Opinião
O que é o efeito Pratfall na liderança
O efeito Pratfall, originário em 1966 por Elliot Aronson e mais refletido em vários artigos de psicologia social, explica que um indivíduo que já seja visto como muito competente num determinado setor se torna mais empático aos demais depois de cometer um erro nesse mesmo setor de competência. Por outras palavras: errar é humano e demonstra capacidade de arriscar, aprender e evoluir. Mas há um twist…
Na capacitação de um indivíduo para se tornar um bom líder muitos fomos “bebendo” da imagem clássica do ser aprumado, perfeito, imaculado, infalível. Nenhum cabelo fora da linha. Fato engomado e gravata impecavelmente direita. Segurança a toda a prova. E decisões acertadas. Sempre. Sem vacilar.
Só que não.
A vida real demonstra que isso acontece apenas nos filmes. Ou naqueles contos cor-de-rosa de meia página no final de revistas de passatempos. Ou ainda apenas nos anos mais recentes cultivado nos feeds das redes sociais por entre fotos de vidas imaginariamente perfeitas e belas. O tempo e a verdade, que são sempre leves e sobem mais rápido que a mentira, foram trazendo os factos à tona, levando à descrença, comprovando ser irreais tais imagens.
No lado oposto, a admiração surge pelos influenciadores sociais que vão demonstrando capacidade de pedir desculpa quando erram e, acima do erro, demonstrando um compromisso com ações que impedem erros iguais no futuro. Adicionalmente (eis o twist), gerem esse erro de forma sincera e humilde; focam-se mais na solução e na aprendizagem do que na autocomiseração, autocrítica ou, pior, na justificação alheia para a falha. Não interessa o erro nem quem errou, interessa resolvê-lo.
Exemplos não faltam que reforçam o efeito Pratfall na liderança. Ao contrário de Steve Ballmer que gozou com o lançamento do iPhone (mostrando o tempo que estava errado), também Bill Gates achou que a internet não teria futuro, muito menos para a Microsoft. Mas enquanto Ballmer se manteve fiel à sua crença, Gates cedo percebeu o potencial da web e reconheceu estar errado, depressa embarcando e acelerando o passo; primeiro tentou unir-se à AOL, mas, com a recusa desta, avançou com o seu Internet Explorer e passou a liderar o acesso à web nos anos 90 e no princípio do século seguinte, até chegar a Google (mas isso já é outra história).
Do lado da Tesla, Elon Musk apresentou o CyberTruck em 2019 e uma das funcionalidades bandeira eram os seus vidros inquebráveis. Musk, em direto no evento, atirou um tijolo a um vidro do carro… e este partiu; atirou novo tijolo a outro vidro, mas de novo este partiu também… Reação? Riu-se, admitiu a falha e logo nos dias seguintes colocou à venda no site da Tesla uma t-shirt para qualquer pessoa comprar, com uma imagem de vidro partido, para assim lembrar e “celebrar” a falha (admito que o próprio Musk terá usado uma dessas t-shirts num dia no escritório, para lembrar a todos que os erros acontecem e devem ser postas mãos à obra para os evitar). Não é uma bandeira de orgulho, mas uma nota à navegação que algo tem de ser melhorado e deve ser assumido por todos, a começar pelo próprio.
O que nos ensina então o efeito Pratfall aplicado à liderança é que não deve ser tentativa a criação de uma imagem imaculada, mas sim demonstrar proximidade e frontalidade. O mais recente ataque violento à infraestrutura da Vodafone voltou a demonstrar isso mesmo. A Vodafone, e bem, teve no seu CEO o rosto da comunicação em tamanho momento único na história da empresa. E foi esse assumir frontal, verdadeiro e sem artifícios que reforçou a credibilidade, empatia e até, poderei arriscar, admiração.
Não sendo psicólogo clínico não me custa contudo perceber como cidadão e profissional que como seres humanos rejeitamos com desconfiança o que é “bonito demais” e “perfeito demais” (aliás, como exemplarmente provado no livro “The Aesthetic Brain”, de Anjan Chatterjee, mostrando como rostos simétricos são mais atrativos… desde que não demasiado simétricos).
Abraçar uma maior partilha natural do que fazemos, inclusive dos erros, demonstra não apenas segurança como é simplesmente a lei da vida. “People make mistakes”. O que interessa é como se gerem os mesmos. É isso que nos torna especiais (ou não) aos olhos dos outros.