Opinião
Por uma cultura de originalidade
Síndrome da folha em branco. Um rasgo de desinspiração. O início do processo criativo, em forma de bloqueio e de insegurança. Será que consigo escrever umas linhas sobre este tema? Entra o impostor em cena.
Vivemos num mundo de desafios, à escala global, com tanto por explorar e no qual podemos deixar a nossa marca e contribuição. Mas com tantas possibilidades, corremos o risco de ficar assoberbados, reféns da nossa inércia psicológica. E nada fazemos, sabotamo-nos. O contexto marca-nos e leva-nos a questionar as nossas capacidades e originalidade, mas nem tanto o status quo. Ou é impressão minha?
Será que conseguimos ser originais, na sociedade atual? Apostando no contínuo desenvolvimento de competências pessoais (muitas vezes por conta própria), no menos óbvio, na novidade, na infrequência e no caminho menos evidente. A que preço? Ou é mais conveniente a (aparente) segurança do conformismo, do seguidismo e do copy/paste? A que custo? Agora escolha. A estrada da diversidade e da divergência de pensamento traz mais desafios e dá mais cor à paisagem da liderança pessoal. E rompe com a ilusão do consenso e das maiorias forçadas, nos processos de tomada de decisão. Será que podemos tornar-nos mais influenciadores e não meramente influenciáveis? O fenómeno da Great Resignation, inicialmente nos Estados Unidos da América, mas também já visível nalguns países europeus, parece soprar ventos de mudança, no necessário repensar da vida e do trabalho – numa “longa marcha” ainda a percorrer. Mas importa dar o primeiro passo, para que a folha deixe de estar completamente em branco.
O World Economic Forum, no seu “Future of Jobs Report 2020”, datado de outubro de 2020, coloca a criatividade, a originalidade e a iniciativa entre as competências fundamentais para se “vingar” no mercado de trabalho, numa projeção para 2020-2025. Será esta uma forma de se manter o toque humano na era digital? Num contexto de “dupla disrupção” (tecnologia e pandemia) há postos de trabalho que deixam de fazer sentido, mas outros nascem. Ameaças e oportunidades andam de mãos dadas. Assistimos a movimentações no mercado, com saídas involuntárias e outras deliberadas, por opção; neste enquadramento, há competências que podem fazer a diferença numa estratégia de empregabilidade e no panorama da requalificação. Pode a originalidade ser uma delas? Para se manter a relevância e o emprego? Ou para o redesenhar.
Se conseguirmos descobrir o líder que há em nós, se conseguirmos “gerir-nos a nós próprios”, nas palavras de Peter Drucker, podem as empresas tornar-se um lugar melhor? A cultura organizacional é, na sua essência, feita de pessoas. De interações. Da gestão das diferenças. De “originais”. E não de jogos de soma nula, de cópias indiferenciadas. Uma cultura de originalidade.
Ser original ou uma cópia? Dois lados da mesma moeda? Acima de tudo, um ato; uma decisão que cada um terá de tomar. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.
**E CEO & Founder da ONYOU