Entrevista/ “Os Açores oferecem um ambiente de negócios favorável ao investimento”

Sérgio Ávila, vice-presidente do Governo do Açores

A Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores (SDEA) está a atrair investimento externo para região e a promover o território como um local onde empreendedores e investidores podem encontrar as condições ideais para desenvolver os seus projetos e potenciar a inovação. Entrevistámos Sérgio Ávila, vice-presidente do Governo do Açores, sobre as metas já alcançadas e como quer colocar os Açores no radar dos investidores internacionais.

Em sete anos de atividade, a Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores (SDEA) já acompanhou a criação de 48 projetos de investimento, nacionais e internacionais, que representaram um investimento de 67,6 milhões de euros e a criação de 182 postos de trabalho. Mas as perspetivas de crescimento continuam em alta. A SDEA quer dinamizar a economia local, o empreendedorismo e atrair mais investimento e projetos para a região, que oferece um ambiente favorável para os negócios.

Sérgio Ávila falou ainda dos incentivos fiscais e dos apoios que os Açores oferecem a quem ali se instala e do importante papel desempenhado pela Rede de Incubadoras de Empresas dos Açores (RIEA) e pelo projeto Terceira Tech Island. 

A SDEA assumiu como missão promover a atratividade dos Açores para a captação de investimento externo, criação de condições facilitadoras da diversificação e exportação de produtos regionais, promoção da inovação e do empreendedorismo…  Estão a conseguir alcançar esses objetivos?
A SDEA, EPER, foi constituída formalmente no dia 13 de fevereiro de 2013 com o intuito de promover a internacionalização das empresas açorianas, apoiar a sua atividade exportadora, captar investimento, promover a imagem da Região Autónoma dos Açores enquanto destino para se viver e investir, fomentar o empreendedorismo e a inovação, dinamizando medidas conducentes à criação de novos negócios com potencial inovador e valor acrescentado. Hoje, sete anos depois, considero que a SDEA tem vindo a desempenhar um papel fundamental na dinamização da economia açoriana, atuando em várias vertentes, dotada de quadros técnicos e dirigentes extremamente competentes e eficazes.

“(…) os sistemas de incentivo que financiam até 65% dos investimentos, através de subsídios não reembolsáveis.”

Que tipo de apoios/incentivos pode esperar uma empresa ou start-up que queira instalar-se nos Açores?
Os Açores oferecem um ambiente de negócios favorável ao investimento. Assumem, desde logo, particular relevância os sistemas de incentivo que financiam até 65% dos investimentos, através de subsídios não reembolsáveis. Por outro lado, um extenso conjunto de medidas de apoio ao emprego, próprias da Região, assegura uma diminuição dos custos associados ao arranque de novas empresas.

Finalmente, os Açores apresentam uma diferenciação fiscal, em relação ao restante território nacional, que permite às empresas e empresários usufruírem de uma taxa de IRC 20% mais baixa e de taxas de IRS até 30% mais baixas.

Mas a Região Autónoma dos Açores possui muito mais para oferecer às empresas e investidores, como a sua localização estratégica, as suas práticas ambientais e de sustentabilidade, uma posição de liderança ao nível das energias renováveis, e uma estabilidade social e um nível de segurança refletidos numa elevada qualidade de vida.

“(…) a SDEA assistiu à realização de 48 projetos de investimento, cujos investidores provieram de outras regiões do país ou do estrangeiro. (…) representaram um investimento de €67,6 milhões e a criação de 182 postos de trabalho.”

Em termos práticos, que investimentos a SDEA há conseguiu atrair para o arquipélago? Estamos a falar de que ordem de valores?
São atribuições da SDEA, entre muitas outras, a captação de investimentos externos à Região e o acompanhamento aos investidores e empresas dos Açores. Desde a sua criação, a SDEA assistiu à realização de 48 projetos de investimento, cujos investidores provieram de outras regiões do país ou do estrangeiro. Estes projetos representaram um investimento de €67,6 milhões e a criação de 182 postos de trabalho.
Acompanhamos ainda a execução de 46 projetos que, uma vez concluídos, representarão um investimento superior a €266 milhões e permitirão criar mais de 880 postos de trabalho.
Por último, a nossa equipa assiste ainda 44 investidores e empreendedores, cujos projetos encontram-se em fase inicial de desenvolvimento.

De que nacionalidades têm surgido o maior número de solicitações para se instalarem nos Açores?
Portugal continental e Madeira. EUA, Rússia, França, Alemanha, Bélgica, o Canadá, o Reino Unido e Itália, entre outros.

