Opinião
Capitalizar a mudança
O mundo de hoje é marcado pela vertigem da mudança, em boa medida motivada pela extraordinária evolução tecnológica, cujos efeitos se fazem sentir na generalidade das atividades humanas.
E é neste contexto de incerteza e volatilidade que os empreendedores têm de criar, acelerar e expandir os seus projetos empresariais.
Mas os momentos de transição na vida das sociedades podem gerar excelentes oportunidades de negócio, por se verificarem, justamente, alterações profundas nas necessidades do mercado. No fundo, ter uma ideia de negócio não é mais do que identificar um problema e encontrar uma solução para ele. Ora, em conjunturas social e economicamente disruptivas, é natural que as pessoas se confrontem com novos problemas no seu dia a dia. Por conseguinte, cabe aos empreendedores procurar soluções para esses novos problemas que sejam exequíveis e, consequentemente, que tenham potencial económico. Isto significa ir ao encontro das necessidades do mercado, com o intuito de as satisfazer através de negócios rentáveis.
Saber antecipar as necessidades do mercado afigura-se, pois, como um dos principais trunfos de quem investe hoje em dia. O outro é o fator-surpresa, cujo efeito se obtém, sobretudo, quando o mercado está em mutação e a concorrência expectante – ou seja, em momentos de impasse económico. Donde, o investimento em contraciclo não é necessariamente descabido ou imprudente, desde que os empreendedores percebam o funcionamento do mercado em mutação e antevejam as atitudes de quem compra.
É fundamental, no entanto, ser inovador. Se a mudança no mundo é movida pelo conhecimento, então há que alicerçar os negócios em expertise e talento. A procura de novas soluções, bens e serviços em sociedades em transformação só é viável com uma forte aposta na I&D+i e na criatividade. Trata-se de converter capital intelectual (know-how, competências, cultura, emoções, etc.) em produtos que vão ao encontro do “espírito do tempo” e se ajustam à mudança.
As rápidas mudanças na sociedade global estão, igualmente, a obrigar a uma redefinição das estratégias empresariais. Os modelos de negócio são constantemente desafiados por disrupções em diferentes áreas, o que confere instabilidade e imprevisibilidade à estratégia das empresas. Estas têm de ter agilidade e flexibilidade para reagirem aos novos desafios, para se adaptarem à volatilidade do mercado e para capitalizarem as mudanças a seu favor.
As empresas devem, portanto, ter planos de curto prazo mais do que de médio e longo prazo, de forma a se adaptarem às mudanças do mercado e à evolução tecnológica. Importa definir, nestes planos, objetivos estratégicos concretos e encontrar sistemas capazes de gerir as surpresas que, inevitavelmente, irão surgir ao longo do percurso. Há então que implementar processos organizacionais que permitam às empresas ser mais produtivas, mais rápidas e mais económicas. Desta forma, estarão melhor capacitadas para absorver e maximizar os efeitos da mudança.
Por norma, as empresas que resultam de projetos de empreendedorismo são inovadoras e tecnologicamente sofisticadas, têm estruturas organizacionais flexíveis, incorporam recursos humanos qualificados e adotam modelos de negócio disruptivos. Logo, revelam maior capacidade de adaptação às mudanças próprias da dinâmica empresarial contemporânea. Neste sentido, o empreendedorismo é, na atual conjuntura económica de incerteza e mutabilidade, uma enorme vantagem competitiva.
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* Adelino Costa Matos foi presidente da Direção Nacional da ANJE desde janeiro de 2017 até março de 2019 tendo anteriormente integrado a Direção Nacional precedente (entre 2013 e 2017). É chairman e CEO da ASM Industries, sub-holding do grupo A. Silva Matos, criada precisamente com o intuito de diversificar a atividade do mesmo, por via da aposta no setor das energias renováveis. A ASM Industries exporta 95% da sua produção e tem como mercados principais o europeu e o sul americano. O core business da ASM Industries é o fabrico de equipamentos metálicos e híbridos para aplicações onshore e offshore, através da sua subsidiária ASM Energia (que se assume já como um dos 10 maiores produtores europeus de torres eólicas).
Por outro lado, a ASM Renewables dedica-se ao investimento em tecnologias ou projetos que acrescentam valor à sub-holding. Nascido em 1981, Adelino Costa Matos é licenciado em Gestão pela Universidade de Aveiro e efetuou um programa executivo em Gestão das Energias Renováveis, na Universidade Católica, instituição onde também se especializou em Gestão Estratégica e Criação de Valor. Frequentou ainda, em 2013, o curso de Finanças para Executivos na INSEAD. Desde 2008, assume também funções de administrador executivo no grupo familiar A.Silva Matos SGPS. A responsabilidade social é também uma das áreas de intervenção do Presidente da ANJE que é board member da fundação Mão Amiga.