Entrevista/ “Todas as PME deviam de trabalhar com um business coach”

Ken Gielen, CEO do ActionCOACH Portugal

Depois de fechar a operação da Lear, em Palmela, Ken Gielen passou a treinar empresários que tenham o sonho e a ambição de potenciar os resultados das suas empresas, maximizando os recursos destas através do sistema da ActionCOACH.

Engenheiro mecânico de formação, Ken Gielen começou em 1998 a trabalhar na multinacional Lear Corporation, em Palmela, como engenheiro de Métodos e Tempos. Nesta empresa assumiu as funções de diretor de Engenharia, diretor de Operações e, por fim, diretor geral da empresa, tendo um report direto de 7 diretores para uma força laboral total de 350 trabalhadores. O encerramento das operações da empresa em Portugal, devido à crise na industria automóvel, permitiram-lhe reter 12 anos de grandes aprendizagens profissionais, nomeadamente sobre estratégias falhadas, inadequada gestão e planeamento de recursos.

Em 2010 obteve o Certificado de Business Coach para a ActionCOACH Portugal enquanto franchisado e é, desde 2014, o representante do master da marca no nosso país.  Em junho de 2016 passou a dar formação em las Vegas. Ken Gielen é ainda promotor dos prémios BEFA – The Business Excellence Forum & Awards Portugal, o mais conceituado eventos das PME´s portuguesas.

O seu trabalho tem sido reconhecido a nível internacional. Em 2015 e 2016 venceu os ActionMAN EMEA Award, na categoria de compromisso, prémios que distinguem os Coaches que melhor reprenderam a marca e que melhor aplicam os valores da cultura ActionCOACH.

Em entrevista ao Link To Leaders, o belga fala do seu percurso desde que chegou a Portugal, em 1993, e da importância de todas as PME trabalharem com um business coach.

Como é que um belga, engenheiro mecânico e executivo durante vários anos na multinacional Lear Corporation, é hoje o representante do ActionCOACH Portugal?
A vida dá muitas voltas. Tudo começou com uma oportunidade de carreira do meu pai, então colaborador da Ford Motor Company, quando em 1993 recebeu um convite para ajudar a arrancar com a AutoEuropa, na altura uma joint-venture entre Ford e Volkswagen. Quando o contrato de expatriado acabou, três anos mais tarde, fiquei em Portugal para finalizar o bacharelato em Engenharia Mecânica e surgiu a oportunidade, mal acabei o curso, de iniciar uma carreira na multinacional Lear Corporation, onde estive 12 anos e onde completei a Licenciatura em Engenharia Mecânica e uma pós-graduação em gestão na Católica, ambos em regime trabalhador estudante. Na crise de 2009-2010 no mundo automóvel, a Lear Corporation decidiu então desinvestir em Portugal e durante a busca de soluções para a minha situação profissional reencontrei um colega da pós-graduação que na altura era responsável da ActionCOACH em Portugal. Adorei o conceito e queria ser empresário. E já lá vão 7 anos desde essa altura.

Como geriu o encerramento das operações da Lear Corpotation em Portugal? Que lições aprendeu?
Na altura tinha 34 anos, e confesso que foi um período difícil para mim. Aprendi imenso durante o processo negocial, que envolveu sindicatos e advogados, mas sei que fiz o meu melhor e que consegui salvar cerca de 40 postos de trabalho de pessoas que passaram para uma outra empresa local, salvaguardando a antiguidade. A principal aprendizagem foi a necessidade de trabalhar com a consciência tranquila e de comunicar com maior clareza possível. Não só durante o processo de encerramento, mas em todos os 12 anos aprendi imenso e ainda hoje partilho estas experiências na minha atividade atual.

