Entrevista/ “O mercado usa a tecnologia para acelerar processos e nós usamos para aproximar pessoas”

Patrícia Santos, chairwoman da Zome

“O nosso plano para este ano inclui a abertura de 20 novos HUB e a contratação de até 750 novos talentos, impulsionando a nossa expansão e garantindo equipas altamente qualificadas. Além disso, prevemos ultrapassar os 60 milhões de euros em faturação e consolidar a nossa liderança no mercado”, revela Patrícia Santos, chairwoman da Zome.

A chairwoman da Zome foi recentemente galardoada com o Prémio Mulher do Ano, nos Women 3.0 Awards, que visam reconhecer e celebrar mulheres excecionais que demonstram liderança e um impacto significativo na economia e no desenvolvimento económico de Portugal.

Em entrevista ao Link to Leaders, Patrícia Santos fala deste reconhecimento, mas também do que tem contribuído para o crescimento da mediadora imobiliária que encerrou 2024 com um volume de negócios na ordem dos 1.804 milhões de euros, ou seja, um aumento de 46,5% face ao período homólogo de 2023. Mas também dos planos da Zome para este ano que passam pela abertura de 20 novas unidades de negócio e pela contratação de 500 novos profissionais.

A cofundadora da Zome durante 5 anos desempenhou a função e CEO. Em 2024 assumiu a presidência da empresa, embora continue ativamente envolvida com as áreas de Leadership e de desenvolvimento pessoal não só dentro da Zome, mas também noutras associações e entidades das quais faz parte, como a Wire – Women in Real Estate, a G100: Women Leaders e o Programa Nova SBE VOICE Leadership.

Quem é a Patrícia Santos?

Sou movida pela vontade insaciável de aprender, crescer e desafiar o impossível. Desde cedo, percebi que a vida não se trata apenas de alcançar objetivos, mas de superar limites: os meus e os de quem me rodeia. Nunca aceitei que algo fosse “impossível” sem primeiro testar todas as formas de o tornar possível. E, na maioria das vezes, consigo.

Sou mãe de duas filhas incríveis e casada há mais de 24 anos. A minha família é o meu maior pilar e o meu terreno de aprendizagem diária. Aprendi que liderar é amar, negociar, ceder e, acima de tudo, inspirar. Gerir uma casa cheia de personalidades fortes não é tão diferente de gerir uma empresa, ambos exigem resiliência, visão e um compromisso inabalável com o crescimento. Foi essa paixão pelo desafio que me levou a transformar a indústria imobiliária, cofundando a Zome. Mas, mais do que criar negócios de sucesso, o que realmente me move é ajudar pessoas a desbloquearem o seu verdadeiro potencial. E faço-o com a mesma intensidade com que vivo tudo na vida: com energia, proximidade e um entusiasmo contagiante.

Acredito que o conhecimento só tem valor quando é partilhado. Como líder, mentora e autora de Influence & Impact, gosto de desafiar quem me rodeia a sonhar maior, a pensar diferente e a nunca aceitar menos do que aquilo que realmente são capazes de alcançar. Porque sei que ninguém chega longe sozinho – e que o verdadeiro impacto não está no que fazemos, mas em quem somos enquanto o fazemos.

Foi recentemente galardoada com o Prémio Mulher do Ano, nos Women 3.0 Awards. O que significou para si este reconhecimento?

Este reconhecimento tem um enorme significado para mim, porque nenhum feito extraordinário se alcança sozinha. Os maiores sonhos tornam-se realidade quando nos desafiamos, nos apoiamos e, juntos, construímos algo maior do que nós mesmos. Este prémio não é apenas meu, é de todos os que, ao longo da minha jornada, acreditaram, desafiaram, apoiaram e caminharam comigo. É das pessoas que me estenderam a mão nos momentos certos, das que me incentivaram a sonhar maior, mas também daquelas que colocaram obstáculos no meu caminho e tornaram tudo mais difícil. Porque foram esses desafios que me obrigaram a crescer, a tornar-me mais forte e mais resiliente.

Este prémio pertence a todos os que fazem acontecer. A todas as mulheres e homens que, com coragem e determinação, constroem um mundo mais colaborativo, onde juntos erguemos pontes em vez de muros. Que esta conquista inspire mais pessoas a acreditarem no poder do coletivo e a fazerem a diferença. Porque são os desafios que nos moldam, mas é juntos que transformamos sonhos em realidade.

