Opinião

Falhei num compromisso que assumi!

Carlos Rocha, economista e gestor

Há um ditado popular que diz que se a vida te deu limões faz uma limonada.  Para quem gosta de coisas doces e suaves no paladar, sabe que ingerir um limão, seja de que forma for, não é tão agradável, nem doce. Coisa bem diferente é se for uma banana que não precisa de ser adocicada, pois tem muita frutose, ou açúcar, na linguagem popular.

Uma lição
A lição que se pretende transmitir com este ditado popular é a capacidade que se deve ter de poder transformar o negativo em positivo, o mau em bom, ou dito de outra forma, ver o lado positivo das coisas. No caso do limão encontrei uma frase que diz que o suco pode até ser refrescante desde que o limão seja espremido apenas o suficiente, caso contrário vem o sumo amargo da casca.

O colaborador limão
Recentemente falhei num compromisso que tinha assumido! Com toda a sinceridade acabei por adotar aquela postura do colaborador no qual acertaram entregar um determinado trabalho numa determinada data, mas no dia marcado, em vez de entregar o trabalho combinado, entreguei uma desculpa e ainda culpabilizando os outros.

Quem não tem um colaborador assim na sua equipa ou na sua organização? Para que fique bem claro, não desejo a ninguém ter um colaborador com esta caraterística. Dito isto, posso agora afirmar que um colaborador assim é o teste para a sua liderança. Sim, porque liderar só gente ordeira, disciplinada, motivada, comprometida, cumpridora, competente é fácil e não representa nenhum desafio para a liderança e gestão de equipas. Pelo contrário, um colaborador que incumpre os prazos e resultados, implica estar constantemente a ser monitorado e exige mais dispêndio de energia, de tempo e de recursos e desgasta a liderança. Pior, não é raro um colaborador assim ser propenso ao conflito e à confrontação como mecanismo de defesa.

Mas, felizmente, com ou sem um colaborador deste tipo, o seu trabalho enquanto líder e gestor é apresentar resultados com os meios de que dispõe. Não adianta lamentar-se, pois resultados, objetivos, meios e responsabilidades devem ser negociados prévia e conjuntamente. Então use os meios de que dispõe, trabalhe o perfil do tal colaborador, nomeadamente as suas competências e skills (soft e hard), no sentido de um dia ele poder melhorar. Isto sim é liderança e motiva o colaborador.

Instrumentos de gestão
Naturalmente deve dispor de meios para conseguir ou, pelo menos, influenciar tal mudança, nomeadamente a fixação de objetivos no início do ano, a avaliação intercalar e a avaliação final, não esquecendo o feedback periódico. Seja um gestor ou líder, dê feedback sempre e não apenas na avaliação final. Esteja sempre presente.

Qualidades de liderança e gestão
Representa um grande desafio ter que resgatar um colaborador desse tipo que põe à prova as suas qualidades de liderança e de gestão nomeadamente:

Comunicação – ao contrário do tal colaborador que geralmente só comunica no dia da entrega do trabalho (e falha na entrega) para dizer que a culpa é dos outros, você enquanto líder deve estar constantemente comunicando, se inteirando de modo a executar um plano de contingência.

Resiliência, paciência e perseverança – um colaborador assim testa efetivamente a paciência do líder, e este tem de ser perseverante e impedir que aquele ponha em causa a sua liderança. Ele pode testar a autoridade da liderança.

Capacidade negocial – o líder tem de estar renegociando constantemente o que já foi acordado.

Orientação para os resultados – infelizmente o líder não pode ter a total confiança num colaborador assim, quando está focalizado nos resultados e não em atividades; o que interessa são os resultados.

Voltando ao meu caso, para compensar a minha falha, o próximo compromisso que assumi foi cumprido com semanas de antecedência.

Caro líder, se você tem limão, faça uma limonada acrescentando açúcar, mas apenas o q.b. para evitar problemas nas restantes partes do corpo organizacional.

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Carlos Rocha

Carlos Rocha

Carlos Rocha é economista e atualmente é vogal do Conselho de Finanças Públicas de Cabo Verde e ex-presidente do Fundo de Garantia de Depósitos de Cabo Verde. Foi administrador do Banco de Cabo Verde, onde desempenhou anteriormente diversos cargos de liderança. Entre outras funções, foi administrador executivo da CI - Agência de Promoção de Investimento. Doutorado em Economia Monetária e Estabilização macroeconómica e política monetária em Cabo Verde, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – Lisboa, é mestre em... Ler Mais..

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