Entrevista/ “O investimento direto estrangeiro é um contributo para a melhoria salarial do país”

A enfâse na marca Portugal, o apoio ao investimento da Diáspora, a importância de conservar a capacidade instalada para o pós-pandemia, a diversificação de mercados de exportação e um novo programa para ligar start-ups portuguesas a Silicon Valley foram alguns dos temas que Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, abordou em entrevista ao Link To Leaders.
As exportações aumentaram 3,5%, totalizando 59.903 milhões de euros, e as importações cresceram 6,0%, correspondendo a 79.977 milhões de euros, em 2019, em termos nominais, face ao ano anterior.
Segundo as Estatísticas do Comércio Internacional de 2019, do Instituto Nacional de Estatística (INE), a balança comercial de bens registou um défice de 20.074 milhões de euros, mais 2.485 milhões de euros face ao ano anterior, uma “evolução desfavorável já observada nos três anos anteriores” e resultante sobretudo, do comércio extra União Europeia (UE), que registou um acréscimo do défice em 1.863 milhões de euros.
Os principais clientes e fornecedores externos de bens a Portugal continuaram a ser Espanha, França e Alemanha, concentrando conjuntamente quase metade das exportações (49,6%, o mesmo peso que em 2018) e mais de metade das importações (53,6%, mais 0,6 pontos percentuais face ao ano anterior).
Na entrevista ao Link To Leaders, o Secretário de Estado da Internacionalização admite que, com a pandemia, as exportações portuguesas só em 2021 ou 2022 voltarão a atingir o patamar de crescimento conseguido em 2019. E apela à união: “A sociedade está a viver um momento, pelo que reforço que era importante ter unidade na ideia de que juntos precisamos de enfrentar esta adversidade. Quanto mais fracionados e de forma confrontacional olharmos para este momento, mais dificuldade teremos”.
Desde janeiro que Portugal garantiu 23 projetos estrangeiros, 20 dos quais já depois da chegada da pandemia. 2/3 estão na região Norte e 40% são projetos industriais novos. Como vê o impacto da pandemia no investimento direto estrangeiro?
Há dois níveis de análise que devemos colocar em cima da mesa. O primeiro é evidente: nós estamos com uma fortíssima redução de investimento direto estrangeiro no mundo. Nós temos hoje um mercado de investimento direto estrangeiro, se podemos dizer assim, que é bastante mais exíguo do que no passado recente. A pandemia levou a que muitas empresas, em função da incerteza, que vivem a adiar decisões de investimento. Isso é evidente.
A segunda dimensão tem a ver com o facto de terem sido introduzidos progressivamente elementos de decisão que nós não tínhamos no passado, ou pelo menos não tínhamos de forma tão presente. Que é a segurança como um elemento muito importante para investir. A segurança, agora numa dupla dimensão que é e segurança das pessoas e de bens, em que Portugal é de facto um país seguro, e esse é um elemento que nos distingue desde o ponto de vista da captação de investimento estrangeiro. Isto é, é uma característica que é uma vantagem de Portuga face a concorrentes. E depois uma outra dimensão, que é a dimensão sanitária, onde a resposta do Serviço Nacional de Saúde e a forma até como os portugueses, como o conjunto da nossa comunidade, têm reagido é um elemento que foi percebido por muitos, especialmente durante a primeira vaga, como um aspeto muito positivo.
Muitas empresas hoje olham para este elemento segurança como um elemento importante e isso tem levado a que Portugal esteja bem posicionado, apesar do mercado ser de menor dimensão, tem vindo a fazer com que Portugal tenha ganho vários contratos onde essa dimensão segurança, que é ter segurança de bens pessoas e saúde, e na dimensão sanitária, seja muito relevante. E, portanto, desde o princípio do ano, nós tivemos 23 decisões de investimento em Portugal, em contexto concorrencial. E acho que isso é importante sublinhar, que Portugal ganhou em contexto concorrencial, o que significa que disputou esses projetos com outros mercados e ganhou, o que nos dá um conjunto de decisões em linha com aquilo que tínhamos no ano passado.
