Entrevista/ Saiu dos Açores para estudar e construir carreira, mas regressou para lançar o seu próprio hotel

Joana Damião Melo, diretora-geral da Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel

“Somos um hotel que procura ser uma experiência dentro da experiência que é visitar a ilha de São Miguel e, como tal, queremos que todos os intervenientes sejam bem-sucedidos para que possamos crescer em conjunto e como destino”, afirma Joana Damião Melo, diretora-geral da Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel.

“Continuar a dar o meu melhor e trabalhar para ter colaboradores e hóspedes felizes!”. É este o objetivo de Joana Damião Melo, diretora-geral da Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel, projeto que nasceu na quinta que é da família há mais de dois séculos.

Depois de uma carreira em que passou pelo Hotel Palace em Madrid, o Ritz-Carlton Penha Longa, o Sheraton Lisboa, o Martinhal, o Santa Bárbara-Eco Beach Resort, entre outros, lançou o seu próprio hotel na ilha de São Miguel, nos Açores.

Ao Link to Leaders fala do seu percurso, dos dois anos de atividade do Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel, dos desafios que o setor da hotelaria enfrenta e ainda do que quer para o futuro.

Como descreve a Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel?
A Senhora da Rosa é um hotel boutique rodeado por uma quinta, com muitos anos de história e tradições, e ideal para quem procura tranquilidade e contacto com a natureza. Procuramos que todos os nossos hóspedes se sintam em “casa”, num ambiente acolhedor, com um serviço personalizado, que possa servir de ponto de partida para explorarem a nossa linda ilha de São Miguel!

Diria que somos um pequeno retiro perto da cidade de Ponta Delgada, com muito boas acessibilidades para qualquer ponto da ilha e que permite que ao final do dia voltem sempre a “casa” para aproveitar as últimas horas a relaxar ou a desfrutar das iguarias de um dos nossos restaurantes.

Que balanço faz dos dois anos de atividade do Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel?
O primeiro ano foi atípico, por causa da pandemia, mas mesmo perante todas as adversidades revelou-se positivo e no segundo ano conseguimos gerir o nosso negócio com mais normalidade e com resultados ainda melhores. A procura pelo destino Açores é crescente e a procura pelo nosso tipo de produto também, por isso temos vindo ano após ano a crescer tanto ao nível da ocupação como de preço médio.

Quais os momentos mais marcantes destes dois anos?
Sem dúvida que o momento mais marcante foi decidir abrir o hotel no meio da pandemia, em abril 2021. Tínhamos planeado abrir em 2020, não podíamos atrasar mais a abertura porque tínhamos já parte da equipa contratada e com o hotel concluído após investimento de 6 milhões. mas fechado, com muitos custos associados e sem podermos rentabilizar toda a nossa estrutura.

O segundo momento mais marcante foi um evento que realizamos este ano, o maior evento aqui realizado e que foi um verdadeiro teste para todos nós. Fomos o hotel escolhido para a celebração de um grande evento que durou seis dias, com necessidades muito particulares, e que excedeu todas as expectativas dos nossos hóspedes e uniu as nossas equipas num verdadeiro team work!

“Procuramos recrutar sempre mão de obra local e apostamos na formação de locais sem experiência no setor para que possamos contribuir com novos ativos no mercado de trabalho”.

De que forma a Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel tem contribuído para dinamizar a economia e a gastronomia local?
Esta Senhora da Rosa não existiria se não houvesse uma relação direta e constante com o que é local, até porque o nosso conceito é tradição e natureza. Procuramos recrutar sempre mão de obra local e apostamos na formação de locais sem experiência no setor para que possamos contribuir com novos ativos no mercado de trabalho. Só trabalhamos com fornecedores locais e tentamos ao máximo trabalhar com produtos produzidos localmente e sazonais; os nossos restaurantes visam transmitir o que de melhor temos na ilha e algumas das nossas tradições; trabalhamos com outros parceiros locais que desenvolveram soluções específicas para nós e desta forma alavancamos também estes pequenos negócios; promovemos e vendemos todos os serviços que um turista procure na ilha incluindo outros estabelecimentos de restauração.

Não somos um hotel isolado, somos um hotel que procura ser uma experiência dentro da experiência que é visitar a ilha de São Miguel e, como tal, queremos que todos os intervenientes sejam bem-sucedidos para que possamos crescer em conjunto e como destino.

