Relatório da BCG revela tendências de blockchain no setor bancário

A blockchain está entre as tecnologias digitais que mais irão transformar o setor bancário internacional. Na Europa, Malta e Suíça já preparam condições para o desenvolvimento da indústria das criptomoedas.
O relatório “Seven Trends at the Frontier of Blockchain Banking”, da Boston Consulting Group, revela que a blockchain é uma das novas tecnologias digitais com mais impacto na transformação do setor bancário internacional. O continente asiático, Ásia-Pacífico, destaca-se neste domínio. A China, por exemplo, tem a Binance, a OKEx e a Huobique que se apresentam como as três maiores bolsas em transações de criptomoedas do mundo, totalizando, em média, perto de 100 mil milhões de dólares por dia em volume nos mercados de derivados e spot. Tal como o Japão, cuja bolsa, Mt. Gox, foi responsável por 70% das trocas comerciais de bitcoin no início dos mercados de criptomoedas.
Mas a Europa não deixa os seus créditos em mão alheias, com países como Malta e Suíça a preparem-se e a lançarem quadros regulamentares para apoiar o desenvolvimento da indústria das criptomoedas.
A tecnologia de blockchain, concretamente no que respeita às criptomoedas, como a bitcoin e a ethereum, por exemplo, tem ganho tração uma vez que permite a existência de atividades financeiras anónimas sem controlo central, ao mesmo tempo que torna os participantes responsáveis pelas suas transações.
Perante este cenário internacional, o relatório da BCG salienta a existência de um potencial de encaixe entre as novas soluções fintech e as linhas de negócio convencionais dos bancos, e enumera sete tendências relacionadas com a tecnologia blockchain que irão impactar o setor bancário:
Contratos inteligentes como novas formas digitais de implementação de acordos formais
Os contratos inteligentes podem melhorar inúmeras características dos contratos convencionais. Uma das vantagens é que podem atuar automaticamente sobre uma provisão ativada inesperadamente. Por exemplo, o contrato inteligente pode prever que, quando ocorre um alargamento do âmbito de um projeto, o fornecedor deverá receber um pagamento e assim atuar automaticamente.
Outro aspeto que se destaca é o facto dos contratos inteligentes poderem dificultar ainda mais a alteração indevida de cláusulas contratuais, aumentando a transparência e resistência dos contratos relativamente a potenciais manipulações legais.
Oferta inicial de criptomoedas como novo método de angariação de fundos
A criação e a utilização de criptomoedas para angariar capital já é uma tendência na comunidade financeira e de defensores da tecnologia blockchain. Este processo, denominado de oferta inicial de criptomoedas (ICO), é semelhante ao de uma oferta pública inicial (IPO), mas sem as proteções que acompanham as ofertas públicas regulamentadas. Porque oferecem retornos apenas baseados no desempenho financeiro e não no capital próprio, os ICOs geralmente dão à empresa emissora um maior nível de independência.
Asset-backed digital tokens como criptomoedas transacionáveis tendo por base outros ativos
Enquanto o valor de uma criptomoeda deriva maioritariamente de uma análise especulativa no momento da troca, o valor dos asset-backed digital tokens está ligado à avaliação de outro ativo real que têm por base. Até ao momento, os investidores podem deter no seu portefólio asset-backed digital tokens que se inserem num de quatro grupos: Security Tokens, Real Estate Tokens, Stablecoins e Utility Tokens. Estes podem ser negociados nos mercados secundários.
Nonfungible Tokens (NFT) como tokens de criptomoedas com valor inerente
Embora sejam tecnicamente um token digital, os NFT têm uma característica distintiva – cada token representa uma entidade única. Estes objetos, tipicamente colecionáveis, não são passíveis de troca por contrapartes equivalentes, uma vez que têm por base ativos únicos, como objetos de luxo feitos à mão, estas contrapartes equivalentes não existem. O valor de um NFT reflete o valor do bem a ele associado, mas esse bem não inclui necessariamente o objeto em si. Por exemplo, um NFT pode transmitir a propriedade de uma grande obra digital. No entanto, o artista, ou outro gestor, controla os direitos de autor (indicando onde e por quanto tempo a obra pode ser exibida), enquanto o proprietário do NFT controla os direitos de venda.
Moedas Digitais do Banco Central como um novo instrumento cambial
Os bancos centrais estão a considerar a criação das suas próprias moedas digitais como forma de contrariar a diminuição do uso de dinheiro e o aumento do uso das criptomoedas privadas. Estas moedas digitais não só possuem diversos benefícios para as economias mundiais, facilitando a digitalização das mesmas e contribuindo para o aumento da confiança com moedas digitais, mas reforçam também a posição dos bancos centrais como agentes independentes sem interesses comerciais na utilização de dados pessoais no mercado financeiro.
Produtos financeiros descentralizados
A tendência para novas formas de financiamento/investimento descentralizados engloba uma vasta gama de produtos emergentes, que têm como base a tecnologia de blockchain, para efetuar empréstimos, investimentos, créditos imobiliários e hipotecas. Esse tipo de produtos tem maior adaptabilidade e maior potencial de utilização do que os contratos inteligentes ou os tokens.
Os produtos financeiros tradicionais são transformados em novas variantes que não requerem um intermediário e que permitem o comércio direto entre pares, pelo que as transações não têm de passar por um banco ou outra entidade. Além disso, confiam em contratos inteligentes para controlar a atividade e estabelecer a integridade das transações.
Serviços consultivos automatizados
A necessidade de orientação financeira em tempo real para estes produtos, impulsionada por dados, irá crescer exigindo um acompanhamento mais rápido. Assim, a utilização de aplicações de software automatizado por parte dos bancos, que alavanquem em algoritmos ou inteligência artificial para monitorizar a atividade de criptomoedas, detetando sinais que indicam boas oportunidades de compra ou venda, e comunicando-as ao investidor, permitirá uma gestão ativa e inteligente da carteira de clientes.