Nós, no ano passado, no conjunto do ano, tivemos 33 decisões positivas, decisões para Portugal em projetos acompanhados por nós, e quando digo por nós, é também pela Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal, acima de tudo, o que nos dá um ano bastante equilibrado, desde o ponto de vista da captação de investimento estrangeiro, através dos serviços da agência e da nossa rede diplomática. Mas o elemento segurança tem sido decisivo.
“O setor aeronáutico é um setor em que que nós temos vindo a fazer uma forte aposta. Eu acho que continuamos a ter boas condições de atrair o investimento nesse setor, em particular na área da defesa e do espaço”.
Quais são os setores que são mais afetados, do seu ponto de vista, e quais os prejuízos para as empresas portuguesas?
Eu acho que há setores que tem sido claramente favorecidos, por um lado, que tem a ver com a indústria farmacêutica, a indústria alimentar e agroalimentar. Isso é claro. Penso também que no caso dos centros de engenharia e dos centros de serviços partilhados, Portugal já tinha no passado conquistado muitos projetos e agora continua a fazê-lo.
Os setores onde temos sido mais penalizados, e onde há mais adiamento de decisões: o setor automóvel e o setor aeronáutico. Parece-nos evidente. O setor aeronáutico é um setor em que que nós temos vindo a fazer uma forte aposta. Eu acho que continuamos a ter boas condições de atrair o investimento nesse setor, em particular na área da defesa e do espaço. Acho que a avião civil passa por um momento de paragem que tem muito a ver com o fenómeno do turismo e a forma como o turismo foi fortemente afetado nesta pandemia e isso é evidente.
No setor automóvel, junta-se à pandemia e ao adiamento de muitas decisões o facto de setor estar em perfeita transição, e essa transição entre as propulsões a combustíveis fósseis para propulsões elétricas – sejam elas a hidrogénio ou a bateria de lítio – e esse processo de transição que já se fazia sentir do ponto de investimento antes da pandemia, é acentuado no pós-pandemia.
Quais têm sido as preocupações que a indústria portuguesa mais lhe tem feito chegar?
A principal preocupação é uma queda muito significativa e abrupta da procura. À qual se junta, nalguns casos, incerteza do lado da oferta, por parte do supply side, mais no que diz respeito à regularidade de abastecimento.
Aliás, no princípio desta pandemia, o nosso primeiro problema foi a regularidade de abastecimentos, não foi a procura, porque a pandemia quando emergiu em Wuhan, um dos nossos primeiros problemas foi que naquela região há um conjunto de empresas que abastecem a Europa e que abastecem, em particular, algumas empresas portuguesas. O nosso primeiro problema foi como gerir a montante esse problema.
A jusante, uma queda muito pronunciada da procura, que tem tido impactos fortes e que levam a que se sinta uma grande dificuldade em prever no futuro próximo a procura e uma boa e adequada gestão dos recursos disponíveis. Daí que o lay off simplificado, o apoio à retoma, as linhas de crédito têm sido fundamentais.
“Acho que o Governo tem feito aquilo que é adequado, que é ir progressivamente introduzindo as medidas porque este é um processo longo, seguramente mais longo do que todos queríamos, mas é um processo longo”.
Acha que são medidas suficientes para ajudar estes empresários, principalmente para quem abriu há pouco tempo um negócio?
Para quem abriu há pouco tempo um negócio é sempre uma circunstância difícil porque tipicamente todos esses instrumentos são instrumentos comparativos. E quando falamos, por exemplo, de redução de faturação, redução de volume de negócios, temos sempre um elemento comparativo entre o antes e o depois.
Evidentemente que as empresas que estão maduras, que têm uma continuidade nos seus processos produtivos, é evidente que essas sentem a queda, sentem a queda profunda, e comparativamente quando olham para trás essa queda é facilmente verificável. Quem começou há muito pouco tempo tem dificuldade em comparar o presente com o passado, que era um passado muito recente e de lançamento. E, portanto, nem sempre é um instrumento tão fácil.