Quais os principais desafios que tem enfrentado na hotelaria?
O maior desafio tem sido a falta de mão de obra e a falta de mão de obra especializada, que são dois desafios diferentes, mas que juntos formam um grande desafio! Para a falta de mão de obra especializada, temos apostado na formação on-the-job, e para a falta de mão de obra estamos a desenvolver esforços, mas que só trarão benefícios reais e concretos no próximo ano.

Como se atrai talento hoje em dia para a hotelaria? O que está a falhar?
Um hotel engloba diferentes áreas/serviços e é necessário valorizar todas as profissões desde o técnico de manutenção, passando pela Rececionista, empregada de mesa, copeira ou empregada de limpeza entre outros. É necessário reconhecer financeiramente, mas também valorizar o trabalho desenvolvido pelos profissionais de cada umas das áreas envolvidas. Devemos reter o talento e dar oportunidades para que os jovens com potencial não saiam do nosso país, e no nosso caso da nossa região; e criar empresas com um ambiente positivo e seguro para que os colaboradores se sintam bem e realizados. Colaboradores felizes = Clientes felizes!

Como se consegue levar profissionais qualificados para os Açores?
Já foi mais difícil trazer profissionais qualificados para os Açores, até porque hoje em dia há mais ligações aéreas com Portugal Continental e porque as pessoas procuram mais qualidade de vida e aqui encontram isso garantidamente. Obviamente que o pacote salarial e outros benefícios têm de ser suficientemente atrativos para aliciar novos profissionais, mas também a garantia de uma melhor qualidade de vida porque é algo que sentimos que as pessoas procuram cada vez mais.

Como é que ao final de 20 anos de experiência em grandes cadeias internacionais e também em unidades independentes e familiares, se lança um projeto próprio? O que foi determinante?
Se eu disser que ter regressado aos Açores foi um acaso ninguém vai acreditar, mas foi. Hhouve uma série de situações que fizeram aproximar-me novamente dos Açores, para além das vindas no Natal e nas férias de verão das quais nunca abdiquei, e que acabaram por me confrontar com a hipótese de comprar e reabilitar o hotel que em tempos pertenceu à minha família e o qual faz parte da história da minha vida.

O que foi determinante foi o apoio do meu pai que me ajudou muito e incentivou até naqueles dias mais “negros”, em que eu achava que não ia ter forças para continuar e a experiência que eu trazia e que me permitia lançar-me a “solo”. Noutro nível de importância, mas também fundamental foi ter conseguido reunir dois parceiros, que hoje em dia são os meus sócios; termos conseguido que uma entidade bancária acreditasse no nosso projeto quando ninguém acreditava e termos tido o apoio dos fundos comunitários europeus.

“Aplico no meu dia a dia várias boas práticas que adquiri ao longo destes 22 anos, nos diversos hotéis por onde passei e com os vários líderes com quem tive o privilégio de trabalhar e aprender”.

O que aprendeu nas suas experiências anteriores e aplica hoje no seu dia a dia como diretora-geral?
Aplico no meu dia a dia várias boas práticas que adquiri ao longo destes 22 anos, nos diversos hotéis por onde passei e com os vários líderes com quem tive o privilégio de trabalhar e aprender. No Hotel Palace em Madrid tive a minha primeira e melhor experiência profissional da minha vida, onde tive a oportunidade de trabalhar ao longo de quatro anos com profissionais excecionais, onde cresci em áreas que se tornaram fundamentais para a minha evolução e para chegar até aqui. O Ritz-Carlton Penha Longa foi a minha segunda grande escola, em que com outro tipo de maturidade consegui aprofundar e adquirir novas competências; mas qualquer um dos outros sítios por onde passei desde o Sheraton Lisboa, ao Martinhal, Santa Bárbara-Eco Beach Resort, entre outros, deram-me uma enorme “bagagem” para poder ser hoje uma diretora-geral muito mais completa e consciente.

Que outros planos tem para o hotel?
Queremos consolidar o nosso produto, garantir um serviço de excelência e explorar novas oportunidades que vão surgindo internamente ao nível da restauração, dos eventos e quem sabe explorar também outras oportunidades fora da Senhora da Rosa.

E para si?
Continuar a dar o meu melhor e trabalhar para ter colaboradores e hóspedes felizes!

Respostas rápidas:
O maior risco: que uma pandemia mundial volte a assombrar as nossas vidas e negócios.
O maior erro:  Ter medo de errar!
A maior lição: Quem espera sempre alcança!
A maior conquista: Recuperar, reabrir e inovar a Senhora da Rosa!

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