“A chave do sucesso da Zome está na forma como combinamos tecnologia com pessoas para criar um impacto real”.

Qual é a chave para o sucesso da Zome?

A chave do sucesso da Zome está na forma como combinamos tecnologia com pessoas para criar um impacto real. Aqui, não se trata apenas de vender casas, trata-se de mudar vidas, simplificando processos e elevando experiências. A nossa vantagem competitiva nasce da fusão entre inovação, conhecimento e cultura: um modelo de negócio desenhado para ser ágil, eficiente e centrado no essencial: o fator humano.

A tecnologia sozinha não é suficiente. O que realmente faz a diferença é a forma como a utilizamos para potenciar o talento e melhorar a experiência de todos: consultores, parceiros e clientes. Automatizamos o que pode ser simplificado, documentamos processos para garantir consistência e cultivamos um ambiente onde o conhecimento e a partilha são a base do crescimento. Mas o que realmente nos diferencia? Aquilo que não pode ser copiado: a nossa cultura, o nosso know-how e o compromisso diário com a excelência.

O mercado usa a tecnologia para acelerar processos e nós usamos para aproximar pessoas. Na Zome, acreditamos que comprar ou vender uma casa não é apenas um negócio, é uma experiência de vida e cada detalhe importa. Quando um cliente nos procura, não encontra apenas uma imobiliária, encontra alguém que o escuta, que entende as suas necessidades e que o acompanha em cada passo do caminho. É essa conexão autêntica, construída com confiança e proximidade, que transforma uma simples transação numa relação duradoura. No fim, mais do que uma marca, queremos ser uma referência para quem procura um serviço transparente, humano e inovador.

A chave do nosso sucesso não está apenas no que fazemos, mas na forma como o fazemos: unindo tecnologia e pessoas com propósito. Porque mudar vidas não é sobre processos, é sobre impacto. E é isso que nos move, todos os dias. Juntos!

Que balanço fazem destes 5 anos de atividade?

Cinco anos podem parecer pouco tempo, mas para nós representam uma transformação profunda no mercado imobiliário. A Zome nasceu em 2019 com uma visão ousada: revolucionar o setor, tornando-o mais transparente, eficiente e humano. Sabíamos que para criar algo verdadeiramente inovador, tínhamos de investir onde realmente importa: na tecnologia que simplifica, na formação que empodera e numa cultura que une. Desde o início, apostámos num modelo de negócio que alia processos bem estruturados a ferramentas digitais de ponta, permitindo que os nossos consultores trabalhem melhor, alcancem mais e, acima de tudo, ofereçam uma experiência diferenciadora aos clientes.

Em apenas cinco anos, consolidámos a nossa posição como uma das maiores redes imobiliárias do país, ultrapassando marcos que muitos consideravam inatingíveis. Mas o que nos orgulha verdadeiramente não são apenas os números, é o impacto que criamos. Construímos uma equipa forte, motivada e comprometida, onde cada pessoa sabe que faz parte de algo maior.

Fomos reconhecidos como uma das Melhores Empresas para Trabalhar, um reflexo do nosso compromisso com a cultura organizacional e o crescimento dos nossos colaboradores. Além disso, marcámos um passo inédito no setor ao realizar a primeira escritura pública de uma casa em criptomoedas na Europa, abrindo novas oportunidades e trazendo mais flexibilidade para os clientes. Esta inovação, aliada ao lançamento do Hub no Metaverso e à criação da plataforma Zome Now, valeu-nos o Prémio Nacional de Inovação Web3 e Inovação na Mediação. Mas mais do que prémios, o impacto é real: hoje, os nossos clientes podem reservar a sua casa e formalizar o contrato de promessa de compra e venda de forma 100% digital, no momento que lhes for mais conveniente. Parece incrível, mas já realizámos centenas de reservas de imóveis entre a uma e as cinco da manhã, porque inovação não é apenas tecnologia, é liberdade para decidir no tempo certo.

Hoje, com mais de 40 milhões de euros de faturação, colaboram com a Zome mais de 1.900 pessoas, repartidas por 48 hubs imobiliários.

