Opinião
Too Good To Go, a aplicação que usa a tecnologia para o bem

A Too Good To Go já chegou ao mercado nacional. A aplicação que pretende combater o desperdício alimentar apresentou-se ontem e já conta com uma rede de mais de 50 estabelecimentos parceiros. Madalena Rugeroni, country manager da Too Good To Go em Portugal, explicou ao Link To Leaders qual o modelo de negócio do projeto e os objetivos de expansão para o mercado nacional.
Os portugueses já podem comprar excedentes alimentares de restaurantes, hotéis e supermercados com a app Too Good To Go. Trata-se de um projeto de origem dinamarquesa, criado em 2016, que já está implementado em 13 países, onde conta com 31 mil estabelecimentos parceiros e 17 milhões de utilizadores e já contribuiu para “salvar” mais de 23 milhões de refeições.
As expetativas para o mercado nacional são as melhores tendo em conta que “os portugueses são pessoas cada vez mais atentas e preocupados com questões relacionadas com a preservação do meio-ambiente e a sustentabilidade”, como frisou a country manager da Too Good To Go. O projeto começa em Lisboa, mas planeia expandir rapidamente a presença para o Porto. A aplicação da Too Good To Go é gratuita e está disponível para sistemas IOS e Android.
Porquê Portugal depois de estarem presentes em 13 países?
A Too Good To Go é uma aplicação que visa combater o desperdício alimentar, através da venda de excedentes alimentares de estabelecimentos (restaurantes, hotéis e supermercados), e percebemos que Portugal precisava de uma plataforma como a nossa que respondesse a esta problemática, já que o país regista 1 milhão de toneladas de alimentos desperdiçados todos os anos e 50 mil refeições desperdiçadas todos os dias. Foram estes números que nos alertaram para a necessidade de trazer o projeto para Portugal, oferecendo aos portugueses uma forma de otimizar o seu consumo, para que seja mais consciente e sustentável. Além disso, fazia também todo o sentido na nossa estratégia de expansão sendo que a Too Good To Go já operava em Espanha há cerca de um ano, e queríamos cobrir toda a península ibérica.
Portugal tem, de facto, números elevados de desperdício alimentar. Todos os dias são desperdiçadas 50 mil refeições (…).
Há muito desperdício alimentar no nosso país? Em que setor?
Portugal tem, de facto, números elevados de desperdício alimentar. Todos os dias são desperdiçadas 50 mil refeições, sendo que a maioria do desperdício acontece precisamente nas nossas casas tanto em Portugal como a nível europeu. Seguem-se os setores de produção e restauração também com elevados índices de desperdício. Segundo um estudo do Centro de Estudos e Estratégias para a Sustentabilidade (CESTRAS), por cá, 3/4 dos produtos desperdiçados correspondem a produtos hortícolas, cereais, frutos e lacticínios.
Como funciona a aplicação Too Good To Go? Como se faz a ligação entre quem tem o excedente alimentar e quem compra?
A app funciona de uma forma muito simples: de um lado, os estabelecimentos colocam todos os dias à venda na app, num marketplace online, os seus excedentes alimentares, no final de cada turno (pequeno-almoço, almoço e jantar) ou no final do dia. Do outro lado, os utilizadores têm a possibilidade de adquirir esses mesmo excedentes a um preço mais acessível. Há ainda um fator surpresa associado ao funcionamento da Too Good To Go: o utilizador não escolhe o que vai comer, pede sim uma Magic Box, que consiste em caixas surpresa criadas pelos próprios estabelecimentos com os excedentes disponíveis.
É uma solução win-win-win: os estabelecimentos têm uma oportunidade de abater os custos de produção e fazer uma receita extra, de angariar novos clientes e de se reposicionarem como marcas sustentáveis, os utilizadores têm a possibilidade de adquirir refeições de qualidade a preços mais baixos e, por último, todos contribuem para a preservação e sustentabilidade do meio-ambiente, o maior beneficiário de todos.
Qual o modelo de negócio da Too Good To Go em Portugal?
Temos um modelo de negócio muito prático e simples. Por cada refeição salva, a Too Good To Go retira uma pequena comissão, que varia de mercado para mercado, mas que, por norma, ronda os 20 a 25% do preço original de venda.
Quanto investiram no mercado nacional para lançar a app?
É política da empresa não revelar estes números. No entanto, podemos dizer que o foco do investimento é criar e aumentar a equipa, angariar estabelecimentos parceiros e construir uma comunidade forte.
“O nosso objetivo é conseguir abranger as principais cidades de cada distrito em Portugal no próximo ano”.
Em que cidades vão estar presentes?
Por enquanto, a Too Good To Go vai estar disponível na cidade de Lisboa, mas queremos expandir a nossa presença rapidamente, sendo que em breve deveremos chegar ao Porto. O nosso objetivo é conseguir abranger as principais cidades de cada distrito em Portugal no próximo ano.
Já existem em Portugal alguns projetos com o mesmo objetivo de evitar o desperdício alimentar. Como é que o vosso se vai posicionar e destacar?