Acho que o Governo tem feito aquilo que é adequado, que é ir progressivamente introduzindo as medidas porque este é um processo longo, seguramente mais longo do que todos queríamos, mas é um processo longo. Começou em março e nós ainda não sabemos quando vamos ter a vacina e esse não saber quando, introduz muita incerteza e, nessa medida, nós temos de ir utilizando os instrumentos de forma progressiva, tendo a flexibilidade de lançar novos apoios quando eles são necessários, mas percebendo que não podemos colocar em cima da mesa todos os apoios possíveis de uma vez só. Para já porque isso teria um custo inimaginável para o conjunto dos portugueses, para os contribuintes. Segundo, porque não seria proporcional à circunstância que vivemos.
Repare, fomos capazes de sair de um confinamento, que vivemos em março, abril e parte de maio, para uma progressiva retoma. Para os meses de julho e, especialmente, agosto e setembro, por exemplo que desde o ponto de vista de exportações de bens já foram bastante melhores – agosto particularmente, foi praticamente ao nível de agosto de 2019, nos bens.
Claro que no turismo tivemos alguma dinâmica turística longe do passado, eu sei, mas agora voltamos a ter uma situação mais complicada, mais complexa. Estamos hoje a falar no primeiro dia do novo estado de emergência e, portanto, o Governo aquilo que fez foi rapidamente procurar apresentar novos instrumentos. Quer para o setor exportador – o senhor Ministro da Economia teve oportunidade de apresentar esses instrumentos que são cumulativos com os outros que já estavam em vigor, quer nas linhas de recursos de crédito em mercados da OCDE, claramente funcionam de forma excecional ao abrigo de um quadro temporário de auxílios de Estado, e outros instrumentos que foram lançados no passado.
Todos percebemos a ansiedade das empresas, o momento difícil porque que passam os empresários, que não é diferente do momento difícil que vive o Serviço Nacional de Saúde, que vivem as forças de segurança, mas que nos obriga de forma bastante racional e de cabeça fria, a ir introduzindo, de forma progressiva, os apoios, porque é a forma mais racional de gerir recursos que são muito escassos. E, portanto, isso é aquilo que o Governo tem feito.
Falando um pouco da indústria têxtil, que tem sido uma das mais afetadas, quais acha que são os desafios que enfrentam neste momento para não colapsar e o que lhes diria neste momento? Quais seriam os seus conselhos para estes empresários?
Eu tenho um grande respeito e até devo dizer, tenho uma admiração pelo setor da indústria têxtil e vamos estender a indústria têxtil a vestuário e calçado, à área da moda. Habituamo-nos, nos últimos anos, a falar dessa indústria como uma indústria exemplo na forma como se adaptou a uma realidade completamente diferente desde o ponto de vista competitivo, com a adesão de muitos países, em particular da República Popular da China, à Organização Mundial de Comércio, a forma como concorre, de forma muito competitiva, com origens fora da União Europeia, que tem condições preferenciais de introduzir os seus produtos no mercado da União Europeia, como foi capaz de se destacar, diferenciando os seus produtos e oferecendo mais qualidade e mais design.
E tenho até alguns pruridos em dar conselhos a um conjunto de empresários que foi capaz de responder de forma tão rápida. Mas há um que me parece evidente e que eles próprios assumem como um dos seus grandes desafios que é o de apostar claramente nos canais digitais. Isso era uma tendência, acentuou-se muitíssimo nesta fase de pandemia. Especialmente no vestuário há setores em grande dificuldade porque o confinamento e o teletrabalho não são propriamente indutores do aumento de compras de vestuário, bem pelo contrário.
