Entrevista/ “Os projetos portugueses têm muito valor e não podemos ter medo de competir com os estrangeiros”

João Guimarães, cofundador e CEO da Intuitivo

“É preciso fazer algo para não só ajudar os professores a serem mais produtivos, mas também para trazer mais liberdade para a parte mais apaixonante do trabalho, que é o trabalho com os alunos”, defende João Guimarães, cofundador da Intuitivo, que acredita que “os professores, hoje em dia, dedicam demasiado tempo a tarefas de menor valor acrescentado, como, por exemplo, a corrigir testes à mão.

Intuitivo ganhou o prémio Pitch, a mais importante competição de start-ups do Web Summit 2024. A start-up de edtech sediada no Porto desenvolveu uma plataforma de avaliação digital para professores, focada em melhorar o processo de avaliação nas escolas.

A plataforma, que conta já com 40 mil professores, tem como objetivo ajudar a avaliar trabalhos, disponibilizando também conteúdos prontos a utilizar, com base num plano de subscrições.

Em entrevista ao Link to Leaders, João Guimarães, cofundador e CEO da Intuitivo, revelou que está nos planos “internacionalizar a nossa plataforma, pois acreditamos que será igualmente útil para professores e alunos de outros países” e também realizar uma ronda de financiamento para “acelerar o desenvolvimento da plataforma e da empresa ainda mais”.

A Intuitivo ganhou a edição deste ano do Pitch da Web Summit? O que significa este prémio para a start-up considerando que foi disputado por centenas de start-ups internacionais?

Tem um grande significado para nós. É um grande reconhecimento do nosso trabalho ao longo destes últimos anos e significa que estamos no caminho certo. No entanto, não altera nada, vamos continuar a trabalhar arduamente para cumprir a nossa missão de ajudar os professores a tornarem-se mais produtivos!

E como é ser uma start-up 100% portuguesa no meio de tantos projetos, de tantas nacionalidades? Que diferenças sobressaíram?

É uma razão de orgulho para nós poder representar o país desta forma. Obviamente que se notam certas diferenças, especialmente para start-ups dos EUA, onde a escala dos projetos tende a ser maior, mas os projetos portugueses têm muito valor e não podemos ter medo de competir com os estrangeiros.

“(…) queremos ter um impacto naquilo que é a qualidade de ensino dos alunos, ao dar melhores ferramentas aos professores para receberem insights únicos (…)”.

Qual proposta de valor da Intuitivo? Qual o vosso target prioritário?

A nossa proposta de valor principal passa por ajudar o professor a ser mais produtivo, a poupar tempo em certas tarefas de menor valor acrescentado, para que se possam focar naquilo que realmente importa, que é ensinar. Indiretamente, também queremos ter um impacto naquilo que é a qualidade de ensino dos alunos, ao dar melhores ferramentas aos professores para receberem insights únicos dos seus alunos, e permitir-lhes fazer um melhor acompanhamento aos alunos.

O nosso target prioritário são professores de todas as disciplinas, desde o 1º ciclo ao ensino secundário. No entanto, temos vários professores e mesmo outras pessoas a utilizar a nossa plataforma para contextos de ensino superior, empresarial, etc…

Professores felizes, alunos felizes é um dos vossos lemas. Como está a correr esta missão?

Ainda temos um grande caminho a percorrer para chegar aonde queremos, sentimos que temos o potencial para fazer uma ainda maior diferença no dia a dia escolar, no entanto, já vemos muitos casos de grande sucesso, e recebemos regularmente feedback excelente dos nossos utilizadores. Isto demonstra que já estamos a ter um impacto muito positivo e é o que nos move para constantemente evoluir e melhorar.

“Já passamos por muitas dificuldades, muitos momentos em que pensamos que a empresa não ia aguentar”.

Quais têm sido os vossos maiores desafios enquanto fundadores/empreendedores?

Desafios é algo que não costuma faltar a fundadores de start-ups, e no nosso caso não foi, e não é, diferente. Já passamos por muitas dificuldades, muitos momentos em que pensamos que a empresa não ia aguentar. Neste momento, já estamos mais estabilizados, mas sabemos que a única forma de nos mantermos assim é continuar a inovar e melhorar constantemente.