A Too Good To Go é uma empresa de impacto social que surge como um serviço complementar a todos os projetos já existentes. Inclusive, somos parceiros de organizações sem fins lucrativos, o que não inviabiliza que estas não doem comida, pois muitos dos nossos parceiros já o fazem.
Acontece que devido a algumas limitações das organizações, nem toda a comida pode ser doada. A primeira limitação prende-se com a falta de recursos voluntários, pois muitas destas entidades dependem de voluntários que nem sempre são suficientes. A segunda está relacionada com a falta de recursos financeiros para otimizar o serviço e agilizar processos internos. Por último, o tipo de comida é também uma limitação na medida em que congelados ou perecíveis não têm saída.
Infelizmente, o desperdício alimentar é suficiente para que haja lugar para todos e a nossa função é trabalhar o desperdício que as restantes organizações não conseguem combater e ainda prestar-lhes apoio de diferentes formas: os utilizadores têm a possibilidade de doar diretamente para as organizações através da aplicação e os estabelecimentos têm a opção de reverter a receita dos seus excedentes vendidas para as organizações, também através da app.
“(…) podemos e devemos tirar o maior proveito da tecnologia e utilizá-la para o bem”.
Na sua opinião, de que forma a tecnologia pode fazer a diferença nesta matéria?
Num mundo que é cada vez mais tecnológico, podemos e devemos tirar o maior proveito da tecnologia e utilizá-la para o bem. Por exemplo, uma aplicação que vende excedentes alimentares pode, definitivamente, fazer uma grande diferença e ter um forte impacto na sociedade e no ambiente. Além de que as pessoas procuram cada vez mais serviços otimizados, imediatos e online que lhes facilitem as suas rotinas do dia a dia. Portanto, com o apoio da tecnologia, é possível oferecer essa experiência e ainda consciencializar o consumidor para o combate ao desperdício alimentar.
Com quem vão colaborar em Portugal? Que parceiros (restaurantes/ supermercados…) já se juntaram a este projeto?
Temos já mais de 50 estabelecimentos parceiros, sendo este um número com tendência para aumentar muito rapidamente. Os utilizadores já podem adquirir Magic Boxes de estabelecimentos como Sushi at Home, Cotidiano, Koi Sushi, Aruki, Tartine, Pátio 14, Polpetta, Copenhagen Coffee Lab, Chikinho, Hygge Cafe, Boutik, Elti, Cozinha de Alecrim, Pão de Canela, Rolls Brunch and Cafe, entre outros.
Qual o target previsível da app em termos de público final?
A comida é algo que nos liga a todos, independentemente da idade e do setor. Ainda assim, segundo os nossos dados, os nossos maiores consumidores são mulheres, sobretudo entre os 25 e os 44 anos de idade, que planeiam as refeições, valorizam os alimentos e nutrientes consumidos. São também interessadas por tecnologia e ativas nas redes sociais, com preocupações sociais e ambientais.
“Os portugueses são pessoas cada vez mais atentos e preocupados com questões relacionadas com a preservação do meio-ambiente e a sustentabilidade”.
Na sua opinião, o que vai mobilizar as pessoas para este projeto: a luta contra o desperdício ou o fator preço?
Os portugueses são pessoas cada vez mais atentos e preocupados com questões relacionadas com a preservação do meio-ambiente e a sustentabilidade. Como tal, apesar de o preço poder ser um fator atrativo, acreditamos que a vontade de fazer a diferença e ter impacto real no combate ao desperdício será também um motivo que levará os portugueses a experimentar a Too Good To Go.
Quais as expetativas quanto ao número de refeições que esperam “salvar”?
Em Portugal, por estarmos a arrancar com o projeto, não temos ainda números definidos. No entanto, a nível global, ambicionamos ter uma comunidade de 75 milhões de utilizadores e 75 mil estabelecimentos parceiros, bem como lançar programas educativos em pelo menos 500 escolas e cooperar com cinco governos dos países onde estamos presentes na alteração de regulamentos, já no próximo ano.
Internacionalmente, e desde que foi criada na Dinamarca, qual é o mercado mais bem-sucedido da aplicação? E qual o segmento – restaurantes, supermercados, etc…- mais procurado?
Dinamarca e França são dois dos nossos maiores mercados, mas também são dos que começaram há mais tempo. Todos na realidade têm sido bem sucedidos até a data com bastante recetividade tanto da parte da procura como oferta. Em relação ao segmento mais procurado, aquele que obviamente tem mais desperdício acabam por ser os supermercados, e por conseguinte, vendem e salvam mais refeições também.
Enquanto country manager da Too Good To Go, quais as suas metas para o próximo ano em Portugal?
Crescimento é a nossa maior ambição e em diversas frentes. Dentro de um ano, esperamos ser já uma equipa de 20 a 30 pessoas, estar nas principais cidades e em todos os distritos e ter um maior número de parceiros bem como utilizadores. Quanto mais crescermos, mais ajudamos as empresas, os portugueses e o ambiente, por isso, o plano só pode ser esse