“Empreender no setor imobiliário exige mais do que uma marca forte, exige estratégia, suporte e inovação contínua”.

O que distingue a Zome dos restantes franchising existentes no mercado?

A Zome não é apenas um franchising imobiliário, é um modelo de negócio desenhado para maximizar o crescimento e o sucesso dos seus parceiros. A nossa abordagem assenta num equilíbrio essencial: processos estruturados, tecnologia avançada e uma cultura forte centrada nas pessoas.

Empreender no setor imobiliário exige mais do que uma marca forte, exige estratégia, suporte e inovação contínua. Na Zome, garantimos que os nossos franchisados têm acesso a um modelo de negócio bem documentado, apoiado por tecnologia by design, que simplifica operações e melhora a eficiência. Ao mesmo tempo, proporcionamos acompanhamento estratégico contínuo, ferramentas tecnológicas exclusivas e uma comunidade empresarial colaborativa. O resultado? Maior solidez, maior eficiência e uma rede preparada para liderar no mercado.

Qual o apoio que disponibilizam?

Os nossos consultores contam com formação especializada e tecnologia desenvolvida à medida, que automatiza processos, liberta tempo e permite que se concentrem no que realmente importa: criar relações sólidas e fechar negócios com confiança. Aqui, a tecnologia não substitui as pessoas: potencia-as. Mas o que realmente diferencia a Zome é a fusão entre inovação, conhecimento e uma cultura que não pode ser copiada. Enquanto outras empresas utilizam tecnologia apenas para ganhar eficiência, nós usamo-la para criar conexões autênticas, fortalecer equipas e proporcionar experiências verdadeiramente diferenciadoras.

Na Zome, acreditamos que as empresas são as pessoas e só crescem quando as pessoas evoluem. Pequenas ações diárias, consistentes, geram um compromisso com a excelência, criam equipas mais fortes e impulsionam resultados a longo prazo. Não se trata apenas de gerir um negócio, trata-se de liderar uma transformação no setor.

Para quem procura um franchising que alia estratégia, inovação e crescimento sustentável, a Zome é a resposta. Aqui, criamos valor. Aqui, crescemos juntos.

“2025 será um ano de crescimento ambicioso e estratégico. Vamos expandir a nossa presença, fortalecer a nossa equipa e continuar a inovar”.

Quais os objetivos traçados este ano para a empresa?

2025 será um ano de crescimento ambicioso e estratégico. Vamos expandir a nossa presença, fortalecer a nossa equipa e continuar a inovar. O investimento passa por novas tecnologias, automação e inteligência artificial, capacitando os nossos profissionais para serem mais produtivos e focados no que realmente importa: a relação com o cliente.

O nosso plano para este ano inclui a abertura de 20 novos HUB e a contratação de até 750 novos talentos, impulsionando a nossa expansão e garantindo equipas altamente qualificadas. Além disso, prevemos ultrapassar 60 milhões de euros em faturação e consolidar a nossa liderança no mercado.

Quais são os principais desafios que o mercado imobiliário residencial enfrentará em 2025?

O mercado imobiliário enfrenta desafios estruturais profundos, que vão além da simples construção de novas habitações. O crescimento da procura, impulsionado pela adesão dos jovens à garantia pública para crédito à habitação, tem sido um motor do setor. No entanto, alguns pedidos de financiamento a 100% não estão a ser aprovados por ultrapassarem a taxa de esforço, o que reflete a dificuldade em encontrar imóveis compatíveis com os rendimentos destes compradores.

Há também um desajuste estrutural entre o crescimento dos agregados familiares e a oferta de novas habitações. Entre 2018 e 2023, surgiram 199.400 novos agregados, mas apenas 104.001 fogos foram concluídos, insuficiente para equilibrar o mercado​. Além disso, os tão falados imóveis devolutos não estão nas localizações desejadas ou não têm tipologias compatíveis com as necessidades atuais. As câmaras municipais de Lisboa e Porto comunicaram publicamente que os imóveis devolutos em 2022 eram apenas 2.646 e 1.788, respetivamente, números que não resolvem a pressão sobre os centros urbanos.

A incerteza económica continua a ser um ponto de atenção, podendo influenciar a confiança dos compradores e investidores. A instabilidade em algumas economias da Zona Euro pode gerar alguma volatilidade no setor, tornando essencial acompanhar tendências e adaptar estratégias de investimento.

