Opinião

Para onde caminham os profissionais de Recursos Humanos?

Pedro Rocha e Silva, Managing Diretor da LLH | DBM Portugal

A evolução do perfil dos profissionais de Recursos Humanos nos últimos 40 anos reflete as transformações económicas, tecnológicas e sociais ocorridas nesse período. Deixou de ser uma área meramente administrativa para se tornar finalmente um ator estratégico nas organizações. Bem sei que não o será em muitas organizações, mas não tenho dúvidas que nunca vivemos num contexto em que a relevância da área fosse tão reconhecida.

Fazendo uma breve resenha histórica, concluímos que nos anos 80 predominava um perfil predominantemente administrativo e operacional, em que o foco era a burocracia e a conformidade legal. Os anos 90 significaram a evolução para uma área de gestão de pessoas com foco em desenvolvimento e que temáticas como formação e avaliação de desempenho deram um salto enorme e assistimos ao início dos programas de motivação e clima organizacional.

Nos anos 2000, passámos a uma era de se olhar para os RH como parceiro estratégico, como consultor interno e gestor de mudanças. Temáticas como planeamento estratégico, alinhamento com o negócio, employer branding e gestão de talentos ganharam força nesta fase.

A partir de 2010, a tendência acentuou o foco no colaborador. Verificou-se a expansão da digitalização de processos e People Analytics, assim como foi quando cresceram as dimensões de diversidade e inclusão, bem estar e engagement.

Vivemos atualmente uma era em que predominam áreas de RH focadas na gestão de modelos de trabalho remotos e híbridos, gestão de saúde mental e cultura organizacional e assistimos a uma transformação digital da força de trabalho.

O perfil base tem de combinar atualmente dimensões estratégicas e tecnológicas com dimensões de empatia.

A pandemia da COVID-19 acelerou mudanças profundas, tendo acentuado a relevância das áreas de gestão de pessoas naquilo que significa e implica a necessária adaptação cultural, emocional e tecnológica das organizações, promovendo a agilidade e resiliência.

A perspetiva para os próximos anos é que a evolução do foco, papel e perfil dos profissionais de RH continue a acompanhar (e até a liderar) as grandes transformações do mundo do trabalho. A gestão de pessoas será cada vez mais estratégica, tecnológica, personalizada e centrada no propósito humano.

O foco de atuação evoluirá no sentido da Potencialização do talento e sustentabilidade organizacional através de:

  • Gestão de propósito e valores no trabalho
  • Gestão da cultura organizacional como ativo estratégico
  • Desenvolvimento de talentos com base em aprendizagem contínua (lifelong learning)
  • Bem-estar total (físico, emocional, financeiro, digital)
  • Inteligência artificial aplicada à gestão de pessoas (IA generativa, chatbots, automação de processos)
  • Planeamento de sucessão com uso de tecnologia e inteligência de dados
  • Construção de uma marca empregadora forte (Employer Branding)

As principais responsabilidades dos líderes de gestão de pessoas evoluirão no sentido de serem cada vez mais:

  • Criadores de ambientes organizacionais inclusivos, éticos e adaptáveis
  • Promotores de experiências do colaborador (Employee Experience Designer)
  • Gestores da marca empregadora com impacto social
  • Condutores de transformações organizacionais ágeis
  • Parceiros na integração entre humano e máquina

Para que tudo isto funcione, naturalmente o perfil destes profissionais tenderá igualmente a ajustar-se no sentido de serem cada vez líderes analíticos, humanos e inovadores, em que estas competências serão determinantes:

  • Alta literacia digital: domínio de IA, dados e plataformas integradas
  • Habilidades de design thinking e metodologias ágeis
  • Capacidade analítica e pensamento sistémico
  • Inteligência emocional e social aumentadas
  • Consciência ética e sensibilidade intercultural

Em vez de apenas “gestores de pessoas”, o futuro aponta para profissionais que desenham, monitorizam e reinventam experiências significativas no trabalho. Esse novo perfil será fundamental para responder a questões como:

  • “Como fazemos as pessoas sentirem-se valorizadas e úteis?”
  • “Como equilibramos produtividade com bem-estar real?”
  • “Como transformamos a empresa num organismo vivo e adaptável?”

O futuro é tecnológico, humano e estratégico. O profissional de Recursos Humanos deverá ser um agente de transformação organizacional, com foco tanto em resultados como na valorização das pessoas. Investir em formação contínua, pensamento sistémico e competências digitais será fundamental para acompanhar essas mudanças e manter-se relevante no novo mundo do trabalho.


Pedro Rocha e Silva é atualmente o Managing Director da LHH|DBM Portugal. Licenciado em Organização e Gestão de Empresas, pelo ISCTE, iniciou a sua carreira na Andersen Consulting, tendo mais tarde passado por empresas como a Watson Wyatt, Portugal Telecom, Heidrick&Struggles e Neves de Almeida HR Consulting.

Desenvolveu maioritariamente a sua carreira na área de Recursos Humanos, com uma experiência relevante nas temáticas de Executive Search, Talent Assessment, Leadership Advisory, Políticas de Remuneração, Modelos de Avaliação de Desempenho e Carreiras, estando atualmente dedicado às áreas do Outplacement e de Preparação para a Reforma.

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