Opinião
O tempo que o tempo não tem
Dos Estados Unidos da América nos anos 30 vem a expressão ”rat race” (corrida de ratos), em analogia às experiências em laboratório, em que ratos correm à exaustão para tentar chegar a um pedaço de queijo que lhes é sempre afastado quando estão a chegar perto… à semelhança do que fazemos na busca de sempre qualquer coisa mais.
Esta experiência foi, em 1997, utilizada por Robert Kiyosaki como origem para uma série de livros com conselhos sobre a forma de aproveitar ou fugir desta corrida insana. Encontramos nisto alguma analogia com as nossas vidas? Seremos nós estes seres que correm sempre em busca de algo mais?
Pierre Bearn, em 1951, criou a expressão francesa “boulot, metro, dodo” (trabalho, transporte, dormir), posteriormente imortalizada numa canção de Eddy Mitchel de 1971, e que representa a vida que levamos, entre dormir, trabalhar e comutar entre casa e o trabalho.
Sem tempo para nada mais e sempre com atrasos e com coisas que queríamos ou devíamos fazer por fazer. Viver 99 lifes (99 vidas) – conceito criado por Faith Popcorn nos anos 80 – numa só visa já é por nós aceite como normal.
Ser pais, irmão, filho, amigo, praticar desporto (ou pelo menos estar em forma…), estar empenhado nalguma causa social, política ou religiosa, ter um desempenho profissional de excelência (e por vezes mais do que um emprego para podermos chegar ao rendimento que queremos), acompanhar o nosso clube nas suas vitórias e derrotas… tantas solicitações a que queremos sempre responder com o máximo que podemos conduzem a uma ansiedade e cansaço que nos destroem.
Já no século 21 Dan Herman introduziu o conceito de FOMO – Fear of Missing Out (medo de perder qualquer coisa), que ganhou notoriedade desde 2004 depois da sua utilização na Harvard Business Review.
A somar a tudo o resto, uma terrível ansiedade que nos obriga a estar atentos a tudo, com o objetivo de não perder nada do que se passa à nossa volta – da promoção do voo ao concerto ao lançamento à festa, à ultima instastorie, …
O multitasking (fazer várias coisas ao mesmo tempo) está na ordem do dia e vivemos com ele. Mas será que vivemos bem? E que é assim que queremos que sejam as nossas vidas?
À primeira vista nunca há nada que possamos deixar para trás ou deixar de querer…, mas se pensarmos bem certamente alguma coisa conseguimos encontrar!
A correria que nos tira paz trás-nos alguma coisa de volta? Numa análise pura de custo benefício, conseguimos dizer que tudo o que fazemos vale mesmo a pena? Deveríamos incluir esta reflexão nas nossas listas de coisas para fazer, pelo menos uma vez por ano!
E enquanto paramos para pensar, ficam algumas ideias do que podemos fazer para tentar viver melhor com o que temos, sem criar muitas ondas ou mudar coisas muito visíveis …:-)
- não achar que temos de fazer tudo para todos e por todos;
- pôr limites no que os outros exigem de si e dizer que não podemos quando o poder nos sufoca;
- pedir ajuda quando não conseguimos fazer o que temos para fazer;
- separar o urgente do importante … e quando para alguém é sempre urgente mandar “pastar” quem pede;
- ter uma “to do list” com separação entre o que tem de ser hoje, esta semana e na próxima, saber os deadlines para tudo o que lá está, rever e arrumar ao fim ou ao início de cada dia;
- organizar os dias com base no que há para fazer todos os dias e na “to do list”, reconhecendo o tempo real que as coisas demoram e deixando espaços vazios para os inesperados que sempre aparecem;
- criar tranquilidade para trabalhar – tirar o som do telefone e só olhar em intervalos definidos, pôr um “do not disturb” na porta ou sítio onde trabalhamos, definir momentos de “atendimento” … e responder torto a quem não os respeitar ;
- criar momentos de pausa durante o dia para respirar fundo, reorganizar trabalho e secretaria / bancada / computador …;
- não levar o emprego para casa, a casa para o ginásio, o ginásio para o jantar… ;
- e obrigar-se a ter um espaço de separação entre cada dia, para fechar um antes de abrir o outro.
Tenho agora de confessar que este texto é um caso típico de “Bem prega Frei Tomaz …Faz como ele diz, não faças como ele faz” porque eu ainda não consigo fazer este trabalho
Mas não perco a esperança! Talvez um dia consigamos reduzir o ritmo. E com isso ficarmos mais felizes!!!!
Boulot, Metro, Dodo
Je n’ai jamais vu ma voisine
Mon Alcatraz, c’est Paris
Dans ma cellule : deux-pièces cuisine
Je mange, je dors, je bois, je ris
Dès le matin, dans mon bureau
Je pense déjà à mon dodo
Midi : sandwiches et re-boulot
Tout en parcourant les journaux
Dodo, métro
Chacun pour soi dans son ghetto
Boulot, dodo
Dodo, métro, boulot, dodo
Encore un jour d’éliminé
D’autres viendront qu’il faudra tuer
Dans la cohue, on griffe, on pousse
Mais la télé nous attend tous
Dodo, métro
Chacun pour soi dans son ghetto
Boulot, dodo
Dodo, métro, boulot, dodo
Mais le samedi avec Mireille
Nous rêvons aux grands arbres verts
Dans sa superbe banlieue dortoir
Je lui fais l’amour tard le soir
Dodo, métro
Chacun pour soi dans son ghetto
Boulot, dodo
Dodo, métro, boulot, dodo