Opinião

Valorizar as lideranças

Carlos Carvalho, presidente da ANJE*

Houve, nas últimas décadas, um salto significativo na qualificação dos empresários e gestores portugueses, com reflexos muito positivos na produtividade, competitividade e crescimento do nosso tecido empresarial.

A nova geração de empresários e gestores tem formação superior e, consequentemente, aplica os seus conhecimentos técnico-científicos na gestão das empresas. Além disso, domina línguas, usa com destreza as novas tecnologias e revela maior sensibilidade para questões como o marketing, a inovação, a criatividade, a diferenciação de bens/serviços ou a gestão dos recursos humanos.

A qualificação dos empresários e gestores veio, no fundo, melhorar o perfil das lideranças em Portugal. A capacidade de liderar equipas é, hoje, uma competência muito valorizada e que está associada à capacidade de planeamento, à autoconfiança e autocontrolo, à comunicação assertiva, à tomada de decisões, à coordenação e apoio, à execução e supervisão, entre outras valências.

No meu entendimento, um líder não pode ser apenas um gestor de recursos. Deve ser um facilitador: alguém que promove a colaboração e incentiva a criatividade. Para tal, é essencial que os líderes desenvolvam uma abordagem flexível e inclusiva. No fundo, que saibam adaptar-se a contextos diferentes e compreender as necessidades, anseios e expectativas da sua equipa.

O modelo de liderança hierárquica e piramidal está obsoleta. As organizações mais bem-sucedidas são aquelas que adotam um estilo de liderança colaborativa, onde o líder atua mais como um orientador do que como uma figura impositiva. O foco deve estar em promover a participação ativa de todos os membros da equipa, incentivando o diálogo, a partilha de ideias e a construção conjunta de soluções.

A liderança envolve, portanto, uma soft skill muitas vezes subestimada: a capacidade de ouvir ativamente. Saber ouvir é uma arte essencial para o líder que procura não apenas chefiar, mas também inspirar, mobilizar e construir relações de confiança com a sua equipa. A tomada de decisões é mais informada e eficaz através de um processo de escuta ativa. Isto porque a escuta ativa oferece ao líder informações mais precisas, detalhadas e prospetivas para a tomada de decisões.

Além disso, ouvir fortalece a confiança no líder. Quando um líder ouve de forma atenta e genuína a sua equipa, cria-se um ambiente de confiança, abertura e lealdade. As pessoas sentem-se valorizadas, compreendidas e mais dispostas a partilhar ideias, opiniões e perspetivas. Este laço de confiança é fundamental para a coesão interna das organizações, em particular das empresas.

Na verdade, o sucesso de um líder também se mede pela forma como desenvolve, motiva e potencia o talento dentro da sua organização. Esta abordagem não só fortalece a organização, como também promove um ambiente de aprendizagem contínua e de valorização dos recursos humanos.

Há uma frase que diz: “As palavras convencem mas os exemplos arrastam”. Um verdadeiro líder deve ser um exemplo, não apenas no que diz, mas principalmente no que faz. A coerência entre o discurso e a ação é crucial. Demonstrar empatia, escutar ativamente, ser transparente nas comunicações, tomar decisões justas e ponderadas – tudo isto são, a meu ver, características de uma liderança eficaz.

Importa, por tudo isto, que o país invista na formação de lideranças. Para se ser líder, não basta ter os traços de personalidade adequados. O atual nível de complexidade, sofisticação e competitividade na gestão dos negócios faz com que os líderes devam de ter competências superlativas e diferenciadoras, que se desenvolvem a partir de processos de ensino-aprendizagem.

*Associação Nacional de Jovens Empresários

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Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Carlos Carvalho, 40 anos, assumiu o cargo de presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) em julho de 2024, mas desde 2020 que integrava a direção nacional da associação, como diretor nacional Norte. Foi vice-presidente, e da FIJE - Federación Iberoamericana de Jóvenes Empresarios, onde é atualmente vice-presidente Ibéria. Em representação da ANJE, integra a administração não-executiva do IET – Instituto Empresarial do Tâmega e é membro do Comité de Acompanhamento do Programa Regional do Norte (NORTE2030). Estudou engenharia,... Ler Mais..

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