A concentração de emprego, serviços, hospitais, escolas e universidades nos grandes centros, aliada à falta de soluções de mobilidade, agrava a procura nas cidades e acentua a desertificação do interior. Para enfrentar esta realidade, não basta construir mais, é necessário um plano estrutural que integre várias frentes: desenvolvimento sustentável e coesão territorial, promovendo oportunidades económicas fora dos grandes centros; reestruturação do regime fiscal da habitação, tornando-o mais justo e incentivador e investimento na mobilidade e descentralização urbana, apostando na ferrovia, no transporte coletivo e na infraestrutura elétrica para criar alternativas reais às grandes cidades.

O futuro da habitação não se resolve apenas com mais construção, precisamos de uma visão estratégica que equilibre oferta, mobilidade e acessibilidade. O desafio é grande, mas as soluções estão ao nosso alcance se mudarmos a forma como olhamos para o problema.

“Mas não nos iludamos: a valorização dos imóveis e a cautela dos bancos na concessão de crédito continuarão a dificultar o acesso à casa própria”.

Como olha atualmente para o setor imobiliário em Portugal?

O mercado imobiliário em 2025 será um campo de tensão entre novas oportunidades e desafios estruturais. A descida das taxas de juro e o crescimento do PIB (2,2% em 2025 e 2026) criam um cenário mais favorável para a compra de habitação e o investimento. Mas não nos iludamos: a valorização dos imóveis e a cautela dos bancos na concessão de crédito continuarão a dificultar o acesso à casa própria.

Se, por um lado, o rendimento disponível das famílias cresceu 7,1% em 2024, os salários aumentam e a poupança reforça a capacidade de compra, por outro, o desajuste entre oferta e procura agrava-se. O número de novos agregados familiares cresce a um ritmo muito superior à construção de habitação, e os imóveis devolutos simplesmente não respondem às necessidades do mercado. A previsão de 30.000 novos fogos por ano é positiva, mas insuficiente para aliviar a pressão nas grandes cidades.

Construir mais não chega. A concentração de empregos e serviços nos grandes centros, sem soluções eficientes de mobilidade e habitação acessível, mantém os centros urbanos sob pressão e acelera a desertificação do interior. Precisamos de uma estratégia que vá além do setor imobiliário: mobilidade, descentralização e desenvolvimento territorial têm de entrar na equação.

Mas o mercado não será apenas definido pelos desafios, há oportunidades para quem souber antecipar tendências e agir rápido. A concorrência entre bancos pode tornar o crédito mais acessível, a garantia pública para jovens abre portas à primeira habitação, e a retoma do investimento em 2025-26 promete dinamizar o setor.

O mercado do futuro não será dominado por quem vende mais, mas por quem cria mais valor. Inovação, estratégia e visão serão a chave. Quem souber ler as mudanças e adaptar-se não só enfrentará os desafios, como liderará a próxima fase do setor.

Quais os planos para o futuro da Zome? Que novidades podemos esperar?

O futuro da Zome é de crescimento, inovação e disrupção. Estamos a expandir a nossa rede, a investir em tecnologia e a capacitar os nossos profissionais com ferramentas avançadas de automação e inteligência artificial, elevando a experiência no imobiliário a um novo patamar.

Com uma visão clara e ambiciosa, queremos transformar a forma como se investe e financia, explorando novas fronteiras tecnológicas e regulatórias que podem redefinir o acesso ao mercado e impulsionar novas oportunidades de investimento e capitalização. O futuro da capitalização e do investimento está a ser reescrito, e estamos na liderança desse caminho. Na Zome, acreditamos que o impossível é apenas o que ainda não foi feito. E estamos prontos para mudar, mais uma vez, as regras do jogo.

“O talento tornou-se a moeda mais valiosa no mundo dos negócios. Já não basta oferecer bons salários: os melhores profissionais procuram propósito, crescimento e um ambiente que os desafie”.

A Patrícia é também mentora de empresários no programa Voice Leadership da Nova SBE. Quais os desafios que se colocam aos empresários dos dias de hoje?

