Entrevista/ “Consideramo-nos artesãos tecnológicos”
Proporcionar experiências únicas ao consumidor, marcar a diferença na relação entre as marcas e os seus clientes é a missão da Artica cujos fundadores se definem como “artesão tecnológicos”. Guilherme Martins e André Almeida apresentam o projeto que criaram há quase uma década e explicam porque é uma forma diferenciadora de comunicar num mercado altamente competitivo.
Há dez anos que a Artica desenvolve tecnologia aplicada à criatividade para ativações de marca ou exposições, quer em Portugal quer além-fronteiras. Com um extenso currículo de trabalhos, o projeto criado por Guilherme Martins e André Almeida promete continuar a criar experiências únicas que promovam a relação entre marcas e consumidores, com base em tecnologias como realidade aumentada, por exemplo. As soluções que concebem aplicam-se em exposições temáticas, museus, espetáculos musicais, ativações de marca ou campanhas de marketing.
O maior volume de faturação da empresa é proveniente de clientes internacionais, com destaque para os Estados Unidos. E é no plano internacional que os dois fundadores da Artica querem continuar a apostar, a par do desenvolvimento de projetos de investigação.
O que é a Artica? Qual a sua proposta de valor para o mercado?
Guilherme Martins (G.M.): A Artica é uma empresa que fornece soluções tecnológicas personalizadas nas áreas da cultura e do marketing. Consideramo-nos artesãos tecnológicos que, com base na interação homem/computador, ultrapassam a relação quotidiana com a tecnologia e criam experiências mais físicas e táteis. Essas experiências aplicam-se em exposições temáticas, museus, espetáculos musicais, ativações de marca e campanhas de marketing.
Que projetos já desenvolveram até agora? Em que áreas?
André Almeida (A.A.):Trabalhamos com entidades e empresas culturais, como museus e festivais, mas também com empresas de ativação de marca, nomeadamente, agências de marketing, publicidade e meios, agências que fazem exposições temáticas, entre outros.
Os projetos mais recentes de grande importância foram, por exemplo, as instalações que preparámos para a exposição “Cérebro – Mais vasto que o céu”, que esteve na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Para esta exposição, desenvolvemos 12 interativos e uma escultura de 15 metros que representava um neurónio interativo em sinapse.
Além deste projeto, temos vindo a trabalhar para uma exposição Marvel Avengers S.T.A.T.I.O.N., que esteve presente em Las Vegas e em Paris. Fomos os responsáveis pelo jogo final da exposição, uma instalação de grandes dimensões com nove ecrãs verticais, onde as pessoas jogavam nos telemóveis sem a necessidade de instalar qualquer aplicação.
Quais os projetos mais emblemáticos e mais representativos do que é o vosso core?
A.A.: Um dos que mais gostámos de fazer foi uma intervenção artística no festival Aura, em Sintra. Aqui desenvolvemos um laser que era visível num espaço de mais de 100 metros, que levitava nesta área e era interativo. Nas ativações de marca, a equipa desenvolveu soluções como o Toppi, o robô da KitKat que personalizava chocolates conforme o desenho e a cor escolhida pelo utilizador, bem como um jogo de multi-utilizadores para a Control, em que estes podem jogar em cima de uma cama. Estas interações estiveram presentes em festivais como o Super Bock Super Rock, o Rock in Rio, o MEO Sudoeste e o Sumol Summer Fest.
O nosso objetivo é mudar a perceção de que a realidade virtual é uma experiência solitária e permitir a interação com mais do que uma pessoa (…)”
A Artica quer que a experiência do consumidor em realidade virtual seja diferente. De que forma se propõe fazer isso?
G.M.: Estamos a desenvolver um projeto chamado Interact, que é uma investigação cofinanciada pela Comunidade Europeia. Este projeto visa a exploração de novos paradigmas de realidade virtual e realidade aumentada de forma bastante inovadora. O nosso objetivo é mudar a perceção de que a realidade virtual é uma experiência solitária e permitir a interação com mais do que uma pessoa, ou seja, com audiências, com grandes grupos de pessoas. Ao ser implementado, estamos a mudar completamente a experiência de um consumidor em realidade virtual.
Este sistema em que estamos a trabalhar permite que haja interação com objetos físicos. O utilizador interage com estes objetos móveis na realidade física e os objetos são, ao mesmo tempo, transpostos para a realidade virtual. Para introduzirmos um objeto real na realidade virtual, modelamo-lo primeiro e colocamos-lhe um tracker, isto é, um localizador. Se uma pessoa estiver no meio virtual e eu lhe passar o objeto físico para a mão, a pessoa reage naturalmente, agarrando ou manipulando o objeto.
“Temos tido, desde o início, uma ótima recetividade ao nosso trabalho de empresas internacionais, tanto que representam entre 60% e 80% da nossa faturação”.
Desenvolvem tecnologia aplicada à criatividade para ativações de marca ou exposições, em Portugal e além-fronteiras. É fácil fazer com que a criatividade nacional consiga vingar lá fora?
A.A.: Temos tido, desde o início, uma ótima recetividade ao nosso trabalho de empresas internacionais, tanto que representam entre 60% e 80% da nossa faturação. Acreditamos também que é fruto do nosso investimento em constante inovação, na exploração de novas tecnologias, novas abordagens e novos contextos de utilização destas tecnologias.