O facto de não termos o nosso convívio social, mesmo em família – casamentos, batizados, eventos empresariais -, a clara redução desse tipo de eventos teve impacto na procura do setor de vestuário e a montante no setor têxtil. Setores fortemente compradores de vestuário com o é próprio turismo e a própria aviação, neste momento estão em fase de fortíssima redução de procura, e, portanto esse setor tem um forte impacto e precisa de ser apoiado, em particular para poder ajustar bem o nível de recursos humanos e por isso o lay off simplificado e os instrumentos de apoio à retoma.
E os canais digitais passam a ter um elemento central. Não vale a pena ter a ideia de que serão substitutivos por inteiro da procura que tínhamos, mas nós já sabíamos que eram centrais e fundamentais para responder a uma alteração da procura.
O segundo elemento e que tenho tido oportunidade de ver com bastante interesse numa transformação progressiva da nossa indústria é a aposta claramente em matérias-primas que sejam recicláveis, que nos permitam estar próximo da utilização sustentável dos recursos.
Foi muito interessante ver nas últimas feiras a que fui, e em particular a última a que fui na área do calçado, que isso já estava muito presente, que é a forma como rapidamente tem evoluído para ofertas que incorporam matérias-primas que são renováveis, que são sustentáveis. E isso é uma segunda tendência.
A terceira é diversificar clientes. Não é uma fase fácil para diversificar clientes porque os mercados estão bastante tolhidos, mas evidentemente este é o momento que temos que ir, não só alargando a base dos nossos canais de distribuição, como é o momento de procurar novos clientes.
E quarto, permitam deixar esta nota final, que é há momentos disruptivos e este é seguramente um deles e nós soubemos adaptar-nos muito bem a um contexto muito diferente depois da adesão de Portugal à União Europeia e depois do advento da Organização Mundial de Comércio. Mas há uma transformação que é preciso ser trabalhada, que tem a ver com o desenvolvimento de marcas próprias e de marcas que permitam reter mais valor para Portugal. Isso é algo que eu penso que é um trabalho exigente. Uma marca não é apenas um logotipo que criamos. Uma marca é a forma como um produto se relaciona com o próprio consumidor. E a construção de marca é a construção de perceções sobre um bem, essas perceções implicam relacionamentos com clientes, implicam comunicar com clientes, e esse é um esforço que temos de fazer, em particular quando esta pandemia for controlada e pudermos regressar, na medida do possível, à nossa vida normal, é uma aposta que temos de fazer: a criação de marcas próprias e trabalhar marcas próprias de forma sustentável.
“A marca Portugal não é um logotipo, eu tenho de dizer isto muitas vezes. Essa construção sobre a perceção de Portugal e que impacto é que isso tem na origem, precisa de gestão, precisa de ser administrado, porque, evidentemente, aquilo que nós queremos é reforçar os elementos positivos e minimizar os elementos negativos”.
E a marca Portugal está a ser construída seguindo essa abordagem? Já se está a conseguir criar essa marca Portugal de forma sustentável?
A primeira coisa que eu queria dizer é que a marca Portugal existe, e muitas vezes ouço falar sobre a marca Portugal como se ela não existisse. A marca Portugal é a origem de Portugal, existe e é no essencial a forma como os nossos consumidores – os consumidores e clientes de bens e serviços portugueses, quer em mercados industriais quer de consumo – como eles olham para uma origem, para um produto que vem de Portugal e perceber se essa origem acrescenta valor ou se, pelo contrário, retira valor.
E nós aquilo que temos feito sempre é olhar para essa origem e cuidar da origem no quadro das perceções externas. Temos feito um trabalho muito intenso, coordenado também com associações empresariais, por forma a que o país seja visto como uma origem de bens e serviços de elevado valor acrescentado, que se distinga cada vez mais por fatores como inovação, conhecimento, o saber fazer.
E essa é uma construção que demora tempo, que é sujeita, eu bem sei, a elementos de ciclo em que muitas vezes temos muitas notícias positivas, outras vezes temos um conjunto de notícias muito negativas. Aliás, ao longo da minha vida já tive a oportunidade de estar em funções em momentos de profunda crise em que se acumulam muitas notícias negativas sobre Portugal nos mercados externos. Mas também já tive o contrário. É curioso como a Covid, mesmo perante as circunstâncias, nos gerou, entre março, abril e maio, um conjunto enorme de notícias positivas sobre país.
