Opinião

Trabalho e família: o desafio dos nossos dias

Rosa Rodrigues, docente ISG*

O trabalho e a família constituem os dois principais domínios da vida das pessoas economicamente ativas, mas quando as duas instâncias não são compatíveis, podem dar origem ao conflito trabalho-família.

Durante vários anos, recorreu-se à diferença de género para definir os papéis desempenhados por cada um dos membros do casal: a mulher estava maioritariamente ligada à família, à qual dedicava a maior parte do seu tempo, enquanto o homem tinha a função de sustentar financeiramente a família e trabalhar na e para a comunidade.

Com a entrada da mulher no mundo do trabalho, o envolvimento do homem na vida familiar e o número crescente de famílias monoparentais, o tradicional conceito de família foi-se alterando. Atualmente, as pessoas deparam-se com o desafio diário de conciliar o contexto profissional com a vida familiar, sendo neste âmbito que surge o conflito trabalho-família.

Este tipo de conflito ocorre quando as exigências e as expetativas existentes em cada uma das esferas não são satisfeitas, seja devido ao tempo dedicado, à tensão e/ou aos comportamentos específicos exigidos em cada uma delas.

O conflito baseado no tempo, manifesta-se quando a quantidade de tempo dedicada a um domínio dificulta ou impossibilita a execução das tarefas do outro. Este é o tipo de conflito mais comum e pode assumir duas formas distintas. Por um lado, uma tarefa profissional pode tornar fisicamente impossível o cumprimento de uma tarefa familiar (e.g., reunião de pais e reunião com um cliente à mesma hora); e por outro, pode impedir que as exigências das tarefas de um papel não sejam cumpridas devido à preocupação com o facto de não estar a cumprir o outro papel.

A segunda fonte de conflito, prende-se com a tensão associada ao exercício concomitante de papéis. Esta pressão provoca elevados níveis de insatisfação que advêm do cansaço e do stress subjacentes a um primeiro domínio (e.g., excesso de trabalho, viagens de negócios) que, por sua vez, dificultam a eficiência das respostas exigidas pelo outro papel (e.g., ajudar os filhos a fazer as tarefas escolares) e provocam exaustão emocional, porque mais de um implica menos do outro.

Por último, o conflito ancorado no comportamento, surge quando os padrões comportamentais específicos dos vários papéis desempenhados são incompatíveis e o indivíduo sente dificuldade de adaptar o seu comportamento às exigências dos mesmos. Verifica-se principalmente quando o progenitor assume uma postura rígida e imparcial, em contexto laboral e tem dificuldade em alterar esse comportamento quando está com os filhos (e.g., guarda prisional).

Não obstante, os papéis pré-definidos vão-se misturando e dão origem a um equilíbrio entre a vida familiar e profissional, porque a linha que separa os dois domínios é cada vez mais ténue. Para tal muito têm contribuído as políticas implementadas pelas organizações, nomeadamente:

  • Flexibilização do tempo e das formas de trabalho, que permitem aos colaboradores gerir o seu horário, sem que seja necessário reduzir a jornada de trabalho (e.g., horários flexíveis, teletrabalho);
  • Criação de serviços de apoio às crianças, que facilitam a gestão das rotinas diárias de cuidados dos filhos (e.g., compra de material escolar, programação educacional);
  • Licenças e outras medidas de apoio, que possibilitam a redução das horas de trabalho para que o colaborador possa ter tempo para prestar assistência à família (e.g., programas de apoio a crianças e idosos).

Ao tornarem-se mais flexíveis, menos hierarquizadas e mais dinâmicas, as organizações contribuem para aumentar o compromisso dos seus colaboradores e para diminuir as suas intenções de turnover e, consequentemente, reduzir os custos inerentes a novos processos de recrutamento, seleção, acolhimento e formação.

*Instituto Superior de Gestão

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