Opinião
Pontos altos da economia e da criação de trabalho na Índia
Chama-me a atenção o facto de haver boas possibilidades de se criar muito trabalho semiqualificado, quer no turismo, em agribusiness ou na saúde, com algum treino intensivo para se ter uma boa qualidade. E, a par disso, formar grupos muito especializados em tecnologias e em medicina.
Turismo. A população indiana é ávida de fazer turismo, de conhecer os diferentes Estados e Territórios da União. Acaba assim por saber muito da sua terra, das suas gentes, das belezas e dos atrativos de cada Estado. Em 2019, antes da Covid, havia 2.322 milhões de turistas domésticos. O número reduziu-se e agora está em recuperação. Em 2022, já eram 1731 milhões e a crescer. O turismo é fonte de muitos empregos diretos na hotelaria, na restauração e em todos os serviços associados, de tipo comercial e de mobilidade.
O número de turistas originados no estrangeiro era, em 2018, de 10,56 milhões, passando a ser 31,41 milhões, em 2019, caindo com a Covid, e agora em animada recuperação. São números bem pequenos, mas é natural que cresçam firmemente. Em geral, a apetência por visitar a Índia é grande, dado que o imaginário de muitas populações mais ricas está repleto de estórias, narrativas, descrições, cores e produtos naturais, têxteis e uma ampla panóplia de obras monumentais, palácios, templos, do Norte ao Sul do País.
Há uma boa ligação entre os diferentes pontos turísticos a visitar e as cidades próximas, por via aérea ou de comboio, carro ou autocarro. Toda a rede de infraestruturas – de autoestradas, estradas nacionais, comboios – tem vindo a expandir e a melhorar as condições de segurança. Os percursos por comboio são capilares, talvez mais seguros, embora sempre com a nota do cansaço nas viagens longas, num país quente. Os comboios têm velocidades mais elevadas e ar condicionado, com serviço de restauração, em trajetos longos.
Há boa oferta de quartos de hotel, em aumento. O número que era de 165,000, no ano 2023, é expetável que chegue aos 200.000, em 2027. As cadeias hoteleiras estão a aumentar a oferta, esperando um grande aumento de visitantes.
As ligações aéreas estão em forte expansão. Atualmente a Índia tem 149 aeroportos. E desses 24 são internacionais. Os aviões que vêm do exterior vão diretos a esses 24 aeroportos, o que facilita a vida dos cidadãos indianos emigrados, pois quase podem ir diretos à sua terra. Com mais aeroportos internacionais há mais vida nas pequenas cidades do interior, descongestionando as maiores e permitindo a visibilidade e exportação de produtos locais.
Há uns meses, dois grupos indianos de transportes aéreos fizeram uma encomenda de 500 aeronaves cada um, entre pequenas e grandes, para transportes internos, de ligação aos países vizinhos e para transportes intercontinentais. Um grupo é o Air India, agora do grupo TATA que está a ter uma ótima evolução. O outro é o grupo Indigo que conta com mais de 55% da quota de mercado doméstico.
As reuniões do G-20 realçaram a beleza das cidades da Índia. Houve nesse ano mais de 200 encontros de representantes do G20, em 60 cidades da Índia, nos 28 Estados e oito Territórios da União. O tema da presidência do G20 “Uma terra, Uma Família, Um Futuro”, baseado nas nossas velhas crenças de “Vasudhaiva Kutumbakam”, foi abraçado por todos os países.
As reuniões e a apresentação dos locais nas TVs deram para uma boa mostra do património arquitetónico e cultural da Índia, reforçando o desejo de visitar a Índia. Durante o G20, a imprensa mundial esteve muito centrada nos acontecimentos e na ampla mostra do desenvolvimento da Índia, a partir dos anos 1991, quando o modelo económico copiado da União Soviética cedeu lugar ao modelo de livre iniciativa, que tantos benefícios trouxe ao país, densamente povoado de empreendedores e cientistas.
Segurança alimentar na Índia
A produção de cereais na Índia tem sido aceitável, com espaço para aumentar com a produtividade dos solos. No último ano 2022/23, a produção de cereais foi de 329,6.MT. Isso deu para alimentar toda a população, constituir uma reserva de emergência e ainda exportar mais de 25 MT.
A produção total de leite foi de 230.58 MT em 2022-23, registando um crescimento de 22.81% sobre os cinco anos passados de 2018-19. A Índia é, desde 1997, o maior produtor mundial.
Tecnologias de informação. É bom lembrar que hoje a Índia está na vanguarda das TI, tendo exportado no último ano $200bn, ocupando mais de 5,1 milhões de especialistas.
Nas telecomunicações, que estavam muito atrasadas até 1995 e depois, ao dar-se a abertura do setor entraram bons empreendedores a ponto de fazer passar de um país com 5,3 milhões de linhas de rede fixa, para mais de 1.180 milhões de linhas de rede móvel e mais 30 milhões de linhas de rede fixa, hoje. As telecomunicações ocupam 2,95 milhões de técnicos especializados e mais 8,24 milhões de pessoal auxiliar (blue-collars). Os custos da utilização dos telefones e da transmissão de dados são dos mais baixos do mundo.
O domínio da Índia sobre a digitalização, em particular a AI-Inteligência Artificial, Ml-Machine Learning, Robótica, etc., fez com que muitas multinacionais instalassem os seus GCC –Global Capability Centres na Índia, pois encontram técnicos muito preparados e aptos a ajudar as MNC no seu caminho de digitalização. Alguns números:
2020/2022 2023/2025E
Operational GCC 1580 1900
Talent base 1,66 M 2,0M
A Índia tem hoje 839 milhões de telefones de banda larga (MBB), quando no ano anterior tinha apenas 7,2% deles.
Saúde e Medical Colleges
Para as necessidades da Índia, um dado relevante é o grande aumento de Medical Colleges, para se conseguir um número adequado de médicos e, ao mesmo tempo, não impedir quem queira emigrar, de fazê-lo. Assim: o total de Medical Colleges hoje é de 704 e o número de vagas anual para a medicina é de 107,948. As vagas para as pós-graduações são atualmente de 67,802.
O aumento do número de Colleges deve vir acompanhado de forte dedicação do professorado e da disponibilidade de hospitais para a prática da clínica médica. Seria muito oportuno terem-se presentes essas necessidades de treino, para poderem dar um serviço médico de qualidade e com saber. O crescente desenvolvimento de subespecializações, com larga ocupação de paramédicos e outros especialistas, torna este setor criador de grande variedade de trabalho.
Em conclusão, a Índia está num trajeto de progresso harmónico e rápido, podendo hoje dar muita atenção a diferentes aspetos de criação de riqueza que antes não podia, pela destruição de que fora alvo pela colonização britânica, e que levou o seu tempo a refazer-se.
*Professor da AESE-Business School, do IIM Rohtak (Índia) e autor do livro “O Despertar da Índia”