Terry Clune, o milionário irlandês que começou por ser criador de ovelhas

Terry Clune fundou oito empresas fintech em três décadas para ajudar clientes como o Barclays, a Wells Fargo e a Harvard a lidar com os impostos. Agora, tem uma fortuna avaliada em 900 milhões de dólares (853 milhões de euros).
Terry Clune, que foi escolhido em junho como Empresário do Mês pelo The Irish Times, criou o seu primeiro negócio em Wicklow, na Irlanda. Na altura tinha oito anos, era filho de um fazendeiro e sonhava em ser mais do que um criador de ovelhas. Começou, então, a recolher e a limpar sacos de fertilizantes que os vizinhos deitavam fora e a vendê-los a comerciantes de madeira que os usavam para guardar lenha.
No entanto, nem tudo correu de feição para Clune. “A minha vida estava boa até que, certo dia, um menino de sete anos veio pela montanha com uma mala melhor e tirou-me do negócio. Um sujeito mais esperto viu o que eu estava a fazer, achou que poderia fazer melhor, e fez. Eu estava ocupado demais a comer doces para perceber [o que estava a acontecer]”, conta, citado pela Forbes.
Desde que o seu negócio de sacos de fertilizantes faliu, Clune começou a observar o que os outros faziam para tentar fazer melhor. A mudança de atitude levou-o a criar oito fintechs. Todas ofereciam soluções de software para ajudar empresas globais ou universidades a lidar com os impostos e folhas de pagamento em outros países. Rapidamente conquistou clientes como o Barclays, a Wells Fargo e a Universidade de Harvard.
Todas as empresas integram a CluneTech, a holding que está sediada na Irlanda. Embora não tenha confirmado rendimentos ou lucros líquidos, a Forbes conversou com analistas e usou informações disponíveis publicamente para estimar o seu património líquido que está em avaliado em 900 milhões de dólares (853 milhões de euros).
A maior parte do seu património resulta da sua participação estimada em 50% numa das maiores empresas da holding, a TransferMate. A empresa, que facilita pagamentos entre fronteiras para os maiores bancos do mundo, tornou-se no mais novo unicórnio da Irlanda em maio de 2022, quando levantou 70 milhões de dólares (66 milhões de euros) de capital. Clune também possui cerca de 280 milhões de dólares (266 milhões de euros) em dinheiro que ganhou com a venda da Immedis, por quase 630 milhões de dólares (598 milhões de euros) em junho.
Em breve, prevê levantar dinheiro para a Sprintax, que ajuda não residentes americanos a declarar impostos no país, e está a trabalhar para abrir capital (IPO) a várias outras empresas. Se tudo correr como planeado, Clune tornar-se-á bilionário dentro de um ano ou dois, prevê a Forbes.
De estudante a fundador de oito empresas fintech
Clune nasceu em Londres, em 1975. A família de Clune foi viver para a Ilha Esmeralda quando ele tinha apenas um ano de idade para abrir uma fazenda de ovelhas e cevada no condado irlandês de Wicklow. Aos 17 anos, ele saiu de casa para ir estudar Administração de Empresas na Trinity College, em Dublin. “Naquela altura, era muito comum os estudantes irlandeses trabalharem no estrangeiro e era possível ganhar muito mais dinheiro se fosse para a Alemanha”, diz.
Assim, começou num verão a trabalhar numa fábrica na Alemanha. A mulher que liderava a fábrica gostou do seu trabalho e desafiou-o a trazer alguns dos seus colegas da faculdade no verão seguinte.
Clune conseguiu arranjar 120 estudantes para trabalharem na fábrica no ano seguinte. “Durante todo o verão, os estudantes pagaram cerca de 50% de imposto sobre o rendimento na Alemanha, e ao longo do tempo eu tinha lhes prometido que ‘não se preocupassem, porque nós conseguiremos o dinheiro de volta no final’”, conta Clune.
Perto do início do semestre, o empreendedor reuniu os formulários de imposto de todos os seus 120 “clientes” e dirigiu-se ao escritório de impostos alemão, mas infelizmente soube que não teriam direito ao reembolso. Quando saia do edifício deparou-se com um senhor que o questionou: “Você é da Irlanda, por acaso?”
O homem apresentou-se como diretor financeiro de uma repartição de finanças. Depois de explicar a sua situação, o homem levou Clune até ao seu escritório. Fez alguns telefonemas para colegas sobre tratados fiscais internacionais e garantiu-lhe que ele e os seus amigos poderiam recuperar todo o dinheiro.
Depois deste episódio, Clune regressou à Irlanda e fundou a Taxback, destinada a ajudar milhares de irlandeses que trabalham no exterior a recuperar os seus impostos no estrangeiro. A Taxback rapidamente abriu escritórios em países como China, Índia e Austrália.
Ele lutou para expandir o seu negócio nos anos 90, antes de o capital privado e do capital de risco disponibilizarem mais financiamento para empresas como a de Clune. O irlandês tinha pouco dinheiro, mas muitas ideias. “Quando estávamos a transferir os nossos reembolsos de impostos para os nossos clientes no Brasil, muitas vezes enviávamos cheques, e os cheques desapareciam frequentemente no correio. “Provavelmente, o carteiro pegava os cheques”, especula.
Nesta altura começou a recorrer às transferências bancárias, que custavam ao cliente até 300 dólares (284 euros) em taxas de transferência. “Foi assim que surgiu o negócio da TransferMate”, diz Clune, que fundou a empresa em 2010, “para eliminar o SWIFT, o sistema interbancário, que é muito, muito caro para pagamentos individuais.”
O grande desafio era descobrir como atuar num espaço altamente regulamentado de pagamentos globais, onde as empresas precisam de licenças adaptadas a cada país. O processo para adquirir essas licenças, segundo Sinead Fitzmaurice, CEO da TransferMate, levou cerca de nove anos, mas agora é uma parte fundamental da vantagem competitiva da empresa.
Clune não ficou por aqui e lançou mais um projeto alguns anos após fundar a TransferMate. “À medida que estávamos a expandir a TransferMate e a Taxback, tivemos que lidar com funcionários em cerca de 30 países, o que significava gerir a folha de pagamento para todos”, diz Clune.
Clune fundou, então, a Immedis em 2016 para gerir a folha de pagamento transfronteiriça de empresas com uma força de trabalho global. Era o seu terceiro projeto e o único vendeu à UKG, uma empresa multinacional de gestão de força de trabalho americana, em junho passado por cerca de 600 milhões de dólares (568 milhões de euros).
Embora as sete empresas restantes que compõem a CluneTech operem de forma independente, fazem vendas cruzadas e também partilham o mesmo espaço de escritório. Um novo cliente para uma companhia pode significar um novo cliente para três empresas.
Clune acredita que as suas empresas mais recentes também têm alto potencial de lucro: a Benamic, que ajuda a gerir campanhas de marketing internacionais; a Visa First, um serviço para facilitação de vistos; e a Sprintax, que ajuda não residentes nos EUA, como estudantes universitários, a fazer a declaração de impostos sobre rendimento no país.