E, portanto, essa construção é uma construção que vamos fazendo no dia a dia. A marca Portugal não é um logotipo, eu tenho de dizer isto muitas vezes. Essa construção sobre a perceção de Portugal e que impacto é que isso tem na origem, precisa de gestão, precisa de ser administrado, porque, evidentemente, aquilo que nós queremos é reforçar os elementos positivos e minimizar os elementos negativos. É trabalhado setorialmente por muitas associações empresariais que tem marcas setoriais que eu diria têm expressão, no essencial, nos mercados industriais.
E depois temos uma fragilidade, que é uma fragilidade que não escondo, mas para a qual temos de trabalhar coletivamente, que é termos poucas marcas de produto e que sejam diretamente identificadas com Portugal. Sendo que em várias circunstâncias, várias empresas, no passado recente, até não queriam associar aquela marca em concreto a Portugal porque consideravam que isso não acrescentava valor.
Isso é um trabalho que progressivamente tem sido feito, e eu penso que em muitos setores a origem Portugal já acrescenta valor – falo em particular do têxtil, do vestuário, do calçado, do mobiliário, diria dos setores ditos de life style – nós já temos conseguido fazer um caminho interessante e quando digo fazer um caminho interessante é um caminho medido. Não estou a falar apenas da perceção do Secretário de Estado, mas estou a falar de um caminho medido. Hoje tenho muitas notícias positivas em torno de bens de consumo produzidos em Portugal, mas não tenho ainda, e isso tenho de assumir, a capacidade de ter uma economia que gera marcas, que cria marcas e que essa associação de marca à origem Portugal seja um elemento distintivo e que acrescente valor.
É um trabalho longo, que estamos a fazer. Em Portugal temos vindo a construir, por exemplo, uma excelente imagem como destino turístico. Alguém tem dúvidas de que Portugal é muito bem visto como destino turístico? Agora, também é preciso fazermos bem esse caminho. É mais longo, mais difícil, mas é esse caminho que estamos a fazer.
“A Web Summit tem nisso um papel central, é evidente, porque a Web Summit não é apenas um evento. Pela sua dimensão, pelo seu impacto, permite que o país se posicione de forma diferente (…)”
As nossas start-ups também têm levado o nosso nome e a nossa bandeira além-fronteiras. Como avalia a resposta das start-ups portuguesas, com a criação de inúmeros movimentos durante a pandemia, a resposta dos nossos empreendedores?
Acho que é assinalável. Portugal fez um caminho muito interessante. Quero sublinhar aqui o imenso trabalho precursor de João Vasconcelos, que teve um papel decisivo, desde o ponto de vista da notoriedade, e que nós devemos sublinhar, mas que evidentemente foi continuado por outros, e que permitiu que Portugal se posicionasse como um país de acolhimento de inovação e de empreendedores.
A Web Summit tem nisso um papel central, é evidente, porque a Web Summit não é apenas um evento. Pela sua dimensão, pelo seu impacto, permite que o país se posicione de forma diferente e permite que nós sejamos quem acolhe, quem a partir desse acolhimento gera um ecossistema que é muito dinâmico.
Os empreendedores portugueses, muitos deles, viram-se em grandes dificuldades, precisamente pelo facto de serem projetos iniciais com mais dificuldades de terem estabilidade, consolidação de recursos… Isso trouxe-lhes imensos desafios, mas a maioria deles também tinham uma grande vantagem: eram flexíveis, nasceram digitais, nasceram para o digital, e isso permitiu uma imensa capacidade de resposta, muito rápida, e por isso vê-se que muitos desses negócios têm vindo a ter sucesso.
