Quando devem os fundadores de start-ups deixar de ser CEO?

Na altura de escalar uma start-up, devem os seus fundadores deixar o caminho livre para os CEO de carreira? Descubra a resposta neste artigo.

No final de maio, quando veio a público que o cofundador da fintech britânica Monzo, Tom Blomfield, deixou o cargo de CEO do banco para se tornar presidente, emergiu uma vaga de especulações sobre o que estaria realmente a acontecer durante os meses difíceis de pandemia. Mas também levantou uma questão maior sobre a gestão de empresas de tecnologia que crescem muito rápido: quando devem os fundadores de start-ups deixar de ser CEO?

A Sifted aborda o tema e lembra que na década de 1990, a os experts diziam que os jovens fundadores ambiciosos deveriam ter apoio para arrancarem com empresas inovadoras, mas que, depois, na altura de as escalar, deveriam entregar as chaves a alguém mais experiente. A Cisco, a Yahoo ou o eBay são exemplos deste modelo e que funcionaram bem.

Mas a partir de 2000 esta forma de pensar alterou-se. Nos EUA, os investidores costumam olhar para figuras de culto como Jeff Bezos, da Amazon, ou Elon Musk, da Tesla, para demonstrar que os CEO-fundadores podem ter um desempenho melhor num mundo em que a velocidade e a inovação ousada são mais importantes do que nunca.

Tendo em consideração a Europa de hoje, os fundadores da maioria das start-ups que agora valem mais de mil milhões de euros permanecem no lugar de CEO. Vejam-se os casos, por exemplo, de Daniel Ek na sueca Spotify, Sebastian Siemiatkowski na também sueca Klarna, Will Shu na britânica Deliveroo, ou Daniel Dines na romena UiPath.

Há 20 anos os venture capitalists “tinham pressa em contratar CEO experientes. Atualmente, muitos deles estão ocupados a divulgar o seu apoio aos CEO-fundadores de longo prazo”, diz o fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, apontando para uma mudança global, nesta publicação amplamente citada na sua rede social.

O caso Monzo
Tudo isto faz com que a decisão de Tom Blomfield de sair da parte operacional da administração do banco Monzo e ser substituído no cargo de CEO por um banqueiro experiente, TS Anil, seja um caso ainda mais raro.

Embora algumas start-ups europeias ​​já não tenham os fundadores como CEO (a Seedrs, por exemplo), há outras de entre as grandes fintechs cujos fundadores são também CEO: o alemão N26; os britânicos Revolut, Starling Bank, OakNorth Bank, Greensill e Checkout.com. Na também britânica TransferWise, o CEO Taavet Hinrikus passou a cadeira ao cofundador Kristo Käärmann.

Numa entrevista à TechCrunch, Tom Blomfield explicou a mudança referindo que assumir funções de presidente em vez de CEO permite-lhe dedicar mais tempo àquilo de que realmente gosta, “que é a comunidade, conversar com os clientes, ajudar a desenvolver o produto, a visão de longo prazo…”. E, acrescentou, que iria tentar diminuir um pouco o seu “envolvimento em atividades bancárias regulamentadas mais formais”.

Contudo, e embora tenha um capital considerável e seja bastante popular entre os clientes, o banco viu os gastos com os cartões reduzirem devido ao confinamento, tal como a criação de novas contas durante a pandemia, o que pode indiciar momentos mais críticos nos próximos meses.

Agora, a start-up Monzo quer obter 70 a 80 milhões de libras em financiamento extra (um desconto de cerca de 40% em relação à avaliação de 2 mil milhões de libras arrecadadas em junho de 2019).

Qual a melhor solução?
A empresa americana de capital de risco Andreessen Horowitz argumenta há muito tempo que prefere apoiar empresas com um “CEO-fundador”, acrescentando que é mais fácil ajudar um fundador visionário a aprender como escalar uma empresa, do que ensinar um gestor experiente/de carreira a ser visionário.

Os fundadores têm três qualidades difíceis de recriar, segundo Andreessen Horowitz: conhecimento abrangente; autoridade moral; e compromisso total com o longo prazo. Esta empresa de capital de risco cita ainda um estudo sobre 50 start-ups de tecnologia que mostra que os CEO fundadores veem saídas melhores. “O estudo constata que os CEO fundadores vencem consistentemente os CEO experientes numa ampla gama de métricas, que vão da eficiência de capital (quantidade de financiamento obtido) ao tempo para sair, avaliações ou retorno do investimento”, escreve o cofundador Ben Horowitz.

Mas o contra-argumento é que, embora às vezes funcione, não há muitas pessoas como Jeff Bezos. A maioria dos fundadores é melhor a avançar com empresas inovadoras do que a lidar com o negócio complicado de as escalar. O professor e autor bestseller Noam Wasserman refere num artigo numa edição da Harvard Business Review de 2008 que contratar gestores experientes para escalar start-ups é, por norma, a abordagem correta.

Já o empreendedor britânico Tom Savage abordou o tema recentemente num post no seu blog onde explica orgulhosamente que é “um fundador, não um CEO”. Noam Wasserman e a equipa da Andreessen Horowitz concordam, contudo, que a decisão certa depende da empresa e do tipo de fundador.

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