E que setores de atividade são dominantes entre as empresas instaladas?
Ajudámos investidores e empresas em todos os setores da atividade privada. Atualmente, assumem grande relevância os investimentos no setor do Turismo.

Podemos dizer que os Açores já estão no radar dos investidores internacionais? 
O posicionamento dos Açores nos mercados internacionais como destino de investimento é recente. Ainda temos um longo caminho a percorrer, caminho este que se apresenta repleto de novas oportunidades.
Como fica claro pelos números apresentados anteriormente, foi no nosso próprio país que nos afirmámos como um lugar maravilhoso, não apenas para visitar ou viver, mas também para investir.

Dos projetos (ou investimentos) que passaram pela SDEA, qual foi até agora o mais emblemático, ou disruptivo, aquele que possa ser considerado a vossa “bandeira”? 
Não é fácil – e talvez seja até um pouco injusto – destacar apenas um projeto; temos vários dos quais nos orgulhamos. Direi apenas que fizeram-nos trabalhar com particular afinco alguns projetos industriais e do setor do Turismo que souberam aproveitar os nossos recursos e transformá-los em produtos únicos e verdadeiramente açorianos.

A SDEA tem a seu cargo a coordenação estratégica da Rede de Incubadoras de Empresas dos Açores. Quais são as metas para esse projeto em particular?
A criação da Rede de Incubadoras de Empresas dos Açores (RIEA) teve início em 2014/2015 através de um exercício de levantamento e de mapeamento de intenções de constituição de incubadoras, a nível do Governo dos Açores, Incubadoras de Base Tecnológica e Temática, e do poder autárquico, Incubadoras de Base Local, com o qual se fundamentou o desenho de um sistema de apoios à criação das incubadoras, incluindo apoios ao seu funcionamento durante um ano.

Esta foi uma decisão estratégica do Governo dos Açores e que teve por base a continuidade das medidas que já vinham sendo desenvolvidas de fomento do empreendedorismo. Concluímos ser oportuno fazer evoluir o ecossistema de apoio ao empreendedorismo através do incentivo à criação de estruturas especialmente vocacionadas para as start-ups, altura do ciclo de vida de uma empresa em que mais necessitam de apoio especializado.

“(..) acredito que estamos perante uma mudança muito significativa ao nível da oferta de infraestruturas, serviços básicos e avançados de incubação que queremos alargada a todas as ilhas dos Açores (…)”.

De que forma?
Tendo em conta a nossa realidade arquipélaga, a estratégia definida teve por base uma abordagem de desenvolvimento local. Começamos por contactar todos os municípios dos Açores, por forma a desenvolverem uma estratégia de desenvolvimento local em que as incubadoras tivessem um papel central na dinamização de um ecossistema favorável ao empreendedorismo, dando resposta à vontade de criação de empresas e de emprego a nível concelhio. A um nível mais transversal e abrangente, foi determinado a criação de incubadoras de base tecnológica, associadas a estruturas de transferência de conhecimento como é o caso dos Parques de Ciência e Tecnologia.

Após toda a recolha de informação e diagnóstico, procedemos ao exercício de mapeamento de incubadoras de empresas para os Açores. De acordo com este mapeamento, foram identificadas três incubadoras de base tecnológica, três de base temática e 12 de base local, a instalar em praticamente todas as ilhas. Presentemente já estão em funcionamento e a fazer parte da RIEA, duas incubadoras de base tecnológica, uma de base temática e seis de base local, nas quais se inserem também incubadoras privadas, uma vez que se identificou a necessidade de dar sequência ao processo de pós-incubação, para o qual os Centros de Negócio estão especialmente vocacionados.

Entretanto, podemos também referir que estará para breve a concretização de mais uma incubadora de base tecnológica, associada à Escola do Mar dos Açores, na Horta, mais uma incubadora de base temática, na ilha de Santa Maria, e temos sinalizadas mais quatro intenções de criação de incubadoras de base local.

Relativamente às incubadoras já em funcionamento, e em termos de oferta de espaços, estamos a falar de 50 gabinetes para instalação de empresas, de 16 espaços para reuniões, de 53 espaços de cowork e de mais de 170 empresas incubadas.

Assim sendo, e em resumo, acredito que estamos perante uma mudança muito significativa ao nível da oferta de infraestruturas, serviços básicos e avançados de incubação que queremos alargada a todas as ilhas dos Açores, vocacionadas para proporcionarem o apoio necessário às jovens empresas, numa altura em que são especialmente frágeis e em que se torna imprescindível dar resposta aos muitos desafios com que se confrontam.