Este é um ano muito difícil, sem dúvida, mas a capacidade dos empreendedores e do empreendedorismo tem muito a ver com isto. Quem já estava a pensar no digital, quem nasceu digital, quem já nasceu não apenas a pensar na procura doméstica, e quem era mais flexível, quem tinha custos mais controlados, e portanto não suportava payrolls de grande dimensão, de facto é capaz de conseguir não só sobreviver, mas, com modelos de negócio mais flexíveis, responder à procura que existe.
Houve alguma área que o tenha surpreendido pela positiva? Pela capacidade de resiliência?
Há. Há um que parece que é evidente que é o setor logístico no nosso país que comportou-se como estabilidade e regularidade… Acho que os portugueses têm noção de que os nossos supermercados, os hipermercados, funcionaram bem, sem ruturas significativas. A verdade é que esse foi um setor que se portou lindamente.
O setor agroalimentar e farmacêutico, que está a ter um ano bom por questões evidentes, foi um setor que respondeu muito rapidamente e que mostrou uma enorme capacidade.
Há um que deixei para o fim, mas que é aquele que do ponto de vista da reação é assinalável, que é a forma como a indústria têxtil e de vestuário, de um dia para o outro, foi capaz de começar a produzir máscaras e o resto. As máscaras foi muito significativo, o que faz com que sejamos um país exportador. Nós tivemos altos dignatários no mundo a pedir ao governo português “diga-me se consegue responder, eu preciso de 5 milhões, 10 milhões, 15 milhões de máscaras…”. E nós temos enviado máscaras para todo o mundo.
“A aprendizagem que as start-ups fizeram para poder escalar a procura, a partir de negócios muito pequenos, é uma aprendizagem única que vale para muitas PME.”
Neste cenário, colocando de um lado as start-ups e do outro as PME, o que é que umas têm a aprender com as outras?
Acho que há um elemento de partilha. A certa altura, quase que confundimos a ideia de start-up e de empreendedorismo como se o empreendedorismo tivesse necessariamente que estar ligado às start-ups e as start-ups ao digital. O empreendedorismo não é só digital, as starts-ups não tem que ser todas digitais, mas a verdade é que a larga maioria faz este caminho.
As PME portuguesas, nos setores mais tradicionais, têm inequivocamente que pensar que os seus modelos de negócio passam não só por ter de ter processos mais digitais, mas por servir mais canais digitais.
A aprendizagem que as start-ups fizeram para poder escalar a procura, a partir de negócios muito pequenos, é uma aprendizagem única que vale para muitas PME. E isso é um aspeto a que temos de responder. Muitas das pequenas e médias empresas portuguesas que estavam dependentes de mercados muito tradicionais, e muito fragmentados, percebem que hoje uma parte substantiva da procura saiu desses canais de distribuição e foi para as plataformas de ecommerce.
O trabalho que nos já fazemos, em particular a AICEP, com a Alibaba, a Amazon ou o Grupo Otto, é um trabalho de proximidade que hoje está a dar frutos. Na altura parecia ser uma espécie de área em que estávamos a entrar e que não teria grande interesse. Hoje não. Hoje posso dizer que, evidentemente, o trabalho que fizemos para capacitar as PME para entrada no ecommerce é um trabalho central. A colaboração que fomos tendo com a Startup Portugal, com empresas de menor dimensão, com start-ups na ligação a São Francisco, por exemplo, sempre procuramos fazer. Ainda neste dias temos a decorrer um programa para start-ups a partir da delegação de São Francisco da AICEP.
É um trabalho que também tem de ser visto pelas PME como um trabalho que elas também precisam de fazer. Isso vai-nos abrir outras oportunidades, até oportunidades de captação de capital, que é uma coisa que nós não temos, e de investidores externos, e de investidores que olhem para essas empresas como boas apostas e isso as start-ups sempre fizeram.
Tendo em atenção que no quadro geral das PME portuguesas, muitas delas ainda são empresas familiares, com o que isso tem de bom e de mau, como é que que estas empresas conseguem olhar para a internacionalização como uma “boia de salvação” neste momento?
