Opinião

A Nova Liderança

Sérgio Ribeiro, CEO e cofundador da Planetiers

Se há coisa que tem sido falada em todos os palcos e plataformas nas áreas de economia, gestão e empreendedorismo, é a Liderança. No entanto, acredito que as novas tendências não estejam ainda muito enraizadas nas mentes dos líderes, dos CEOs ou até dos que ambicionam ser os super empreendedores da próxima geração.

Ao longo do tempo, tenho descoberto, em reuniões e conferências, linhas comuns que se começam a apresentar como chave do ADN do empresário no futuro. Curiosamente, muitas destas já defendo há algum tempo e acredito que estão intrínsecas no meu ser. Outras, tento treinar todos os dias. Sim, não se treina só o físico ou as capacidades de lógica, treinam-se, também, valores que queremos incutir em nós. E, acima de tudo, pensem de forma simples, já dizia Jim Rohn:

“Basta melhorarmos 0,37% todos os dias que ao final do ano já somos o dobro da pessoa que eramos.”

Agora, quais as capacidades que um líder deve ter? Será que é suposto admirarmos todas as qualidades do Steve Jobs só porque criou a Apple? Ou será que alcançou o sucesso apenas porque era criativo, visionário e dono de uma capacidade incrível de comunicar? Sou mais apologista do segundo cenário. Acho que o Steve Jobs (um dos empreendedores que mais admiro) tinha várias falhas ao nível da liderança. E são estes paradigmas, criados pelos nossos antecessores, que devemos desconstruir para elevar a sua fasquia. Só assim conseguiremos evoluir. Só assim nos adaptaremos aos tempos de hoje.

O EXEMPLO

Este é, talvez, o tópico mais abordado até hoje na questão da liderança. Muitos foram os livros, cartoons e memes que a comunidade partilhou com esta mensagem. No entanto, acho que era um ponto que não poderia descurar.

Se o trabalho é intenso durante uma determinada fase, ninguém descansa. Se alguma coisa corre mal, o líder deve estar lá para trabalhar o dobro e guiar, não para gritar e culpablizar. Mas acima de tudo, deve dar o exemplo no compromisso e nos valores que quer incutir na organização. Mas há uma qualidade que é ainda mais rara mas é preciso trabalha-la, e muito: o líder quando erra, assume o erro. Este exemplo, tão simples, tem mais força numa equipa do que qualquer bónus, corte no salário, suspensão ou puxão de orelhas. Estes exemplos contagiam e é o líder que os tem de dar.

O AFECTO

Este é provavelmente o tópico mais curioso de todos os que aqui apresento. Sempre acreditei no facto de que as emoções são a base de tudo. De cada pensamento, de cada acção, de cada passo no dia-a-dia. Seja por preocupação, por medo, coragem ou qualquer outro sentimento, são essas emoções que geram acção (ou não-acção). São o nosso motor. Mas, sempre pensei, que esse afecto e essa preocupação pelos outros, me toldava a visão pragmática e crítica que um empresário deve ter. E comecei a ficar mais esperançoso com o futuro assim que percebi que grandes mentes, um pouco por todo o mundo, estavam a apoiar esta teoria. Muitos dos maiores visionários já descrevem a capacidade de mostrar afecto como um dos pontos chave no sucesso de um líder numa organização.

Jack Ma, fundador do Grupo Alibaba, ocupante do lugar número 20 da lista dos homens mais ricos do mundo redigida pela Forbes, teve uma intervenção fantástica na última edição do World Economic Forum, em Davos. Um vídeo que acabou por se tornar viral nas redes sociais.

“Não podemos ensinar as nossas crianças a competir com as máquinas que são mais espertas – temos que ensinar às nossas crianças algo único como: ter valores, acreditar, ter pensamento crítico, trabalhar em equipa e mostrar afecto pelos outros… estas são todas capacidades que não vêm com o conhecimento.”

A ORGANIZAÇÃO

Também no World Economic Forum foi debatido o trabalho e as organizações do futuro. Algo que está a mudar rapidamente, e é importante que as empresas se adaptem em prol de um bom ambiente empresarial de forma a dar melhor resposta ao mercado e ter maior abertura à inovação. Este foi o desenho apresentado por Aaron Sachs e Anupam Kundu que representa tudo aquilo que acredito que uma empresa, independentemente da sua dimensão, deve apostar. Estamos a viver transições para novos focos como o trabalho com propósito, a erradicação da hierarquia tradicional e a implementação de redes eficientes entre colaboradores.

A GENUINIDADE

Numa era onde somos bombardeados com informação, marketing e opiniões nos mais variados canais, acredito que o ser humano começa a desenvolver uma maior capacidade para detectar o que não é autêntico. É importante perceber bem o que somos e o que pertendemos ser. As nossas forças e as nossas fraquezas, os nossos objectivos pessoais e os das pessoas que nos rodeiam. Quando conseguimos fazer essa avaliação, tudo fica mais fácil. Desta forma, ao sermos genuínos, a nossa mensagem torna-se tão clara que, com o tempo, as pessoas vão começar a reunir-se em torno desse mesmo objectivo comum ou propósito.

A PARTILHA

A partilha é outra skill essencial que ainda exige muito treino, especialmente para aqueles que são ou querem ser líderes.

É preciso perceber que, para ser um bom líder, é preciso partilhar tudo: a responsabilidade, a informação, os reconhecimentos, os sofrimentos e as vitórias. Um líder, por muito que surpreenda a maioria, põe todos os que trabalham consigo em primeiro lugar. Tal como diz o título do livro de Simon Sinek – “Leaders eat last”, ou seja, “Líderes comem por último”.

A meu ver, estes são alguns dos principais pontos que já estão a promover uma mudança de mindset que vai transformar radicalmente o mundo onde vivemos. O líder sabe que a inovação não vem apenas do produto, ou do modelo de negócios, mas também, e principalmente, da evolução na maneira como trabalhamos em conjunto e de como nos relacionamos com as pessoas que lutam ao nosso lado, dia após dia, em prol dos mesmos objectivos.

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Sérgio Ribeiro

Sérgio Ribeiro

Sérgio Ribeiro é CEO e cofundador da Planetiers. Concluiu o mestrado em Engenharia Biológica no Instituto Superior Técnico de Lisboa. A sua tese de mestrado baseou-se na otimização da gestão de efluentes numa fábrica de biodiesel da Galp. Nos últimos 4 anos tem estudado o comportamento do consumidor inserido neste novo mundo digital em constante mudança, desenvolvendo projetos próprios associados à sustentabilidade e à educação ambiental.

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