Opinião
“Ser ou não ser (resiliente), eis a Fiona”

No último artigo descrevi um acontecimento que surpreendeu pela negativa, ao mostrar como, às vezes, colocamos paixões individuais acima da vida humana, e o mesmo se passa ao nível das organizações.
Mas a vida continua nos mostrando o outro lado (positivo), e nestes dias outros acontecimentos levam a refletir (pelo menos) sobre os nossos papéis e atitudes (para não falar da questão mais profunda sobre a missão de cada um neste planeta).
Três acontecimentos ocorreram e que me chamaram atenção e me questionam que lições podemos aprender de seres animais que a ciência convenciona classificar de irracionais. A primeira foi uma ovelha, a Fiona, encontrada após dois anos perdida numa rocha na Escócia. A sua história mostra que é possível superar até os desafios mais difíceis desde que tenhamos resiliência, determinação e coragem. A ovelha tinha sido avistada, pela primeira, vez em 2022, no sopé de um penhasco, o que significa que permaneceu dois anos perdida, sem interação com restante seres vivos e a alimentar-se não sei de quê. Quem a encontrou disse que a ovelha insistentemente quis chamar a atenção, ou seja queria sair dali.
A segunda foi uma cadela encontrada junto do corpo, já sem vida, do seu dono numa floresta nos Estados Unidos. Segundo fontes policiais, a cadela não estava ferida, mas estava magra e com sede, o que sugere que ficou com o corpo do seu dono por vários dias.
A terceira, também uma cadela, a Daisie, no Reino Unido que está sendo considerada uma heroína depois de ter desempenhado um papel crucial no resgate de um gato, o Mowgli preso numa mina. Num passeio de rotina com o dono, a cadela terá ouvido um miar vindo de uma mina e o seu comportamento chamou a atenção do dono que chamando os bombeiros, iniciou-se uma operação de resgate num poço de 30 metros de profundidade.
Falamos então de papéis e de atitudes dos protagonistas.
Perdidos dentro da organização – Focalizando na ovelha perdida, e fazendo uma analogia, ressaltamos o papel que a liderança deve ter em descobrir, resgatar e orientar os colaboradores que se perderam dentro da organização e que se sentem “auto desmotivados”. Os fenómenos great resignation, quiet quitting e lazy girl job foram casos reais que surgiram durante e pós-pandemia, mas que não foram resolvidos. Apenas o mercado de trabalho esteve a favor dos trabalhadores.
Importa analisar as atitudes dos intervenientes; pode haver diferenças, enquanto que a Fiona quis sair da posição onde estava, nas organizações podemos encontrar colaboradores perdidos, mas que querem permanecer perdidos e, por isso, a liderança deve ter um olhar redobrado. Fiona deu uma lição de resiliência, adaptabilidade e perseverança.
Quando teu concorrente te resgata – a relação entre cães e gatos pode variar muito, mas exceto no convívio familiar, geralmente o cão e o gato não se dão bem e podem ser inimigos. Mas temos um exemplo que nos leva a refletir quando podemos e devemos colocar divergências de lado a favor de um bem comum, ou mesmo a favor do nosso “competidor ou concorrente”. O ambiente laboral tornou-se tão competitivo; a pressão para resultados de curto prazo, a pandemia, os conflitos internacionais e a inflação, tudo contribuiu para uma degradação não só da situação nas organizações, como nos próprios lares e influenciou negativamente a saúde mental.
Como resultado temos sistemas de avaliação e de progressão que induzem mais competição do que colaboração entre colaboradores. Temos uma luta para conquistar resultados mesmo que seja à custa do colega. Daisie e Mowgly são bons exemplos quando o objetivo é comum.
Fidelidade à liderança – os cães são efetivamente fiéis e permanecem com o dono mesmo em caso de morte física. Os colaboradores podem não gostar das lideranças e não têm que ser amigos (no sentido familiar do termo), mas devem todos trabalhar conjuntamente na base de respeito e confiança. Ter colaboradores fiéis à liderança não só ajuda a liderança a concentrar-se nos aspetos do negócio como ajuda a organização no seu todo e poupa litigâncias desnecessárias, sem prejudicar a salutar divergência de opinião.
Para melhor ilustrar, temo o caso do CEO da OpenAI, criador do ChatGPT que foi demitido pela administração, da qual fazia parte, mas cinco dias depois foi readmitido por pressão benéfica dos trabalhadores. Fazendo analogia, podemos dizer que o CEO, mesmo morto profissionalmente (demitido), os colaboradores permanecerem junto do cadáver em sinal de fidelidade. Resultado, o mesmo CEO foi readmitido cinco dias depois.
Enquanto humanos, devemos continuar aprendendo, quer seja com os animais, quer seja com a inteligência artificial.