Opinião
O “nós” é sempre mais importante do que o “eu”
A liderança é um equilíbrio difícil e desafiante quando temos de gerir três realidades muito distintas e, por vezes, conflituantes: os meus interesses, os interesses da minha equipa, os interesses da organização.
Na realidade, por diversas vezes os meus interesses não estão alinhados com os da minha equipa e/ou organização. Da mesma forma, nem sempre os interesses da organização estão alinhados com os meus interesses e os da minha equipa. Pode também acontecer que os meus interesses e da organização estejam alinhados, mas os da minha equipa não.
Como gerir então esses diferentes tipos de interesses?
Não há certamente uma resposta certa ou errada, mas partilharei a minha experiência.
Para mim, há uma regra de ouro no exercício da liderança: nunca colocar os meus interesses à frente dos interesses da minha equipa e organização. É uma máxima que procuro sempre cumprir por duas razões muito simples que passo a enumerar:
- Como líder/gestor devo focar-me sobretudo na equipa e na organização;
- Dificilmente terei sucesso se não tiver a minha equipa alinhada comigo pelo que procuro sempre começar por perceber o que são os seus interesses (expetativas e motivações).
Repito que é um exercício difícil, mas sem o qual, creio, a liderança não faz sentido. Tenho consciência que nem sempre é possível encontrar esse alinhamento, diria “perfeito”, entre estas três esferas de interesses: “Eu”, “Equipa” e “Organização”. A questão que se pode colocar é como hierarquizar esses diferentes interesses com vista a uma boa liderança e gestão de pessoas? Há certamente distintas combinações, mas gostaria de me focar em duas que tenho observado ao longo dos anos:
- Há pessoas que tendem a gerir o seu dia a dia profissional, e a sua carreira, colocando em primeiro lugar os seus interesses (Eu) e, só depois, os da Organização/Equipa;
- Há outras, pelo contrário, que tendem a gerir o dia a dia, e a sua carreira, colocando em primeiro lugar os interesses da Organização/Equipa e, só depois, os seus próprios interesses.
Insisto que não me parece que exista “certo” ou “errado” nestas matérias. Todavia, pode ser bem distinta a forma como gerimos, caso optemos por uma abordagem mais centrada no “Eu” ou no coletivo “Organização/Equipa”.
O líder mais centrado em si:
- É mais autocrático;
- Tem maior dificuldade em perceber e sentir a sua equipa e organização;
- Vive mais isolado;
- Dificilmente constrói pontes e compromissos;
- Tende a cometer erros de perceção e a fazer juízos de valor precipitados;
- Pode mais facilmente ser acusado de incoerência.
Já o líder mais preocupado com os interesses dos outros (Organização/Equipa):
- Tem maior facilidade em compreender o todo;
- Desenvolve capacidades de negociação e constrói compromissos com maior facilidade;
- Cria ambientes mais inclusivos;
- É frequentemente visto como um exemplo a seguir;
- Está mais predisposto a aprender;
- Privilegia o médio e longo-prazo em detrimento do curto-prazo.
A minha experiência pessoal diz-me, ainda, que sou mais feliz quando me descentro dos meus próprios interesses porque fico mais livre para discernir, decidir e liderar. Tem sido, pois, claro para mim o caminho a seguir como líder: dar primazia ao “Nós” face ao “Eu”.