Referiu recentemente que “os Açores têm conseguido de forma exemplar estruturar o seu tecido económico …”. Qual o papel da SDEA neste processo?
Tem contribuído para a criação de oportunidades na economia regional, intervindo como interlocutor privilegiado para as start-ups, micro, pequenas e médias empresas, articulando as entidades administrativas envolvidas, concebendo e promovendo os Açores no exterior de modo global, tendo em vista a promoção das exportações, a internacionalização e captação de investimentos.

De que forma a SDEA se enquadra nos planos da Marca Açores, criada há cinco anos?
A SDEA é a entidade gestora da Marca Açores, portanto tem uma ligação muito próxima com toda a sua estratégia e operacionalização. O Governo dos Açores criou a estratégia da Marca Açores como um dos pilares impulsionadores da promoção interna e externa da Região, criámos uma marca territorial que diferencia produtos e serviços, a partir dos atributos mais distintivos dos Açores – a natureza, o elevado valor ambiental, a sustentabilidade e os métodos únicos de fabrico. A Marca Açores está alicerçada numa estratégia de valorização e diferenciação, que visa a fidelização de clientes, consolidação e acesso a mercados, induzindo valor acrescentado aos produtos e serviços açorianos, o que, por sua vez, permite o fomento da base económica de exportação, a geração de mais riqueza e mais emprego.

Ao longo destes cinco anos, posso dizer com bastante satisfação que os resultados e a evolução da Marca Açores têm sido extremamente positivos e com um crescimento notável, não só no aumento de adesões das empresas, mas também ao nível do aumento do volume de vendas. Em 2015, registamos a adesão de 36 empresas e 253 selos atribuídos, em 2016 passámos a ter 90 empresas e 1664 selos atribuídos, no final de 2018 contávamos com 143 empresas e 2619 selos atribuídos, no final do ano passado o número de empresas subiu para 185 com 3079 selos atribuídos.

Atualmente, e já com dados deste ano, a Marca Açores engloba 204 empresas aderentes e 3914 selos atribuídos. De acordo com os inquéritos que temos realizado, junto das empresas Marca Açores, é possível constatar que em 2018 as empresas aderentes registaram um aumento do volume de vendas dos produtos certificados na ordem dos 27%, ou seja, uma subida de 5 pontos percentuais face a 2017 e uma subida de 9 pontos percentuais face a 2016.

Por acharmos que é fundamental haver um atendimento personalizada, das empresas aderentes à Marca Açores, criámos a figura Gestor Marca Açores que acompanha de forma personalizada todo o processo de cada empresa e é responsável pelas auditorias, feitas de forma sistemática.

“Os Açores competem com o resto do mundo pela captação de investimento externo, mas esta nova revolução industrial, a 4.ª, permite-nos, pela primeira vez na história, não dependermos do petróleo ou do carvão, mas do talento das pessoas.”

Quais os principais obstáculos que a SDEA tem enfrentado neste desafio de promoção dos Açores como destino de investimento empresarial?
Os Açores competem com o resto do mundo pela captação de investimento externo, mas esta nova revolução industrial, a 4.ª, permite-nos, pela primeira vez na história, não dependermos do petróleo ou do carvão, mas do talento das pessoas. A nossa geolocalização dá-nos uma vantagem estratégica competitiva, sobretudo no domínio das TIC, pois estamos entre o Velho e o Novo Continente, uma população nativa fluente em inglês e o facto de termos uma enorme diáspora espalhada pelo mundo faz-nos chegar a muitos sítios.

O ecossistema empresarial do arquipélago seria o mesmo sem o apoio desta entidade?
Creio que não. O papel da SDEA, sob orientação política e de acordo com o programa do Governo, tem sido fundamental para a dinamização do ecossistema empresarial dos Açores, sobretudo porque surgiu em plena crise, em 2013. Contribuiu, e contribuirá para a criação de emprego e a competitividade das empresas regionais, dinamizando a atividade económica e potenciando o fomento das exportações, a inovação, o capital de risco e a promoção do investimento privado.

Que outras iniciativas estão previstas no plano de ação da SDEA para este ano?
Em termos muito resumidos, gostaria de salientar um documento estratégico, chamado de Agenda Açoriana para a Criação de Emprego e Competitividade Empresarial, em que SDEA teve um papel fundamental, não só na sua criação como também na implementação das 61 medidas contempladas neste documento. A referida Agenda Açoriana surge numa situação de crise económica, a nível mundial, e a sua implementação contribuiu não só para atenuar a crise, como também para criar mudanças estruturais favoráveis ao desenvolvimento económico dos Açores.