Sobre os desafios em si, sempre passaram principalmente por questões financeiras. Em termos de produto/plataforma, sempre conseguimos lidar muito bem com o desenvolvimento e todo o processo de recolha de feedback e melhoria da plataforma. Sabemos bem o que queremos construir e onde queremos chegar. Já em termos financeiros, vendas e financiamento, é onde costumam vir as maiores dificuldades de fundadores de start-ups. A solução para tudo é conseguir vender, pois se conseguirmos vender, significa que existe uma necessidade no mercado que o nosso produto resolve, e o resto costuma vir atrás.

Qual a transformação que esperam trazer ao mundo da educação em Portugal com a vossa proposta?

Os professores, hoje em dia, dedicam demasiado tempo a tarefas de menor valor acrescentado, como, por exemplo, a corrigir testes à mão. Já para não falar que temos cada vez mais falta de professores e de haver poucas pessoas das novas gerações a escolher a carreira de professor. É preciso fazer algo para não só ajudar os professores a serem mais produtivos, mas também para trazer mais liberdade para a parte mais apaixonante do trabalho, que é o trabalho com os alunos.

Globalmente, o que perspetiva para digitalização do ensino em Portugal? Quer do lado das instituições, dos professores e dos alunos…

Notamos uma grande evolução nos últimos anos, desde a pandemia, em termos de digitalização do ensino. O IAVE [O Instituto de Avaliação Educativa] também está a ter um papel muito importante na digitalização das escolas com o processo de desmaterialização da avaliação externa. Achamos que as vantagens da digitalização são inúmeras para todos: instituições, professores e alunos. Sem ignorar a importância do papel e de outras ferramentas na sala de aula, claro, um equilíbrio pode ser encontrado.

“A ronda de financiamento também é uma possibilidade que estamos a considerar para acelerar o desenvolvimento da plataforma e da empresa ainda mais”.

Quais os vossos projetos de médio prazo? Internacionalização? Uma ronda de investimento?

Sim, pretendemos internacionalizar a nossa plataforma, pois acreditamos que será igualmente útil para professores e alunos de outros países. A ronda de financiamento também é uma possibilidade que estamos a considerar para acelerar o desenvolvimento da plataforma e da empresa ainda mais.

Já foram abordados por algum “gigante” da educação?

Sim, por alguns, mas até agora não surgiu nenhuma oportunidade de colaboração que fosse interessante para ambos os lados.

Onde ambiciona ver a Intuitivo daqui a cinco anos?

Gostaria de ver a Intuitivo a ser utilizada e a ter um impacto verdadeiro um pouco por todo o mundo. Para além disso, acreditamos que vamos conseguir ter uma plataforma exponencialmente mais útil e completa para os professores, mantendo a proximidade que temos com os utilizadores.

Como nasceu o projeto Intuitivo? Quem está na sua origem?

O projeto nasceu da necessidade da mãe do Diogo (cofundador da Intuitivo) em fazer avaliações digitais durante a quarentena, em 2020. O Diogo estudava engenharia informática, e quando a mãe lhe disse que precisava de fazer avaliações digitais e não encontrava nenhuma plataforma que satisfizesse as suas necessidades, ele decidiu criar a primeira versão daquilo que viria a ser a Intuitivo que os professores utilizam hoje em dia.

Quem são os vossos investidores?

Neste momento, temos três fundos como investidores (Demium – Espanha; Techstars – EUA; Core Angels – Portugal), assim como cinco business angels que acreditaram em nós e na nossa missão. Todos tiveram e têm um papel muito importante no nosso caminho até aqui.

Quantos elementos têm a vossa equipa?

Atualmente, temos oito pessoas.

Respostas rápidas :
Maior risco:
o risco de ir à falência, que existiu várias vezes.
Maior erro: não consigo destacar nenhum em específico, cometemos muitos erros, mas pessoalmente, não me arrependo, pois foram importantes para o nosso crescimento.
Maior lição: o mais importante num negócio não é a ideia, ou a tecnologia, são as pessoas. Se nos rodearmos da equipa certa, com o apoio externo certo, as coisas acontecem.
Maior conquista: o feedback positivo que recebemos dos professores é a nossa maior conquista.

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