Opinião
ESG é uma lente relevante, mas limitada
Mais do que apenas investir em empresas com boas práticas ambientais, sociais e de governação (ESG), o capital de risco pode — e deve — assumir um papel ativo na condução das transições sustentáveis.
Ao direcionar capital e apoio estratégico para empresas com potencial de melhoria, mesmo que ainda não sejam líderes nestas áreas, os investidores podem contribuir de forma mais significativa para a transformação sistémica.
O ESG é uma lente relevante, mas limitada. A avaliação de empresas com base em critérios ambientais, sociais e de governação (ESG investing) tornou-se prática corrente na gestão de portefólios, funcionando como uma lente para identificar riscos materiais e oportunidades de criação de valor a longo prazo.
Esta abordagem resulta frequentemente na exclusão de investimentos em empresas que não apresentam métricas ESG favoráveis – é, aliás, uma forma racional de mitigar riscos reputacionais e financeiros. Contudo, esta prática restringe o universo de investimento, limitando a capacidade do capital para influenciar mudanças profundas, em particular nas empresas que mais precisariam de operar tais mudanças.
Ao privilegiar apenas empresas já alinhadas com boas práticas ESG, o investimento reforça trajetórias que poderiam até prevalecer mesmo sem esse apoio, reduzindo assim o potencial transformacional. Além disso, a avaliação comparativa entre empresas — que mede apenas quem está melhor classificado num determinado momento — não capta o potencial real de melhoria, nem a dinâmica de transformação possível.
É por isso que faz sentido desafiar os investidores a considerar estratégias que combinem a seleção de bons desempenhos, com o apoio a empresas com espaço para transição – o chamado impact investing. Direcionar investimento para empresas que enfrentam desafios significativos nas suas práticas ambientais, sociais ou de governação permite desbloquear melhorias que dificilmente ocorreriam sem esse apoio. O ponto central é a adicionalidade: o que efetivamente muda graças ao investimento, e não apenas o que já existia.
Muitas empresas com indicadores ESG menos desenvolvidos enfrentam custos de capital mais elevados, dificuldades de acesso a financiamento e maior aversão do mercado. Em contrapartida, com o apoio certo, estas empresas podem assumir trajetórias de transição mais ambiciosas, gerando impacto real que, de outro modo, seria marginal ou inexistente.
Os investidores já deram conta desta oportunidade. O mercado de impact investing tem crescido de forma consistente. Segundo o estudo Sizing the Impact Investing Market 2024 da GIIN (Global Impact Investing Network), os ativos sob gestão (AuMs) dedicados a este tipo de investimento têm aumentado a uma taxa anual composta (CAGR) de 21% desde 2022. O número de organizações envolvidas subiu para 3.907, com as gestoras de investimento e os fundos de pensões a gerir 56% desses AuMs. A regulação europeia SFDR tem sido crucial ao exigir maior transparência e incentivar o direcionamento de capital para soluções sustentáveis, consolidando o investimento de impacto como uma estratégia cada vez mais sólida e institucionalizada.
O ponto central é que o capital de risco, ao atuar em fases precoces e influenciar diretamente os modelos de negócio, está bem posicionado para apoiar trajetórias de crescimento sustentável. Se usado com intencionalidade, pode de facto acelerar soluções inovadoras e moldar decisões estratégicas desde o início.
Para tal, exige-se proximidade com os empreendedores e envolvimento ativo, indo além do simples aporte financeiro para apoiar a implementação de práticas sustentáveis e a medição do impacto – o que, por si só, já é um desafio.
Isabel Rodrigues é associada na Iberis Capital, sociedade portuguesa de capital de risco, onde integra a equipa de investimento desde 2019. Participa em todo o ciclo de investimento, desde o sourcing à execução, acompanhamento e saída dos investimentos. Concluiu um MBA no INSEAD, em Fontainebleau e Singapura, onde foi responsável pelos eventos e comunicação do Insead Student Impact Fund. Tem um mestrado em Banking and Finance pela Universidade de St. Gallen (Suíça) e uma licenciatura em Economia pela Católica Porto Business School, onde foi distinguida com os prémios Jacinto Nunes e Novo Banco. Atualmente, faz também parte da direção do Investors Portugal.








