Opinião
Como se escreve “Talento” em português

Na edição online do Semanário Expresso, de 03/06/2018, pode-se ler que Portugal é o 29.º país mais competitivo do mundo em recursos humanos, entre 119 países analisados, segundo estudo Insead/Adecco.
Entra, desta forma, para o primeiro quartil de países que lideram o Índice Mundial de Competitividade de Talento (Global Talent Competitiveness Index). Este é resultado de um estudo anual da escola de negócios Insead, a multinacional de recrutamento Adecco Group e a Tata Comunications.
Este artigo destaca as áreas onde o nosso país pontua mais e onde pontua menos. Os resultados apontam que Portugal é forte nas questões ligadas à tolerância a minorias e emigrantes, qualidade de vida, publicação de artigos em revistas científicas, sistema de pensões e diferença salarial entre homens e mulheres (apesar das notícias recentes sobre uma resistente desigualdade salarial entre homens e mulheres em Portugal).
No reverso, somos um país de resistência à mudança, verifica-se escassa colaboração entre organizações e a comunidade académica, a transparência dos planos de gestão de carreira ou a escassez de oportunidades de liderança para as mulheres.
De acordo com o índice de competitividade de talento, cada país (119) e cidade (90) são avaliados em termos da sua “capacidade de desenvolvimento de talento em seis dimensões distintas: formação, atração, desenvolvimento, retenção, competências técnicas e vocacionais e competências globais de conhecimento”.
A Estratégia para o Turismo 2027, definida pelo Governo, assenta na definição de estratégias baseadas na análise do setor na década 2005-2015, tendo concluído que um dos aspetos mais prioritários, e a melhorar no futuro, é a Qualificação dos Recursos Humanos. Pretenderá, com isto, criar e promover talentos, nos mais diversos setores de atividade do turismo.
Com este cenário, avançou já em 2016 com o desenvolvimento e implementação de vários projetos, nomeadamente: forte investimento nas escolas de hotelaria e turismo; revisão dos currículos das escolas de turismo com o foco nas soft skills, áreas comportamentais, línguas e competências digitais, aproximando a formação às necessidades do mercado; criação da rede de ensino e formação no turismo; aumento do salário mínimo nacional.
Nos prémios AHRESP 2018, pela primeira vez, premiou-se o talento individual do setor do turismo, com os Prémios “Técnico/a de Serviço de Restauração e Similares” e o “Técnico/a de Serviço de Alojamento”. Este é um feito notável, dado que é consensual a importância do reconhecimento do mérito dos nossos recursos humanos: quer pela experiência acumulada, quer pela qualificação e especialização académica. São eles “os rostos” e “os sorrisos” que acolhem, recebem, orientam, inspiram, e fidelizam quem nos visita, e fazem de Portugal o Melhor Destino Turístico do Mundo.
Mas também se premiou talentos noutras áreas: a Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, pelo seu contributo ímpar para a defesa da gastronomia como património nacional; o projeto de solidariedade – “Uma Noite por Todos” – The Day After, promovido pelo Grupo Visabeira; o Beirão d’Honra, como Produto ou Serviço do Ano / Parceiro do Ano; a Entidade Regional de Turismo – Turismo do Centro de Portugal, reconhecida como a Melhor Entidade Regional Turismo, num prémio que personifica e congrega em si o trabalho e o talento de toda uma região.
Isto é reconhecer talento. Mas é preciso fazer mais. Muito mais. E o setor do turismo, também aqui, deve dar um contributo substancial, numa aposta clara nas questões que ainda nos fragilizam, nomeadamente, no reforço:
- Às políticas de igualdade de género – são as mulheres que mais se candidatam a cursos nesta área (60%) e, as que mais sucesso têm ao longo da formação, sendo que 66% dos que se diplomam são do género feminino; 58% dos empregos do setor são ocupados por mulheres, mas, no entanto, estas ganham em média menos 33% do que os homens;
- Na inovação e na diferenciação;
- No trabalho em rede (com autarquias, associações e mundo académico).