Se for só uma boia de salvação estamos mal. Não chega! Estávamos a fazer um caminho e agora vamos ser empurrados para fazer esse caminho mais depressa. Porque se não o fizermos teremos poucas condições de sobrevivência.
Conheço muitas empresas familiares com uma excelente gestão, e com uma excelente gestão do processo intergeracional. Mas neste momento elas serão precipitadas nessa evolução porque os seus clientes estão a desaparecer e porque o mercado doméstico é exíguo para continuar a crescer. Portanto, muitas delas já tinham começado os processos de internacionalização e muitas delas já tinham começado o processo da digitalização, que era exigido pelos seus clientes. Esse processo será acelerado e se não for, muitas delas, evidentemente, vão perecer, não vão sobreviver a esta vaga. Mas as condições de mercado vão-lhes impor isso.
O nosso lado, o lado dos Governos, da Administração Pública, é o de lhes dar, o de lhes poder permitir ter acesso a ferramentas para essa transição, na qualificação, na capacitação e nos sistemas de incentivos e nos recursos financeiros. Faremos o que já fizemos no PT 2020 e que estará presente no próximo quadro financeiro plurianual, o 2030, mas estará muito presente no plano de recuperação e de resiliência e que esperamos já operacionalizável em 2021, onde a digitalização e a transição climática e energética são as prioridades centrais.
O Programa Internacionalizar 2030 terá o “triplo objetivo de alargar e consolidar a base de empresas exportadoras, diversificar os mercados de exportação e atingir um volume de exportações correspondente a 50% do PIB até 2027 e 53% em 2030”. É uma meta fácil de atingir, tendo em conta o contexto em que vivemos?
Quando em 2011/2012 eu disse que deveríamos atingir os 40% das exportações por volta de 2014/2015, e que isso era um objetivo possível, tive muitas pessoas que disseram que iria ser um objetivo impossível porque não teríamos capacidade instalada para responder. A verdade é que nós atingimos os 40% por volta de 2015 e o nosso objetivo era chegar aos 50% até 2025.
A trajetória permite-nos dizer que até finais de 2019 estávamos nos 44%. E na ordem dos 44% e de todo o conjunto de projetos que geríamos aqui através dos sistemas de incentivos, tínhamos a perfeita consciência que até 2025 Portugal era capaz, em condições normais, de atingir esse valor. O Banco de Portugal, no ano passado, chegou a dizer que poderíamos chegar antes. Falava em torno de 23,4. Nós estamos a sofrer uma fortíssima contração da procura. A questão que se põe agora é: Sim, em 2020 vamos ter uma redução das exportações. A União Europeia diz que vai ser 21% (valor nominal).
A pergunta que se faz é: seremos capazes de manter a capacidade instalada ou não? Por isso, grande parte do nosso esforço como Governo é não destruir capacidade instalada, é passar este fortíssimo solavanco, mas saber conservar a capacidade instalada para o momento em que procura regressar pós-pandemia. Naquilo que é o setor exportador, eu não tenho verificado até agora uma imensa onda de falências e uma das razões é porque todos os instrumentos de rede que foram sendo postos foram usados, o lay off, apoio à retoma, linhas de crédito.
Se formos capazes de fazer isso, seremos capazes de fazer uma recuperação mais rápida pós-pandemia e voltar a parâmetros mais próximos dos 44%. Dentro da incerteza que temos, das dificuldades que estamos a viver, tenho confiança que se formos eficazes nesta estratégia, com o congelamento da capacidade instalada permitindo que ela sobreviva a esta diminuição da procura, vamos ser capazes de atingir estes objetivos.
“Os mercados da União Europeia são sempre mercados importantes para nós. Sofremos sempre que Itália, Espanha e França estão menos bem”.
Quais são atualmente os principais mercados destino das exportações portuguesas?
