Entrevista/ “É preciso dinheiro para fazer dinheiro”

Substituir as velhas tomadas brancas que escondemos por um dispositivo com um design apelativo e que permite carregar até 15 aparelhos de cada vez. Foi a partir desta ideia que nasceu a Egg. Conheça mais sobre a start-up na entrevista a Ricardo Roque, cofundador e growth hacker da Egg Electronics.
Como é que surgiu a necessidade de criar uma tomada com um design apelativo?
Veio de uma velha máxima que funciona muito bem no mundo dos negócios, simplificar sem complicar. E carregar dispositivos móveis estava a ficar complicado. Temos muitos, precisamos de os carregar pelo menos uma vez por dia e é um fenómeno muito recente, pelo que ainda utilizamos a tomadas velhotas, que provavelmente mantemos debaixo da mesa da secretária ou atrás do monitor do computador. O conceito da Egg foi, de uma forma muito simples, trazer a eletricidade para mais próximo do ponto de utilização, tornando os carregamentos quotidianos muito mais convenientes. E, a forma de conseguir isso tinha de ser com design e não com rocket science. Desta realização eclodiu a Egg.
Vão-se manter focados no EGG Powerstation ou estão a pensar em desenvolver um novo produto?
O pipeline de produtos da Egg é muito interessante porque é pensado para simplificar ao máximo o quotidiano de carregar os dispositivos elétricos, seja em que situação for. Temos até final de 2019 cerca de nove produtos novos para colocar no mercado e que pretendem fazer da Egg Electronics o “canivete suíço” do carregamento de dispositivos elétricos.
A Egg foi criada em 2013. Três anos depois recebeu uma ronda de investimento da Portugal Ventures, EDP, Ganexa Capital e Creative Wings. O que é que este dinheiro fez pelo projeto?
O nosso barco só içou velas realmente em finais de 2014 quando a Egg e a EDP Ventures aceitaram termos contratuais que permitiram o kickoff de todo o desenvolvimento necessário da Egg PowerStation. Isso significa todas aquelas coisinhas que custam muito tempo e dinheiro: prototipagens, moldes, certificações de produto e produção de primeiro batch [lote] piloto industrial. Foi tudo gerido por nós. Não foi tarefa fácil, mas a prova de termos superado o teste é estarmos aqui hoje.
Depois, em finais de 2015, tivemos uma entrada de capital também ela muito importante para completarmos as primeiras entregas comerciais. Hardware é muito capital intensive e é preciso dinheiro para fazer dinheiro. Sem histórico e sem vendas, os bancos não financiam – nem devem vir a financiar – pois o risco é elevado e o dinheiro não lhes pertence.
Foi no último trimestre de 2016 que a Egg, Portugal Ventures, EDP Ventures, GC [Ganexa Capital] e CW [Creative Wings] acordaram os termos de investimento de uma ronda seed que permitiu, entre outros, profissionalizar a equipa, atrair talento e ter o fundo de maneiro que necessitávamos para poder produzir/vender. Este foi, de resto, um dos nossos grandes desafios: ter a sensibilidade necessária para investir em stock assegurando a saúde financeira da empresa.
Para além do apoio monetário, contaram com mais alguma ajuda destas entidades?
Contamos com muita ajuda de todos. Desde contatos valiosos, a experiências valiosas com outras participadas a, não menos importante, ajuda para criar uma comunidade! Existe muito entusiasmo em torno da nossa empresa e entusiasmo gera entusiasmo, o que é uma espécie de combustível extra para andar mais rápido.
Quais são os mercados onde têm mais sucesso?
No momento os nossos mercados de maior sucesso são, sem sombra de dúvida, a Amazon e a Brindes Corporativos. São aqueles mercados onde nos temos concentrado mais e que melhor se abordam enquanto start-up de recursos limitados. Tudo muito ágil, muito descomplicado, com cadeias de preço fáceis de aceder. Talvez, por isso, as nossas taxas de crescimento mensais na Amazon sejam de 70%.
Como é que caracterizariam o tipo de cliente que procura o vosso produto?
A demografia de quem compra os nossos produtos é muito flat. Temos clientes dos 18 aos 70 anos e estamos muito felizes que seja assim. Temos pessoas que ficam maravilhadas com a funcionalidade da Egg PowerStation, outras com as formas elegantes do produto, outras com os designs lindíssimos com que podem decorar. O facto é que é um produto que em Portugal não será para todas as carteiras, pois a versão básica vende-se por 39,95 euros enquanto que as com padrão vendem-se por 49,95 euros. Uma dica: lançamos promoções de descontos muito generosas por várias ocasiões, pelo que vale a pena andar atento!
Quantas pessoas estão empregadas direta e indiretamente pela empresa?
Temos em full-time cinco pessoas, em part-time três pessoas, e três comissionistas.
O que é preciso fazer para ter uma start-up bem-sucedida em Portugal?
Não há uma fórmula. Mas, grosso modo, há duas formas de meter uma organização pro-profit a trabalhar: o método americano e o método europeu. O americano é investir muito dinheiro em equipa, construindo uma capacidade operacional da organização muito elevada. Depois da infraestrutura montada explodir para dentro do mercado. No modelo europeu, mais conservador, a capacidade operacional vai-se aumentando com os sinais que o mercado vai dando. O mercado EU, como tem muito mais barreiras e é menos consumista, é também mais lento. Nesta realidade, é importante que a equipa de fundadores consiga, portanto, escalar capacidade operacional sem grandes custos fixos. Dica: relações muito fortes com seniores na área e abertura para repartir ganhos são excelentes ferramentas para escalar capacidade sem custos fixos. Parte do nosso trabalho diário para fazer a Egg um caso de sucesso real passa por aqui.
Que planos têm até ao final de 2018?
Até final de 2018 temos em agenda lançar mais dois produtos absolutamente inovadores e começar vendas nas Américas. Temos também o objetivo de garantir uma Series A com um investidor estrangeiro, já muito bem perfilado e com interesse real na Egg. Este investidor, que tem na sua carteira de investimentos dois unicórnios e uma empresa de uma estrela de Hollywood, poderá trazer à Egg uma exposição imediata em mais de 250 milhões de agregados familiares por toda a Europa.