Opinião

Inteligência Artificial cada vez mais Real

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

A evolução da inteligência artificial tem permitido que um conjunto de marcas e empresas ajustem novas possibilidades de utilizar estratégias baseadas em dados para fidelizar os seus clientes, de uma forma cada vez mais customizada.

Neste sentido, a inteligência artificial deve contribuir para que a experiência do cliente seja, não só positiva, como superior aquela que resulta da sua ausência. E quando os algoritmos vão trabalhando na observação dos padrões de comportamento dos seus consumidores e das suas tarefas rotineiras, então operam no desenvolvimento de funções capazes de otimizar diversas técnicas: robótica, onde podemos encontrar a reconhecimento da tecnologia em função do ambiente rotineiro em que está situado, machine learning, em que a máquina aprende a tomar decisões pelos seus clientes ou PNL, nos casos em que a tecnologia reconhece, interpreta e executa aquilo que provém da linguagem escrita e áudio.

Até há bem pouco tempo, a componente humana foi a pedra basilar do desenho das operações a executar. Mas já entrámos na era do algoritmo que vai aprendendo com o próprio algoritmo. Daqui decorre que o seu potencial de desenvolvimento é ilimitado e a curva da sua progressão se tornará geométrica.

Já hoje vemos o algoritmo a terminar frases que vamos escrevendo ou a sugerir uma melodia para uma determinada composição de texto, jogar xadrez ou resolver problemas tremendamente complexos. Afinal, tudo aquilo que um ser humano faria, mas que agora pode ser ajudado e ainda com mais perfeição pelo contributo da inteligência artificial.

Coma base neste potencial, as grandes marcas não estão desatentas e pretendem ganhar protagonismo global em toda a sua plenitude. É assim que a Amazon, Google, Facebook, IBM e Microsoft, são os fundadores da Partnership on AI, uma organização que tem como missão reunir diversos contributos em setores, disciplinas e demografia globais para que os desenvolvimentos provenientes da inteligência artificial se concretizem em benefícios para as pessoas e sociedade.

Vejamos o caso particular da Google, que depois de ter investido em acessórios virtuais (relógio e óculos), pretende agora corporizar a liderança da inteligência artificial em muitas áreas de negócio. Já o tinha feito no passado (2014) com a DeepMind, que entre muitas facetas gerou o Alphazero, o programa de xadrez imbatível e em 2019 descobriu como dominar os videogamers. Acrescente-se que o enorme investimento realizado desde a sua compra, só obteve retorno positivo em 2020.

Para se compreender a extensão das suas ambições, a Google está decidida a liderar a inteligência artificial na área da saúde e a investir, de forma nunca antes vista, na longevidade humana. Par tal criou a Alphafold e a Isomorphic Labs: a primeira persegue o objetivo de prever a composição das proteínas em estruturas complexas; já a segunda tem a missão de imaginar, através da inteligência artificial, todo o processo de descoberta de medicamentos desde os primeiros princípios e modelar alguns mecanismos fundamentais da vida. No prosseguimento desse desígnio, já estabeleceu uma parceria com a L’Oreal para melhor entender como se desenvolve o envelhecimento da pele, por forma a encontrar soluções eficazes.

Este exemplo diz-nos que a fase a que estamos a chegar projeta-nos para uma nova forma de criatividade e inovação, assente na inteligência não-humana, o que pode pressupor em alguns casos a quebra de regras de construção mental. E tem tendência para se focalizar nos modelos da fundação do conhecimento sobre qualquer matéria.

A inteligência artificial tem imensa amplitude para crescer e é permanentemente adaptável. Mas esta promessa de benefícios em toda a linha enfrenta uma desconfiança, também ela crescente, pelos medos que gera nas suas infinitas capacidades e por duas razões: a concentração do poder em poucas empresas e países, a par da possibilidade de alguma da sua modelização futura estar programada para destruir ou ser demasiado intrusiva.

No dia em que, segundo a perceção dos clientes, a inteligência artificial se confundir com a realidade, teremos modelos de negócios, propostas de valor e formas de comunicar muito diferentes. As empresas que não o fizerem tornar-se-ão artificiais.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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