para ficar.
A empresa vai continuar o seu processo de recrutamento de talentos? Qual a estratégia?
Iremos continuar com a mesma filosofia que temos tido até aqui e que tem resultado na atração de novos talentos para a nossa equipa: remote work e uma estratégia de work-life balance, com grande foco no envolvimento comunitário. Queremos que os nossos colaboradores preservem o seu bem-estar e que o trabalho não seja um impeditivo para a sua felicidade. A decisão de poderem trabalhar a partir de onde mais desejarem e de conseguirem gerir o tempo de uma forma saudável motiva os colaboradores a fazerem parte desta equipa.
As empresas portuguesas estão atentas ao bem-estar e desenvolvimento pessoal e profissional dos seus colaboradores? O que ainda falta fazer?
Há muito tempo que estes temas estão em cima da mesa, mas também não podemos ignorar que se reagiu sempre ao invés de agir preventivamente. Hoje em dia na team.it a saúde, o bem-estar emocional e psicológico das nossas pessoas e o seu desenvolvimento profissional são sem dúvida alguma das nossas principais preocupações e onde temos vindo a investir cada vez mais.
Quais as vantagens de pertencerem ao grupo francês MoOngy?
Pertencer a um grupo com esta dimensão dá-nos bagagem, algum conforto, mas também nos traz uma enorme responsabilidade, uma vez que estamos a falar de um grupo que em Portugal tem várias marcas que têm trilhado um caminho de grande sucesso e que nós não queremos defraudar.
“Neste ano queremos aumentar a faturação em cerca de 200% e atingir os 2,7 milhões de euros. Queremos ainda continuar a expandir a equipa e chegar aos 80 colaboradores”.
Quais são os objetivos da empresa para este ano? E quais as previsões de faturação?
Tivemos um excelente arranque, alicerçado nos tais primeiros seis meses de atividade em 2021. Os resultados desse crescimento estão a fazer-se sentir no início deste ano e estamos, até ao momento, a superar os objetivos que tínhamos definido.
Neste ano queremos aumentar a faturação em cerca de 200% e atingir os 2,7 milhões de euros. Queremos ainda continuar a expandir a equipa e chegar aos 80 colaboradores. São perspetivas ambiciosas, mas perfeitamente alcançáveis, tendo em conta a nossa progressão e a posição que temos vindo a consolidar no mercado”.
Como vê a team.it dentro de dois anos?
Vejo a team.it como uma empresa de confiança, robusta, que trilhou um caminho próprio e que conseguiu atrair os talentos que se identificam com a nossa visão e posicionamento estratégico. Vejo, no fundo, a team.it como uma empresa de pessoas felizes.
Projetos para o futuro…
Temos vários projetos para o futuro, mas ainda estamos numa fase em que o mais importante passa por consolidar os primeiros passos que demos em 2021. É nisso que estamos totalmente concentrados.
Quando lançou a team.it referiu que queria abrir espaços de cowork/escritórios no sentido de serem centros de partilha com as comunidades locais. Este objetivo mantém-se? Como pensa concretizá-lo?
Este objetivo mantém-se e em breve teremos novidades sobre o assunto. A própria equipa está mobilizada para poder ir ao encontro desses locais, onde já temos pessoas a trabalhar remotamente e onde pretendemos ir e ficar durante o período que nos apetecer, e aí estabelecer contactos com as referidas comunidades locais.
Respostas rápidas:
O maior risco: Iniciar uma empresa em 2021, em plena pandemia, e ainda sem saber qual o desfecho da mesma, não foi uma decisão fácil, mas acreditámos que tínhamos capacidade para arriscar.
O maior erro: Cometemos vários erros pelo caminho, mas garantidamente foram em muito menor número do que as decisões acertadas que tomámos.
A maior lição: A maior lição é a de que para liderar um projeto de sucesso é fundamental ter líderes de sucesso em todas as áreas e departamentos da empresa.
A maior conquista: O grupo de pessoas que se juntou ao projeto foi sem dúvida alguma a nossa maior conquista.