Opinião
Passou tão rápido!

Cada vez mais tenho a sensação que o tempo voa. 2024, então, foi demais, ainda ontem era janeiro 2024 e já estamos em janeiro 2025. Nestas últimas semanas, meses esta sensação tem-se tornado demasiado notória!
Uma grande amiga da família, com 86 anos, estava no hospital numa situação de saúde muito grave e os médicos já tinham avisado a família que era uma questão de dias, num dos momentos em que conseguiu falar com os filhos as suas últimas palavras foram – Passou tão rápido!
Estas palavras não me têm saído da cabeça.
Lembro-me de ser criança e ter quase 3 meses de férias de verão, 3 meses que pareciam 3 anos…o tempo parecia não passar e agora porque parece que o tempo me foge?
Apesar de não parecer, as horas, os minutos e os segundos passam à mesma velocidade no presente e no passado. “O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e por sua própria natureza, flui igualmente sem relação com nada de externo, e com outro nome, é chamado de duração”, disse Isaac Newton há muitas décadas. Não é o tempo que fica mais curto, é exatamente o contrário. A cada século, os dias ficam 1,8 milissegundos mais longos.
Então porque é que tantas pessoas sentem que o tempo anda mais rápido? O que acontece é que a sensação de passagem do tempo reflete o que ocorre no nosso mundo interno e externo.
Quando era criança os estímulos externos eram incomparavelmente menores do que os que temos atualmente. Ainda sou do tempo em que havia apenas tinha dois canais de televisão, que esperava ansiosa pelo fim de semana para poder ver os desenhos animados. Recordo-me de chegar à escola e todos falarmos sobre o mesmo programa de televisão, a novela, os jogos sem fronteiras, o festival eurovisão da canção, o agora escolha, o barco do amor. Não tínhamos muitas coisas para brincar o que nos obrigava a ser muito criativos tanto nas brincadeiras como nos objetos que construíamos. Os telefones eram raros e não eram portáteis, portanto a partir do momento em que saímos de casa deixávamos de poder ligar para alguém. Quando combinávamos um encontro era raro haver atrasos e impensável faltar.
As notícias demoravam a chegar e todos ansiavam pelo telejornal para saber um pouco mais do que se passava no país e no mundo.
Havia muitos tempos mortos, sem nada para fazer, mas acho que ninguém pensava muito nisso. Encarávamos as filas corajosamente com a perfeita noção de que o tempo duplicava nesses momentos. Alguns ainda levavam o jornal, as palavras cruzadas ou o ponto cruz para se entreter e não sentirem as horas intermináveis de espera.
Mas de repente, tudo mudou! Hoje, é o oposto, vivemos imersos num mar de estímulos. A tecnologia mudou completamente a forma como nos relacionamos com o tempo. Estamos constantemente conectados, a consumir informação, a responder a mensagens, a assistir a vídeos, a navegar nas redes sociais. A sensação é de que cada minuto precisa ser preenchido, como se o vazio fosse algo insuportável. Com o desenvolvimento da tecnologia, o ritmo de vida das pessoas acelerou significativamente. Isso leva-nos a querer fazer mais coisas em menos tempo, o que acaba por gerar uma sensação de urgência constante.
Na escola já é difícil encontrar programas em comum. As brincadeiras têm sido substituídas por jogos online. Estamos contactáveis 24h por dia e os compromissos são facilmente descartáveis com alterações e desmarcações no último minuto. Hoje, com apenas alguns cliques, temos acesso a uma quantidade imensa de informações em tempo real. Sabemos o que se passa em todo o lado e a toda a hora. Além disso, a tecnologia proporcionou-nos acesso a uma infinidade de formas de entretenimento instantâneo. Com serviços de streaming, como Netflix e Spotify, podemos assistir a filmes, séries e ouvir músicas a qualquer momento e em qualquer lugar. Isso pode faz-nos perder a noção do tempo, já que estamos sempre entretidos e imersos em diferentes atividades.
Já não temos tempos mortos, ocupamos cada minuto do nosso dia e já não conseguimos estar desligados.
Mas é nos momentos de pausa, de silêncio e contemplação que encontramos uma compreensão mais clara de nossas próprias necessidades e desejos. É quando nos permitimos desligar deste ritmo frenético que podemos reconectar-nos com o que realmente importa, com as pessoas que amamos e com as atividades que nos trazem verdadeira satisfação.
Somente assim podemos resgatar a nossa própria relação com o tempo, redescobrindo a alegria de saborear cada momento e encontrar significado em cada passo dessa jornada.
A tecnologia é apontada como uma das responsáveis por “engolir” o nosso tempo, mas o inimigo não é a tecnologia. Somos nós mesmos, quando não conseguimos encontrar o equilíbrio entre o tempo que ficamos conectados e o tempo que deveríamos estar desligados.
