Opinião

O “nós” é sempre mais importante do que o “eu”

Diogo Alarcão, gestor

A liderança é um equilíbrio difícil e desafiante quando temos de gerir três realidades muito distintas e, por vezes, conflituantes: os meus interesses, os interesses da minha equipa, os interesses da organização.

Na realidade, por diversas vezes os meus interesses não estão alinhados com os da minha equipa e/ou organização. Da mesma forma, nem sempre os interesses da organização estão alinhados com os meus interesses e os da minha equipa. Pode também acontecer que os meus interesses e da organização estejam alinhados, mas os da minha equipa não.

Como gerir então esses diferentes tipos de interesses?

Não há certamente uma resposta certa ou errada, mas partilharei a minha experiência.

Para mim, há uma regra de ouro no exercício da liderança: nunca colocar os meus interesses à frente dos interesses da minha equipa e organização. É uma máxima que procuro sempre cumprir por duas razões muito simples que passo a enumerar:

  1. Como líder/gestor devo focar-me sobretudo na equipa e na organização;
  2. Dificilmente terei sucesso se não tiver a minha equipa alinhada comigo pelo que procuro sempre começar por perceber o que são os seus interesses (expetativas e motivações).

Repito que é um exercício difícil, mas sem o qual, creio, a liderança não faz sentido. Tenho consciência que nem sempre é possível encontrar esse alinhamento, diria “perfeito”, entre estas três esferas de interesses: “Eu”, “Equipa” e “Organização”. A questão que se pode colocar é como hierarquizar esses diferentes interesses com vista a uma boa liderança e gestão de pessoas? Há certamente distintas combinações, mas gostaria de me focar em duas que tenho observado ao longo dos anos:

  1. Há pessoas que tendem a gerir o seu dia a dia profissional, e a sua carreira, colocando em primeiro lugar os seus interesses (Eu) e, só depois, os da Organização/Equipa;
  2. Há outras, pelo contrário, que tendem a gerir o dia a dia, e a sua carreira, colocando em primeiro lugar os interesses da Organização/Equipa e, só depois, os seus próprios interesses.

Insisto que não me parece que exista “certo” ou “errado” nestas matérias. Todavia, pode ser bem distinta a forma como gerimos, caso optemos por uma abordagem mais centrada no “Eu” ou no coletivo “Organização/Equipa”.

O líder mais centrado em si:

  1. É mais autocrático;
  2. Tem maior dificuldade em perceber e sentir a sua equipa e organização;
  3. Vive mais isolado;
  4. Dificilmente constrói pontes e compromissos;
  5. Tende a cometer erros de perceção e a fazer juízos de valor precipitados;
  6. Pode mais facilmente ser acusado de incoerência.

Já o líder mais preocupado com os interesses dos outros (Organização/Equipa):

  1. Tem maior facilidade em compreender o todo;
  2. Desenvolve capacidades de negociação e constrói compromissos com maior facilidade;
  3. Cria ambientes mais inclusivos;
  4. É frequentemente visto como um exemplo a seguir;
  5. Está mais predisposto a aprender;
  6. Privilegia o médio e longo-prazo em detrimento do curto-prazo.

A minha experiência pessoal diz-me, ainda, que sou mais feliz quando me descentro dos meus próprios interesses porque fico mais livre para discernir, decidir e liderar. Tem sido, pois, claro para mim o caminho a seguir como líder: dar primazia ao “Nós” face ao “Eu”.

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Diogo Alarcão

Diogo Alarcão

Diogo Alarcão tem feito a sua carreira essencialmente na área da Gestão e Consultoria. Atualmente é Vogal do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Foi Chairman da Marsh & McLennan Companies Portugal e CEO da Mercer Portugal. Foi Diretor da Direção de Investimento Internacional do ICEP, de 1996 a 2003. Foi assessor do Presidente da Agência Portuguesa para o Investimento de 2003 a 2006. Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, concluiu posteriormente... Ler Mais..

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