Tem recebido vários prémios. Em 2015 e 2016 venceu os ActionMAN EMEA Award, na categoria de compromisso. Já em 2012 venceu o Global Award na ActionCOACH NetworkCOACH Global Coaches Choice, em Pequim.  O que, para si, contribuiu para estes reconhecimentos?
Desde o momento em que comecei a fazer parte desta organização global assumi a responsabilidade de me envolver na escala global, participando nas conferências e a aprender com os melhores. O reconhecimento é a cereja no topo de bolo pela entrega, paixão e compromisso que assumi. O que me distingue mais é ser um fã incondicional da marca e da minha profissão. Acredito que todas as PME deviam de trabalhar com um business coach, tal como todas as equipas têm um treinador. Eu próprio já tive vários treinadores e mentores, desde a minha carreira de atleta de alta competição, no período da Lear Corporation e agora na ActionCOACH. Sou extremamente congruente.

Foi formador de novos franchisados da ActionCOACH internacional em Las Vegas, em 2016. Quais as principais ideias e ensinamentos que levou a estes novos franchisados?
Tinha um sonho em poder partilhar a minha experiência com novos franchisados e a pessoa responsável da formação em Las Vegas teve conhecimento deste meu sonho e deu-me uma oportunidade. Foi uma experiência muito rica, aprendi imenso, voltando à base. Partilhei imensas histórias e boas práticas. A principal ideia foi a importância de seguir a metodologia e de pedir ajuda sempre que necessário. A comunidade ActionCOACH é muito abundante na partilha de boas práticas.

É mestre na gestão de tempo. Que conselhos deixa a quem luta por tomar as rédeas do relógio?
Bom, há muitos livros sobre esta matéria, com dezenas de estratégias e destaco algumas que funcionam para mim. Definir as regras sobre o que é prioridade, sobre o que é importante é fundamental. A seguir é preciso listar as tarefas pendentes e incluir essas tarefas na agenda por defeito onde alocamos tempo para diferentes tarefas. Por fim, quando estivermos a executar a agenda e sempre que surgir algo ainda mais importante e urgente tomar a consciente decisão que algo tem de ser adiado. Ter a capacidade de dizer não e delegar cada vez mais tarefas também são factores essenciais.

Onde mais falham hoje os empreendedores de start-ups e PME em Portugal?
Não estou numa situação em que posso generalizar, mas problemas de tesouraria, falta de um plano e calendário de marketing e pouca sistematização dos processos estão na base do insucesso. É diferente trabalhar com uma equipa de 3-5 ou de 50-60. Isto acontece não só em Portugal, mas em todo o mundo.

O que o leva a acumular a função de professor do 3º ciclo/ secundário num colégio privado de crianças do 9° ao 12° ano?
Quando acreditamos na nossa missão para transformar empreendedores em gestores e empresários de sucesso, as oportunidades vão surgindo pelo caminho. Neste caso, estou a colaborar com o colégio enquanto Business Coach. Numa conversa surgiu o convite para trabalhar com estes alunos 1 hora por semana numa disciplina sobre empreendedorismo e laboratório de projetos. Estamos no ano piloto, está a correr bem e já estou a preparar uma equipa para dar continuidade ao projeto. Faz falta trabalhar com jovens e partilhar com eles situações do mundo empresarial e não só.

Qual a estratégia de gestão e liderança do “coach” Ken no campo do empreendedorismo?
Se bem percebo a pergunta, explico de seguinte forma. Em Portugal, a grande maioria do tecido empresarial são PME e destas PME a esmagadora maioria são empresas com 9 ou menos colaboradores. Além disso, grande parte das start-ups morre antes de chegar a 5 anos de existência. Todos os empreendedores têm de dominar certas competências de gestão de todos os recursos, sejam humanos, financeiros, materiais ou mesmo o tempo. No caso de uma equipa, é preciso combinar competências de gestão com competências de liderança que na maioria das situações combina com a capacidade de comunicação. Ou seja, a minha estratégia é de combinar Liderança, Empreendedorismo e Gestão no mesmo saco, decidindo sobre o que usar e analisando cada situação.

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