Ser empresário hoje é um jogo de alto risco, onde a capacidade de adaptação define quem prospera e quem fica para trás. No programa Voice Leadership da Nova SBE, onde faço mentoria a líderes e empreendedores, há três desafios que surgem repetidamente: atração e manutenção de talento, crescimento sustentável do negócio e definição de prioridades estratégicas.

O talento tornou-se a moeda mais valiosa no mundo dos negócios. Já não basta oferecer bons salários: os melhores profissionais procuram propósito, crescimento e um ambiente que os desafie. Empresas que não constroem uma cultura forte e inspiradora veem os seus melhores talentos partir. A pergunta que cada líder deve fazer não é apenas “como contrato melhor?”, mas também “porque é que os melhores vão querer ficar?”.

Fazer crescer um negócio nunca foi tão desafiante. A concorrência é global, os mercados mudam a uma velocidade vertiginosa e a escalabilidade exige mais do que ambição, exige disciplina estratégica. Expandir sem perder rentabilidade, inovar sem perder identidade e crescer sem comprometer a cultura são dilemas que cada empresário enfrenta. O verdadeiro jogo do crescimento não é só vender mais, é construir algo resistente ao tempo.

Com uma avalanche de tarefas e oportunidades, muitos líderes acabam reféns da urgência e perdem de vista o essencial. A falta de clareza nas prioridades consome energia, tempo e recursos. As melhores decisões não vêm de fazer mais, mas sim de fazer melhor. Saber onde investir tempo, dinheiro e esforço define a diferença entre liderar o mercado ou apenas reagir a ele.

Que conselhos deixa aos empresários?

Se há um conselho que deixo aos empresários, é este: adotem a atitude “LA FERA”: Levanta-te, Acredita, Faz, Erra, Recomeça, Aprende. Ter resultados não significa evitar falhas, mas sim acreditar, fazer e evoluir constantemente. Levanta-te e Acredita. O mercado desafia-te todos os dias. Resiliência e propósito são o que te mantém em movimento. Faz e Erra. Nunca vai estar perfeito. Nunca nos vamos sentir totalmente preparados. Mas faz, mesmo com medo. O maior erro é não tentar. Aprende depressa, ajusta rápido e segue em frente. Recomeça e Aprende. O sucesso não é um destino, mas uma reinvenção contínua. Cada falha é um passo para fazer melhor.

A verdadeira liderança atrai os melhores, cresce com estratégia e decide com clareza. Sonhar e fazer são as duas faces da mesma moeda: só tem valor quando ambas estão presentes. Se só sonhas, nada acontece; se só fazes, perdes o propósito.

Como vê o papel das mulheres empresárias hoje em dia?

O papel das mulheres empresárias hoje não é apenas sobre liderar negócios, é sobre liderar mudanças. Empreender como mulher significa reescrever as regras, construir ambientes onde o talento, a ambição e a liderança não tenham género. Significa abrir portas e construir pontes entre gerações, inspirar outras a acreditar no seu potencial e promover uma cultura de colaboração, onde homens e mulheres crescem e inovam juntos. Porque o progresso verdadeiro não acontece na separação, mas na soma de talentos, perspetivas e experiências.

Mas a mudança real vai além dos números ou da representatividade. O empoderamento feminino não se trata de sermos mais do que os homens, mas de sermos mais, juntos. Quando criamos espaços onde todos têm oportunidades iguais para crescer, ampliamos o impacto, aceleramos a inovação e fortalecemos as bases de um futuro mais sustentável. Empresas que valorizam esta visão não só prosperam economicamente, como moldam uma sociedade mais justa e equilibrada.

O objetivo nunca foi ter mais mulheres na liderança. O verdadeiro progresso acontece quando deixarmos de ter de contar quantas são.

“Mas aprender não chega. O verdadeiro teste vem quando enfrentamos desafios que parecem impossíveis”.

De que forma a sua experiência profissional a ajudou a ser a pessoa que é hoje?

Se há algo que a minha jornada profissional me ensinou, é que o impossível só existe até alguém provar o contrário. Desde cedo, recusei aceitar caminhos pré-definidos e aprendi que, muitas vezes, é preciso criar as oportunidades em vez de esperar que nos sejam dadas. Foi isso que fiz quando decidi tornar-me Project Manager, um cargo que não estava destinado a mim, mas que escolhi conquistar.

