Entrevista/ “A Academia tem de se aproximar mais dos decisores políticos e da sociedade em geral”

Luís Cabral, diretor académico do Nova SBE Public Policy Institute

“A produtividade de um país é o principal fator determinante dos níveis de vida dos seus cidadãos”, alerta Luís Cabral, diretor académico do Nova SBE Public Policy Institute, e responsável pelo recém criado Laboratório de Produtividade.

O Laboratório de Produtividade, o mais recente projeto do recém-criado Instituto de Políticas Públicas da Nova SBE, com o apoio da Fundação Haddad, quer destacar-se pela produção de investigação que seja capaz de originar propostas concretas de políticas públicas de implementação célere para melhorar a produtividade em Portugal. As suas áreas de estudo incluirão as determinantes da produtividade empresarial e laboral em Portugal e comparação internacional; a realocação de recursos entre organizações como motor de aumento de produtividade; a produtividade no setor público; o papel da educação e formação no aumento da produtividade do trabalho.

Em entrevista ao Link To Leaders, Luís Cabral, diretor académico do Nova SBE Public Policy Institute, destaca a produtividade como o “principal fator determinante dos níveis de vida dos seus cidadãos”, e lembra que “temos os recursos, nomeadamente os recursos humanos. Podemos e devemos fazer mais com o que temos”. Salienta ainda a necessidade da “Academia tem de se aproximar mais dos decisores políticos e da sociedade em geral”.

O que é que este novo projeto do Instituto de Políticas Públicas da Nova SBE quer fazer pela produtividade nacional e pela melhoria do nível de vida dos cidadãos?

O Haddad Productivity Lab do Instituto de Políticas Públicas pretende atacar a problemática da produtividade, indo para além do diagnóstico (de que Portugal não está bem nesta área), através de uma análise rigorosa sobre as causas do problema e um conjunto de propostas concretas que as possam combater ou minimizar.

Qual vai ser o foco exato de atuação do Laboratório? Áreas de estudo?

Um aspecto importante da nossa ação é o enfoque na investigação acionável – isto é, estudos que, em última análise, conduzam a propostas concretas para a melhoria da produtividade em Portugal. O nosso KPI (Key Performance Indicator) é “mover a agulha” das políticas pública, no bom sentido, claro.

Quais as iniciativas prioritárias nesta fase de arranque?

Lançaremos uma call for proposals que, esperamos, nos leve a alguns estudos específicos sobre temas de produtividade. Vamos organizar também um workshop com o objetivo de chegar a um conjunto muito concreto de outras propostas. Haverá também, ainda, lugar para alguns seminários de investigação sobre temas de produtividade, nos quais teremos investigadores internacionais a apresentar os seus trabalhos sobre o tema.

Como esperam mobilizar os diferentes stakeholders do mercado para a “causa” da produtividade?

A produtividade de um país é o principal fator determinante dos níveis de vida dos seus cidadãos. Países com empresas e trabalhadores produtivos são países em que se praticam remunerações elevadas, boas condições de trabalho e serviços públicos alargados.
Ao conseguirem produzir mais com os mesmos recursos, os países mais produtivos criam condições para o aumento do poder de compra e a redução do tempo de trabalho, entre várias outras vantagens privadas, públicas e sociais. Quando se veem as coisas desta perspetiva, é fácil mobilizar os stakeholders para a causa.

“A falta de ligação com a sociedade em geral deve-se também à cultura académica (…)”

Como vê o papel e a relação da Academia com a sociedade, com os agentes económicos, com a inovação e desenvolvimento nacionais?

A Academia tem de se aproximar mais dos decisores políticos e da sociedade em geral. A falta de ligação com os primeiros deve-se em parte à diferença de ritmo entre a Academia (onde o tempo se mede em anos) e o mundo da política (onde o tempo se mede em semanas ou meses). Cabe à Academia — e ao Laboratório de Produtividade em particular — ajustar-se ao ritmo dos decisores políticos.
A falta de ligação com a sociedade em geral deve-se também à cultura académica: uma cultura fechada, com linguagem própria, etc. Também aqui o laboratório tem muito a fazer, começando por explicar de forma acessível o que é a produtividade, por que motivo é importante, e como pode ser melhorada.

Quais as expectativas de médio prazo para o desenvolvimento do Laboratório de Produtividade? 

Um grupo de académicos — uns professores na Nova SBE, outros associados ao Laboratório — que desenvolvem trabalho que será não só cientificamente rigoroso, mas também de relevo prático para a tomada de decisão política.

O que falta em Portugal para tornar as empresas e trabalhadores mais produtivos, considerando que em 2019, os indicadores colocavam produtividade nacional na 22.ª posição na UE?

Já foram feitos vários estudos sobre a produtividade em Portugal. Estes estudos indicam diferentes motivos para os baixos níveis de produtividade: a informalidade da economia, as leis laborais, os

processos de licenciamento — os custos de contexto, no fundo, de forma mais geral.
Um dos nossos objetivos é obter melhores estimativas do peso relativo de cada um destes “canais” e propor políticas públicas concretas para resolver os problemas que limitam o crescimento da produtividade.

“(…) que falta é um grande aumento dos níveis de produtividade.”

Afirmou recentemente que “Portugal tem condições para ser uma economia de alto nível, mas não é”. O que está a faltar para se chegar a esse patamar?

Em grande parte, o que falta é um grande aumento dos níveis de produtividade. Temos os recursos, nomeadamente os recursos humanos. Podemos e devemos fazer mais com o que temos.

Como gostaria de ver o Laboratório da Produtividade daqui a cinco anos? 

Com cinco anos de influência positiva nas políticas públicas em Portugal.

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