O mercado está em crescimento e cada vez mais os nossos projetos, por proporcionarem experiências únicas ao consumidor, são vistos pelas empresas como uma forma diferenciadora de se destacarem num mercado altamente competitivo. O nosso produto final é a experiência do consumidor e é o tipo de soluções únicas que oferecemos que o mercado está neste momento à procura.
Qual tem sido, globalmente, a recetividade do mercado (empresas e consumidores) à vossa oferta?
G.M.: Desde a fundação que temos desenvolvido projetos, na nossa opinião, diferenciadores e com qualidade e isso tem-se refletido também na opinião dos nossos clientes que acabam por nos recomendar a outros. Costumam referir-se a nós como “aqueles que fazem coisas que não existem no mercado” e reconhecem frequentemente a nossa capacidade de fazermos instalações sólidas e robustas.
Em nove anos de atividade quais foram as vossas principais dores de crescimento tendo em conta as especificidades do setor em que atuam?
A.A.: O maior desafio tem sido quando temos múltiplos projetos ao mesmo tempo, pois, por vezes, torna-se complicado gerir a equipa, os meios e não perder o foco.
“Os Estados Unidos são, atualmente, o nosso principal mercado (…)”
Para onde se dirige a vossa aposta empresarial, mercado nacional ou internacional? Em que países em particular e porquê?
G.M.: Atualmente, trabalhamos muito com o estrangeiro. Os Estados Unidos são, atualmente, o nosso principal mercado, com peso na nossa faturação entre 60% e 80%. Na nossa opinião, o mercado norte-americano está mais preparado para este tipo de soluções por ser maior, mais competitivo, mais abrangente e, por natureza, as marcas estão mais orientadas para ativações diferentes e inovadoras. No entanto, é visível que o mercado nacional, nos últimos anos, também tem acompanhado estas tendências de proporcionar experiências únicas ao consumidor.
Quais são os vossos planos para este ano no que toca à estratégia de crescimento da empresa e lançamento de produto?
Estamos constantemente à procura de novas soluções, novos paradigmas e novos contextos para aplicar as nossas tecnologias e o mercado também está sempre sedento de novidades. Portanto, as expetativas são muito positivas.
Quem são Guilherme Martins e André Almeida, fundadores da Artica? O que os motivou a embarcarem nesta “aventura”?
G.M.: Antes da Artica ser fundada, eu já somava uma vasta experiência em design e design de interação. Tive também um vasto percurso na criação de conteúdos visuais para projeção em palco em obras de teatro, ópera e dança. Sempre fui fascinado por tudo o que envolva exploração artística e tecnológica, dediquei-me a título pessoal à eletrónica e fabrico digital, levando-me mais tarde a lecionar workshops de robótica criativa. Atualmente, na Artica, dedico a maioria do meu tempo ao desenvolvimento da iniciativa Open-Source intitulada Artica Instruments, que envolve a criação de interfaces físicas modulares genéricas para computação física.
A.A.: Eu somo uma extensa experiência em arquitetura de interatividade e criação tecnológica. Desde cedo, que sou amante das artes de palco e, no meu percurso nesta área, privei com alguns dos mais conceituados artistas nacionais, o que me abriu ainda mais o gosto pela participação em toda a conceção e materialização artística e sua fusão com elementos físicos digitais.
Depois de concluir o curso de engenharia, prossegui um percurso profissional relacionado com tecnologias interativas, tendo participado em vários projetos emblemáticos de tecnologia interativa portugueses. Atualmente na Artica, sou mentor em design de interação, sendo que a minha paixão pessoal por estas áreas, está presente em todos os objetos produzidos na Artica, e vai desde a conceção do modelo de negócio até à participação ativa no desenvolvimento e conceção dos objetos que a Artica tem vindo a apresentar.
Como surgiu então a empresa?
G.M.: A empresa surgiu em 2010 e veio da necessidade dos fundadores juntarem as suas valências e trabalharem em conjunto para explorar aquilo que mais gostam de fazer, criando uma empresa que desenvolve produtos e serviços únicos não-existentes no mercado. A formação da empresa só surgiu depois nos perceberemos que aquilo que faziamos em conjunto tinha valor, ou seja, o desenvolvimento de tecnologia criativa que nos dava prazer, tinha potencial no mercado.
Esta ideia foi validada antes de se lançar a empresa, e não o contrário. O nosso objetivo principal é sempre inovar criativamente. Estamos em constante exploração de novos meios tecnológicos, novos meios criativos e formas de aplicar novos paradigmas às inovações tecnológicas que vão surgindo.
Respostas rápidas:
O maior risco: Apostar num mercado que ainda se está a construir e com uma pequena dimensão em Portugal.
O maior erro: Fizemos alguns erros na gestão de equipas de acordo com as necessidades pontuais de alguns projetos.
A maior lição: Quando lançamos um produto no mercado, temos de nos preparar para fazer frente às exigências comerciais que daí advêm.
A maior conquista: Conseguir ter soluções relevantes implementadas nacional e internacionalmente com reconhecimento por parte dos parceiros e do público, da qualidade, unicidade e robustez das mesmas, isto num mercado internacional altamente competitivo.