Sabia que mudar de carreira de coordenadora de SHST para Project Manager significava recomeçar do zero. A proposta que me fizeram tinha um salário muito abaixo do que ganhava na altura, mas para mim, essa não era a questão central. Via além do imediato. Acreditava que, com dedicação, aprenderia rapidamente e que, aliando esse conhecimento ao respeito profissional que já tinha conquistado noutras áreas, conseguiria construir credibilidade também nesta. E foi exatamente isso que aconteceu. Esse momento marcou-me para sempre e reforçou aquilo que sempre me moveu: a vontade insaciável de aprender, de me desafiar a sair da zona de conforto e de nunca encarar o conhecimento como um ponto de chegada, mas sim como o motor de toda a evolução.

Mas aprender não chega. O verdadeiro teste vem quando enfrentamos desafios que parecem impossíveis. Como aquele projeto de montar um aerogerador num prazo que qualquer especialista diria ser inviável. Em vez de aceitar essa realidade, envolvi a equipa, comuniquei com clareza e fiz com que todos acreditassem que, juntos, poderíamos transformar o impossível em realidade. E conseguimos. Não porque tínhamos mais recursos ou tempo, mas porque tínhamos um propósito comum e a determinação para o alcançar. Foi aí que percebi que a liderança não é sobre dar respostas: é sobre inspirar os outros a acreditarem que são capazes de encontrar as suas próprias soluções.

E houve momentos em que o verdadeiro desafio não foi apenas profissional, mas pessoal. Quando aceitei o projeto como Owner Engineer em Cabo Verde, as minhas filhas tinham apenas três anos e quatro meses. Durante um ano e meio, vivi entre dois mundos: passava 10 dias num país desconhecido, sozinha num projeto desafiador, e quatro dias com a minha família, onde cada despedida testava a minha resistência emocional. Fui contratada para um projeto que necessitava de supervisão rigorosa e aderência ao contrato EPC, após a saída do responsável anterior. Encontrei um cenário de desordem, trabalhos sem registo e decisões complexas para tomar, com riscos elevados de encargos indevidos devido à falta de conhecimento do âmbito do contrato. O meu papel? Pôr ordem na casa. O impacto? Naturalmente, gerei resistência. Havia dias em que a vontade de atirar a toalha ao chão era esmagadora, especialmente quando chegava o momento de voltar para Cabo Verde. A pergunta “E se não voltasse?” ecoava na minha cabeça vezes sem conta. Mas o apoio da minha família, o foco em pensar apenas 10 dias de cada vez e a determinação de provar a mim mesma “tu consegues” deram-me a força para continuar. Foi neste projeto que aprendi que a verdadeira força não vem da capacidade de vencer, mas da determinação inabalável de nunca desistir.

E foi essa mentalidade que me acompanhou quando decidi abraçar o desafio de lançar a Zome com mais oito pessoas que, mais do que sócios, são amigos. Tenho o privilégio de dizer que são a família que escolhi. Criar uma marca 100% portuguesa num mercado já dominado por gigantes internacionais parecia, para muitos, uma sentença de morte. Mas, mais uma vez, escolhemos acreditar. Sabíamos que, com trabalho, resiliência e um foco absoluto na inovação e na experiência, poderíamos desafiar as probabilidades. Não só provámos que era possível, como alcançámos resultados que nenhuma marca nacional ou internacional conseguiu nos seus primeiros cinco anos de atividade.

Cada um destes desafios moldou a pessoa que sou hoje e reforçou a minha missão de desafiar os outros a nunca aceitarem menos do que aquilo que realmente são capazes de alcançar. Porque a maior limitação não está no mercado, nos recursos ou nos desafios externos: está naquilo que acreditamos ser possível.

Respostas rápidas:
Maior risco:  Lançar a Zome num mercado dominado por gigantes internacionais e acreditar que uma marca 100% portuguesa poderia redefinir a mediação imobiliária.
Maior erro:  Acreditar que todas as pessoas veem o mundo com a mesma clareza e boa intenção que eu, nem sempre reconhecendo o oportunismo de quem está disposto a prejudicar para ganhar.
Maior lição: O impossível só dura até alguém provar o contrário, e esse alguém podemos ser nós.
Maior conquista: Ter impacto real na vida das pessoas, não apenas pelo que faço, mas por quem sou enquanto o faço

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