Foi neste contexto que se começou a preparar o futuro e de entre os diversos domínios de atuação, saliento a preparação da nova política de incentivos no âmbito dos fundos comunitários, o COMPETIR+, as medidas dirigidas ao fomento das exportações/promoção da Região, como é o caso da Marca Açores, a promoção da inovação e do empreendedorismo, apoios ao emprego e formação profissional e apoios à reestruturação financeira das empresas.

Por exemplo, com a Marca Açores estamos a colocar os Açores no mapa das exportações, estamos a abrir caminho às nossas empresas em direção a mercados que valorizem os nossos produtos e os nossos atrativos turísticos. Associado a esta iniciativa destaco igualmente a medida Vale Exportar Açores que tem por objetivo capacitar as nossas empresas para as complexas questões associadas à exportação.

No domínio da captação de investimento, área altamente competitiva, já que todos os países e regiões procuram atrair capital externo, a SDEA tem vindo a trabalhar, com significativos resultados.

Já no domínio do empreendedorismo, volto a relembrar a criação da Rede de Incubadoras de Empresas dos Açores e dos Parques de Ciência e Tecnologia, que, tratando-se de um processo recente, já apresenta resultados muito significativos e estou confiante de que nos próximos anos, irão contribuir decisivamente para a consolidação do ecossistema empresarial açoriano. É também de referir neste domínio a dinamização do Concurso Regional de Empreendedorismo e da medida “Empreendo o Meu Negócio”, ambas vocacionadas para a criação de empresas e emprego.

Um outro domínio, em que a SDEA tem vindo a desempenhar um papel importante, prende-se com a transformação digital.  O Governo dos Açores está consciente dos desafios e vantagens da Economia Digital e concebeu uma estratégia para o seu desenvolvimento que tem como desígnio principal a criação de condições favoráveis à iniciativa privada, permitindo o reforço da competitividade das empresas dos Açores, tornando o tecido empresário mais preparado e apto a responder à exigência do mercado global. É com esse propósito que a SDEA tem vindo a dinamizar medidas dirigidas ao digital, seja ao nível da capacitação e sensibilização dos nossos empresários para esta questão, seja com medidas concretas que incentivam a sua adoção, e aqui saliento as iniciativas Distinção Empresa Digital Açores e o Vale PME Digital Açores.

Um destaque também para a iniciativa Terceira Tech Island, que se configura como um caso de sucesso, pois conseguimos com este projeto criar as condições para formar recursos humanos altamente qualificados, numa área de futuro, e em paralelo atrair empresas externas à Região, no setor das tecnologias, que recrutaram esses mesmos recursos, abrindo portas para o desenvolvimento deste setor que se configura como dos mais importantes em termos da economia do futuro.

Deste modo, posicionando-se como um parceiro estratégico das empresas açorianas, a SDEA, atenta às suas necessidades, estando sempre disponível para ouvir as suas expetativas, tem vindo a contribuir para uma melhor economia nos Açores, mais apta para criar emprego e riqueza, aproveitando as oportunidades da economia global e tornando-se mais competitiva.

“Isto [Terceira Tech Island] não é Sillicon Valley. Este projeto tem ADN próprio e torna os Açores no centro das novas tecnologias do Atlântico, entre o Velho e o Novo Continente”.

Qual a vossa ambição para o projeto Terceira Tech Island para os próximos cinco anos? Fazer dos Açores uma Silicon Valley europeia está nos planos?
O projeto Terceira Tech Island surgiu em outubro de 2017, enquanto medida inspirada no Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira, após o downsizing da Base das Lajes. O projeto coloca a Região no radar dos investidores do setor tecnológico, aliando a natureza à capacidade de produzir software dos Açores para o mundo, estando ao dispor um vasto leque de medidas de atratividade para empresas do setor IT: disponibilização de infraestruturas, apoio direto à formação específica para as tecnologias emergentes, recrutamento de recursos humanos qualificados e incentivos financeiros ao investimento, entre outros.

Até hoje, instalaram-se cerca de 20 empresas, e criaram-se 160 postos de trabalho, sendo certo que o nosso objetivo é o de atingirmos pelo menos 400 postos de trabalho qualificados até ao final do próximo ano.

Isto não é Sillicon Valley. Este projeto tem ADN próprio e torna os Açores no centro das novas tecnologias do Atlântico, entre o Velho e o Novo Continente. Nós temos a nossa própria identidade, características e talento, muito talento na área das TIC que o mundo só agora está a descobrir. A acrescer a este talento, há toda uma diáspora açoriana em sítios estratégicos dos EUA que podem ajudar empresas TIC europeias a se internacionalizarem. Há quartas gerações de açorianos em Boston e na Califórnia. A diáspora açoriana ascende a 1 milhão de pessoas, e este ativo tem muito valor para as empresas que procuram ligações a novos mercados.

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