Para além da tecnologia também existem outros fatores que influenciam a nossa noção do tempo, as emoções, as nossas expectativas, a complexidade da tarefa a ser executada, a atenção ou a distração. Quando nos acontecem coisas boas, é quase como se o tempo se tornasse cúmplice da nossa felicidade, passando velozmente sem nos dar a oportunidade de o saborear por completo. Fins de semana, férias, momentos de celebração – tudo parece escapar-nos por entre os dedos. Sentimos que não há tempo suficiente para aproveitar tudo o que esses instantes têm para nos oferecer. Quando damos por nós, já passou!
Por outro lado, quando enfrentamos momentos difíceis, a dinâmica parece inverter-se. O tempo, que antes voava, agora pesa. Cada minuto arrasta-se com uma lentidão excruciante, como se o universo quisesse que sentíssemos a profundidade de cada segundo, obrigando-nos a confrontar o desconforto, a dor ou a ansiedade que nos preenche. Um dia parece uma eternidade quando estamos presos numa situação que nos consome.
Talvez seja porque, nos momentos bons, estamos completamente imersos no presente. Estamos distraídos da passagem do tempo, entregues à alegria, ao prazer, à conexão. Mas, nos momentos difíceis, tornamo-nos hiperconscientes. Contamos os minutos, as horas, como se estivéssemos presos a um relógio que insiste em lembrar-nos do peso daquilo que estamos a viver.
Mais uma vez, a verdade é que o tempo não muda. Somos nós que o sentimos de formas diferentes, dependendo do estado da nossa alma. E talvez o segredo para equilibrar esta balança esteja na nossa capacidade de encontrar beleza até nos momentos difíceis, de desacelerar a nossa perceção nos momentos bons. Talvez o verdadeiro desafio seja aprender a viver todos os momentos com a mesma intensidade, sem deixar que o tempo no escape ou nos aprisione.
Uma boa forma de “esticar” os dias é reaprender a valorizar as coisas simples. Há tanta riqueza naquilo que passa despercebido no nosso quotidiano, nas pequenas maravilhas que, de tão habituais, deixamos de notar. Parar para sentir o calor de um raio de sol no rosto, reparar no sorriso de alguém na rua, ouvir o som das folhas a dançar com o vento, saborear a textura e o aroma de uma chávena de chá. São detalhes assim, tão pequenos e aparentemente banais, que têm o poder de expandir os nossos dias e, mais do que isso, de os tornar verdadeiramente memoráveis.
Mas vivemos num ritmo frenético, num compasso acelerado que nos rouba a capacidade de apreciar. As emoções diluem-se, e a vida, essa soma de instantes únicos, perde a nitidez. Raramente vivemos no presente, porque estamos constantemente a projetar-nos para o que vem a seguir. A próxima reunião, a próxima tarefa, a próxima meta. É como se estivéssemos sempre numa corrida, uma maratona onde nunca chegamos verdadeiramente à linha de chegada. Não conseguimos apreciar cada metro que vamos fazendo porque só pensamos nos metros que ainda estão por percorrer…
A alegria de estar plenamente presente – de desfrutar de uma conversa com alguém, de ouvir a chuva a cair com paciência, de sentir o vento tocar a pele – tornou-se uma experiência rara. E, no entanto, é nesses momentos que reside a essência da vida. Não são os grandes eventos que nos sustentam, mas os pequenos prazeres que acumulamos ao longo do caminho.
Ainda assim, somos consumidos por uma ansiedade constante. Queremos preencher cada minuto, ocupar todos os espaços do nosso tempo com algo que nos dê a sensação de produtividade. E esse desejo de “fazer sempre mais” conduz-nos a um estado de exaustão crónica. Estamos constantemente a correr, mas, ironicamente, sentimos um vazio. Um vazio que vem de nunca parar verdadeiramente para sentir, para respirar, para nos reconectarmos connosco e com o mundo à nossa volta. É essa ausência de pausa, de presença, que nos cansa tanto. Porque, no fundo, não é o tempo que passa rápido ou devagar. Somos nós que, ao deixarmos levar-nos por esta pressa infinita, acabamos por perder a capacidade de o viver por completo.
Susana Duro tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing para marcas líderes de mercado e um sólido percurso profissional construído em empresas nacionais e multinacionais de referência dentro do mercado de FMCG.
É licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE, pós-graduada em Retail Management e em Direção Comercial no Indeg/Iscte e mestre em Marketing pela mesma instituição. Iniciou a sua carreira de marketing na Henkel Ibérica como gestora de produto, passando depois para brand manager na Dan Cake. Em 2004 entrou para a Nestlé onde esteve durante 11 anos. Aqui desempenhou a função de brand manager da categoria de Culinários, de trade marketing manager na categoria de chocolates e de head of trade marketing na categoria de Cereais de pequeno-almoço. Em 2017 entrou para a Coca Cola Europacific Partners como responsável pela equipa de Customer Development do Canal Alimentar. Em 2022 foi convidada para assumir a função de National Account manager ficando com a responsabilidade de várias contas no canal Horeca Organizado. É também professora na pós-graduação em Gestão de Vendas do INDEG_ISCTE, onde leciona a disciplina de Comportamento do Consumidor.