Opinião

Spe futuri

Ricardo Luz, empresário

Esperança no futuro! Sim, sempre! Em situações graves em que nós e, principalmente, aqueles que amamos estão em risco e sentimos medo. E ainda bem que assim é. Significa que nos preocupamos com o bem-estar e com a vida dos nossos.

O que é importante e faz a diferença é não deixarmos que o medo nos paralise. Lutar para o ultrapassar, cada um à sua maneira e todos juntos. E ter fé no futuro! Acreditar que dando o nosso melhor, enquanto indivíduos e comunidades, teremos à nossa espera um melhor amanhã.

Assistimos, horrorizados, ao alastrar pelo mundo desta pandemia. Mas também, maravilhados, ao multiplicar de actos de humanidade protagonizados por gente fantástica, desde pessoas que vencem o seu medo cantando e dançando para os vizinhos, a investigadores e cientistas, pequenas empresas a multinacionais, que colocam o melhor do seu talento e capacidades na procura desenfreada de soluções, na produção de máscaras e ventiladores ao desenvolvimento de novos e mais rápidos testes de detecção do vírus e, o que o mundo mais anseia, na criação de uma vacina para este maldito Covid-19.

Este será um dos maiores desafios para a minha geração, se não o maior! Não conseguimos antecipar o impacto que terá em vidas, saúde, economia e sociedade. Mas sabemos já que será devastador! Mas não conseguimos também antecipar toda a beleza que emergirá desta privação. Porque, hoje como sempre, se o ser humano é muitas vezes capaz do pior, é também capaz de na escuridão emergir com a mais bonita luz!

Neste momento, não aceitando limites à liberdade de expressão nem deixando de avaliar criticamente as decisões do poder político, concordamos com restrições às nossas liberdades e garantias. Só possíveis num período excepcional e curto, que não podemos deixar nunca que se torne permanente. Nesta fase, concentramo-nos em contribuir enquanto indivíduos para esta luta colectiva, e fazemo-lo por nós e pelos nossos e em respeito e agradecimento por todos aqueles que na linha da frente lutam em condições por vezes desumanas para debelar esta doença – em especial médicos, enfermeiros, bombeiros, polícias e tantos outros sem os quais tal não seria possível. Um bem-haja a todos eles.

Mais tarde chegará o momento dos balanços, e de responsabilizar quem de direito, quem nos falhou de forma tão gritante ao não antecipar o antecipável e ao não criar condições para mitigar – e não para impedir, que tal não seria possível – a propagação do vírus pela população e possibilitar a quem o combate, poder fazê-lo com mais meios e em maior segurança.

Não nos é possível antecipar o quanto tudo isto nos afectará e às nossas famílias, amigos e conhecidos, nem o quanto afectará cada região, país e a sociedade em geral. Não imaginamos sequer no que nos tornaremos no futuro! Há quem diga que melhores pessoas, e eu quero crer que assim será mas não sei. Mas muito gostaria que reflectissemos sobre o que vimos fazendo, o que valorizamos e porquê, e sobre a exigência devida a quem em democracia escolhemos para, em nosso nome, exercer o poder.

É de La Palice que é nos jovens que reside a esperança num futuro melhor. Mas para que tal seja possível importa uma mudança na forma como muitos olham o mundo. Não que deixem de ser jovens, não que deixem de fazer o que só se faz quando se é jovem, não que deixem de ignorar os conselhos dos mais velhos cometendo eles mesmos erros que poderiam evitar. Fazê-lo seria deixar de ser jovem! Mas que percebam que a vida é uma bênção, que junto com os direitos que se lhes assiste, e bem, há também deveres. Para com eles próprios, suas famílias, comunidades e sociedade em geral. Que interiorizem que a vida é frágil, que a liberdade que tanto demora e custa a alcançar muito rapidamente se pode perder. Que as “futilidades”, os bens materiais, o entretenimento e tudo o que a sociedade moderna lhes possibilita são importantes, mas não o mais importante. Que descubram que muitas vezes se é mais feliz com menos, que o mais importante não é o que se tem mas o que se é!

Mas, não tenhamos também a menor dúvida que o talento existente, em conjugação com as tecnologias actuais e as por inventar, será capaz de criar as mais incríveis soluções, algumas das quais com que não sonhamos sequer, para que a vida de cada um e de todos seja melhor. Porque será!

Há hoje um sem fim de interrogações acerca do futuro, umas mais preocupantes, desde a China poder emergir como a grande potencia mundial, à queda da Democracia e (re)surgimento de regimes autoritários, ao fechar das fronteiras e aumento da “aversão ao outro”, até à mudança na forma como as pessoas se veem e relacionam fisicamente umas com as outras, e algumas mais positivas que acreditamos tornar-se-ão realidade, como sejam a digitalização rápida dos negócios, a coexistência saudável entre o físico e o virtual, o valorizar da indústria e das indústrias fundamentais para a nossa vida, o recentrar das pessoas no que é mais importante e o aumento da exigência sobre a politica e os políticos, obrigando-os a deixar muitas das causas fofinhas com que se entretiveram nos últimos anos e a tratar do que é mais importante.

Sempre acreditei que, e em especial nos momentos mais sombrios, nada ganhamos com o pessimismo, pelo que só o optimismo vale a pena. Hoje, mais que nunca, continuo a acreditar e a ter Spe futuri.

 

Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.

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Ricardo Luz

Ricardo Luz

Ricardo Luz é empresário, sócio-fundador da Gestluz Consultores, Matching Ventures e Absolute H. É Presidente da Invicta Angels - Associação de Investidores early-stage do Norte, da qual foi fundador, e é Board Member da EBAN, The European Trade Association for Business Angels. É autor e moderador das conversas SPE Futuri Investidores, no LinkToLeaders, e das conversas SPES Libertatis, no Instituto +Liberdade. Foi administrador executivo da Instituição Financeira de Desenvolvimento (hoje BPF) entre 2015 e 2017. Foi cofundador, em 2007, da... Ler Mais..

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