Urban Sports: uma empresa com mulheres em posições de liderança

Departamentos de comunicação e marketing, entre outros, da Urban Sports Club são liderados por mulheres que se orgulham de vestir a camisola todos os dias. E se algumas quando entraram para a empresa não eram praticantes de desporto, hoje falam de uma realidade diferente. Fomos conhecer as suas histórias.
A Urban Sports Club, a app de desporto e bem-estar, chegou a Portugal no início de 2019 e já conta com 12 mil espaços parceiros, onde os subscritores podem treinar, fazer massagens, ter aulas de yoga ou praticar qualquer uma das 50 modalidades disponíveis.
A empresa foi criada em 2012, na Alemanha, por Moritz Kreppel e Benjamin Roth, com o objetivo que cada pessoa faça o seu próprio plano de treino, com as modalidades que quiser e o tempo que determinar. Com uma única subscrição, é possível treinar em mais de 12 mil locais parceiros em Portugal, Alemanha, França, Espanha e Itália, o que significa que mesmo que esteja em viagem pode continuar a aceder a aulas online, a ginásios nas cidades onde está a passar uma temporada ou a atividades físicas ao ar livre, desde que pertença ao agregador. Em Portugal, a Urban Sports Club conta com mais de 700 parceiros nas áreas da Grande Lisboa e Porto.
Ana Morais, marketing manager Portugal, Liz Andrews, managing director Spain & Portugal, Araceli Escobedo, head of Marketing Spain & Portugal, e Patrícia Adrover, head of partner management Spain & Portugal da Urban Sports Club, falaram ao Link To Leaders sobre como chegaram à empresa, dos seus desafios e de como é ser mulher no setor do desporto.
Isto porque, apesar do aumento gradual da sua participação no desporto, as mulheres continuam sub-representadas nos órgãos de decisão das instituições desportivas a nível local, nacional, europeu e mundial. Os dados de um relatório sobre as mulheres no poder e na tomada de decisão, elaborado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) para a Presidência luxemburguesa do Conselho da União Europeia, mostram que, a nível europeu, em média, as mulheres ocupam 14% dos cargos de decisão nas confederações continentais dos desportos olímpicos na Europa. Nas 28 confederações analisadas, apenas uma mulher ocupava o cargo de presidente e oito o de vice-presidente, num total de 91.
“Prepara-te, informa-te, foca-te, sê forte para lidar com adversidades e obstáculos, mas não deixes de ir por seres mulher. Sê estratégica nas tuas decisões, tendo sempre em vista o resultado que queres obter ”, Ana Morais, marketing manager Portugal da Urban Sports Club.
Como é que estas quatro mulheres entraram na Urban Sports Club?

Ana Morais
“A vida é mais divertida com um bom desafio. Quando entrei na empresa foi um desafio ainda maior – eu era tudo menos desportista. Era a típica pessoa que se inscrevia no ginásio, pagava a mensalidade, mas nunca ia. E agora trabalho com desporto todos os dias e visto a camisola a 100%. Adoro a empresa, o conceito e o trabalho em si, portanto é um desafio incrível”, começa por revelar Ana Morais, marketing manager Portugal da Urban Sports Club.
Para Ana Morais, “hoje em dia tenho uma vida muito mais saudável e uma relação com o desporto que nunca sonhei ter. Olho para o desporto não como uma obrigação e um frete, mas como algo que me diverte e me dá gosto fazer”.
Já Araceli Escobedo, head of marketing Spain & Portugal da Urban Sports Club, trabalhava na indústria do fitness desde 2004, nomeadamente para grandes cadeias de ginásios. Mais tarde, teve também a oportunidade de contribuir para a transição da indústria para estúdios especializados – que acabaram por dar origem a vários novos estúdios de fitness em toda a Europa.
“Vai à luta! És tu que tens de fazer acontecer, por isso começa já e faz algo todos os dias pelo teu objetivo, acreditando em ti própria para o fazeres. Se realmente acreditas no teu projeto, podes realizá-lo – não importa o que possa ser”, Araceli Escobedo, head of marketing Spain & Portugal da Urban Sports Club.

Araceli Escobedo
“Enquanto fui brand manager numa grande cadeia de ginásios, comecei a ouvir falar de agregadores de fitness e pareceu-me uma uma ótima ideia – era uma nova forma de facilitar o desporto a todos! Mais tarde, descobri que o Urban Sports Club estava a chegar a Espanha e que tinha condições de começar o projeto em Espanha como senior marketing manager. Mais tarde, tornei-me head of marketing para Espanha e Portugal, e tenho estado rodeada por uma equipa fantástica desde o primeiro dia”, conta ao Link To Leaders, depois de ter enfrentado um cancro da mama.
Também Liz Andrews, managing director Spain & Portugal da Urban Sports Club, se orgulha das decisões que tomou e de vestir a camisola da empresa. “As decisões de que mais me orgulho são as que me levaram para fora da minha zona de conforto e me desafiaram e permitiram progredir na minha carreira. A primeira foi mesmo mudar-me para Portugal em 2012, quando assumi o cargo de diretora para a Região Ibérica numa cadeia de ginásios. A segunda decisão de que mais me orgulho foi começar no Urban Sports Club no início de 2019, depois de ter estado na mesma empresa durante 16 anos – percebi que o verdadeiro desafio é reconhecer quando é tempo de fazer uma mudança, ou escolher quando se tem mais do que uma opção”, revela Andrews.
Patrícia Adrover, head of partner management Spain & Portugal, conta que, no seu caso, “tudo começou em 2018. Quando me mudei para Portugal em 2017, decidi criar o meu próprio emprego, trazendo para Lisboa um dos meus conceitos favoritos na área do Desporto – com base num modelo de negócio semelhante ao do Urban Sports Club. Após um ano de construção da empresa, o Urban Sport Club adquiriu-a, e depois ajudei a construir a operação em toda a Península Ibérica”.
“Envolve-te em projetos e iniciativas em que realmente acreditas. Ter um propósito e uma paixão são dois dos fatores-chave para alcançar o sucesso”, Liz Andrews, managing girector Spain & Portugal da Urban Sports Club.
O que falta às mulheres portuguesas para terem maior representatividade nos cargos de liderança?
As quatro acreditam que a situação está a mudar, mas que é preciso acreditar e haver mais mulheres nos cargos de chefia.

