Opinião
O passado já passou!

O passado já passou! Não pode ser apagado, antes pode e deve servir para aprendermos a construir um mundo melhor…
Por muito que nos custe, o que lá vai, lá vai. Serve para ganhar experiência, para aprender com erros, para descobrir caminhos de vitória, para perceber o que se pode / não pode, deve / não deve, consegue / não consegue fazer. Mas não se pode mudar!
Só tolos – ou cineastas e escritores com máquinas do tempo – acreditam que podemos eventualmente conseguir mudar o que já aconteceu.
E se o conseguíssemos … até nos filmes e nos livros já percebemos que alterar o que aconteceu no passado, mesmo que com boas intenções (evitar uma catástrofe natural, salvar pessoas, afastar guerras, prevenir epidemias…), tem consequências imprevisíveis e nem sempre benéficas para a sociedade.
Também na nossa vida, quantas vezes suspirámos sobre o que poderíamos ter feito / deixado de fazer e que teria tido melhores resultados, mas sabemos que não adianta chorar pelo leite derramado, certo?
Até cortar as fotografias o ex-namorado da filha não faz com que ele não tenha sido namorado dela!
E só os incultos ignoram que o que em cada época é produzido – da comida às obras de arte, da engenharia aos monumentos, da medicina à ciência, da literatura às culturas agrícolas – está diretamente ligado com a cultura dominante do período em que ocorrem e são dela uma consequência e um espelho. E que, por serem o retrato da sociedade da época, devem assim ser analisados e comentados!
Sim, no passado muitas coisas horríveis aconteceram.
Sim, ao longo dos séculos a humanidade teve momentos terríveis e foi capaz de feitos impensáveis.
É fundamental que todos procuremos perceber a Causa Incausata dos acontecimentos, dos bons e dos maus – porque aconteceu, o que determinou a realidade que se viveu, as razões de quem fez o que fez, o enquadramento em que tudo se passou, etc, etc.
E daí retirar as lições que permitam aproveitar o que de bom e evitar repetir tudo o que de mau foi feito!
Não resisto a voltar ao tema da experiência dos gestores, e à qualidade das suas decisões, enformado por tantas e tantas vivências anteriores!
Os que foram capazes de aprender com o que correu bem e o que correu mal, e com isso moldaram o seu processo de decisão, são certamente melhores do que aqueles que simplesmente ignoram ou desprezam o passado, e preferem apagar os erros cometidos a usá-los para aprender!
Assim estão algumas correntes de pensamento da nossa sociedade!
A querer apagar o passado ou moldá-lo à luz da sociedade de hoje. Reescrever os livros da Enid Blyton? Para…???
Independentemente da agressão aos direitos de propriedade intelectual (tanto quanto sei, não é permitido alterar uma obra de autor sem o seu consentimento), temos o direito de passar uma borracha sobre aquilo que foi feito e de que, por razões até eventualmente válidas, não gostamos?
Devemos esconder e esquecer em vez de usar para aprender?
Querer destruir o Padrão dos Descobrimentos? Para fingir o papel que Portugal teve na abertura da Europa a outros mundos?
Muito do que fizemos, julgado à luz da moral e dos costumes de hoje, está errado, sim! Mas temos de fazer os julgamentos baseados na realidade da época e não com os valores que compõem as bases da nossa sociedade no séc. 21.
Já agora, porque não deitar abaixo as pirâmides, construídas com trabalho escravo (e não é porque tinham um bocadinho mais de direitos que outros escravos que deixavam de o ser!)?
Ou queimar todas as obras de arte sobre conquistas da época dos descobrimentos ou dos vikings?
Destruir todos os altares revestidos com folha de ouro “roubado” a outras geografias?
Acredito que não é este o caminho! Tentemos ler os acontecimentos à luz da sociedade em que ocorreram. Compreender o porquê das coisas situadas no seu tempo. Respeitar (mesmo que não gostemos do que por lá aconteceu) o passado.
E tirar conclusões sobre o que, à luz da nossa cultura atual, entendemos ter sido bem ou mal feito, sobre o que pode ou não ser repetido, sobre o que é ou não aceitável, sobre o que contribui ou não para o bem comum.
E irmos assim construindo a sabedoria que resulta da experiência e que nos permite construir um mundo melhor para todos!