Liz Andrews
“Temos de deixar cair a ideia retrógrada de que as mulheres são incapazes, frágeis, demasiado emocionais, pouco resilientes ou qualquer outro preconceito que exista. A única coisa que define um bom profissional são as suas competências e a sua personalidade. Ser homem ou mulher é irrelevante, tal como o seu aspeto, orientação sexual, crenças e qualquer outra coisa. As mulheres só têm de ter confiança nas suas capacidades e ignorar quem diz o contrário, com a humildade apenas de receber críticas construtivas para crescer – tal como os homens”, sugere Ana Morais.
Também Araceli Escobedo refere que “temos de continuar a acreditar ainda mais em nós, a dar ainda mais vezes esse passo em frente e a apoiarmo-nos umas às outras ainda mais!”.
Liz Andrews, defende a união: “a principal barreira residirá no facto de a nossa sociedade ainda estar assente num sistema patriarcal, enraizado nas nossas tradições e num ambiente com elevada resistência à mudança. Por mais que as pessoas queiram ver progressos e alcançar a igualdade de género, existem muitas agendas, preconceitos e burocracias que dificultam mudanças desta escala. Além disso, indivíduos, instituições, associações e entidades são naturalmente mais resistentes à mudança. Por isso, homens e mulheres têm de se unir e tomar uma posição ativa em prol da igualdade – todos nós temos uma responsabilidade nisto”.
Na sua opinião, Patrícia Adrover considera que deve haver mais mulheres em posições de liderança porque “quando vemos alguém numa determinada posição ou papel, torna-se automaticamente uma coisa possível para todos os seus pares – torna-se algo pelo qual se realmente pode passar a lutar, e algo no qual nos podemos tornar. Por outro lado, seria muito importante termos as mesmas políticas de apoio em torno da licença parental”.
E quem as inspira?

Patrícia Adrover
Sabe o que é que Beatriz Ângelo, Sheryl Sandberg, Ellie Flenga, anterior CEO da cadeia de ginásios do Holmes Place na Grécia, e a indiana Amon, uma proprietária de uma loja de bairro, têm em comum? Inspiram estas mulheres que lideram departamentos na Urban Sports.
Ana Morais fala de “Carolina Beatriz Ângelo, por ter sido médica no início do séc. XX e por ter sido a primeira mulher a votar em Portugal. Teve confiança e coragem para questionar um estigma e romper um preconceito, o que será sempre de louvar”.
Araceli Escobedo destaca a sua mãe, “uma mulher sempre muito à frente para o seu tempo, independente e forte. Também me senti muito inspirada há anos pela Sheryl Sandberg e pelo seu livro “Lean In”, que recomendo a todas as pessoas que ainda não tiveram oportunidade de o ler”.
“Só o facto de tomar a decisão de ser uma jovem empreendedora levará a uma mudança de carácter muito importante, porque fará a pessoa sair da sua zona de conforto”, Patrícia Adrover, head of partner management Spain & Portugal.
Liz Andrews evidencia a anterior CEO da cadeia de ginásios do Holmes Place na Grécia, a Ellie Flenga. “Tem uma postura extremamente poderosa, é muito orientada para os seus objetivos, altamente respeitada pelos seus pares e é uma verdadeira visionária. É incrível como a essência de Ellie se sentia em cada clube, em cada departamento e em cada pessoa. Tive o prazer de trabalhar na Grécia e senti realmente o impacto da Ellie em todo o lado e em todos os cantos do negócio. Todos os gestores falavam muito bem dela como líder e mencionavam frequentemente o facto de se preocupar tanto com as suas pessoas e com o seu trabalho, ao mesmo tempo que sabia liderar com responsabilidade e respeito. Para mim, ela resume muito bem o que deve ser um líder”, justifica.
Por fim, Patrícia Adrover refere-se a “Amon, uma proprietária de uma loja no meu bairro. Mudou-se da Índia para cá a fim de ter uma vida melhor para a sua família, que ainda vive no seu país de origem. Qualquer mulher no mundo que tome uma decisão como esta – de se mudar para um novo país sem ligação à sua família, cultura, ou língua, para começar um novo negócio – é uma inspiração para mim. Esta ousadia de arriscar tudo por algo maior do que nós mesmas é aquilo que me inspira realmente!”.