Os mercados da União Europeia são sempre muito importantes para nós. Sofremos sempre que Itália, Espanha e França estão menos bem. E com o Reino Unido, que neste momento já não é membro da União Europeia, mas que continua a ser um mercado central muito importante. Os EUA, não posso deixar de dizer, que é também para nós um mercado importante, e neste conjunto temos uma parte substantiva das nossas exportações e também a origem de turistas.
O trabalho que temos feito ao nível da diversificação vai dando frutos. O Canadá é um bom exemplo, o Japão, a Coreia do Sul, América Latina, em África, nos mercados da costa ocidental africana, o Magreb, a Argélia, Egipto, a Índia, República Popular da China. Mas o primeiro impacto é sempre nos mercados de proximidade e que representam 50% das nossas exportações – entre Espanha, França e Alemanha.
Diversificação é, portanto, a palavra de ordem…
Sempre e neste aspeto há um dado muito interessante. Não avaliamos o nosso trabalho pela quantidade das exportações, mas pela qualidade. Há uma dimensão que para nós é importante e que é a diversificação de mercados. Quando olho para o meu trabalho aqui e olho para o trabalho da AICEP, há um aspeto muito importante: em termos médios hoje não tenho só mais exportadores, eu tenho mais combinações exportador/ mercado. E em termos médios cada exportador português exporta para mais mercados hoje, segundo dados de 2019 – são os dados que tenho – em comparação com 2015. E isso é um dado muito importante para nós. É quase tão importante como crescer exportações. Sim, queremos crescer em quantidade, mas poderíamos estar a crescer em quantidade com maiores níveis de concentração. Até ao fim de 2019 estávamos a crescer em quantidade, mas em termos médios exporto para mais mercados e isso é muito importante.
A par dos bens e serviços, já reunimos condições para internacionalizarmos talentos portugueses?
Fixar talento, reter e atrair talento. É aquilo que fazem os territórios. Aliás, uma das orientações que a AICEP tem no plano de captação de investimento estrangeiro é a de procurar captar investimento estrangeiro para Portugal que nos permita reter talento e isso é um elemento importante porque, em termos médios, os projetos desenvolvidos por empresas estrangeiras que vêm para Portugal são projetos que pagam salários melhores do que as empresas do mercado doméstico. Portanto, o investimento direto estrangeiro é um contributo para a melhoria salarial do país. Quando temos melhores salários temos melhores condições de reter valor e de atrair pessoas de outros mercados.
Eu acho que aqui ainda temos muito para fazer. Porque, apesar do salário médio português ter vindo a melhorar nos últimos anos, e voltou a melhorar até durante a pandemia, segundo dados mais recentes, Portugal continua a ter uma diferença salarial em termos médios muito significativa em relação a outros países, particularmente na União Europeia, EUA e Canadá, para dar alguns exemplos.
Queremos atrair empresas melhores para pagar salários melhores. Se pagarmos salários melhores, retemos melhor talento e geramos mais oportunidades para os portugueses que estão cá e evitamos mais emigração de gente qualificada e, como cereja no topo do bolo, conseguimos que Portugal atraia talento de outras localizações.
Associado à marca Portugal, que dá a ideia de um país aberto, tolerante, que integra bem quem vem de fora, esse é um elemento que vale também para atrair pessoas para Portugal e para reter os nossos. Permitam-me fazer este inciso, na política de internacionalização o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros deu-me uma orientação que à partida poderia parecer pouco focada naquilo que são as nossas atividades, mas que mostrou mais uma vez uma enorme clarividência e uma enorme inteligência na análise. Uma das coisas que comecei a fazer nas minhas visitas, não é só um momento diáspora para falar com os portugueses que estão lá fora e perceber como eles olham para o nosso território que para além de ser um território de saudade e de fortes ligações, é também um território onde muitos deles investem e querem investir. Mas também um momento, com um conjunto de outras redes que têm vindo a ser formadas de jovens investigadores, estudantes e até jovens imigrantes muito qualificados, de falar com eles e perceber se saíram, saíram porquê, se saíram se podem voltar, para voltar quais são as condições.
Estive na Alemanha há pouco tempo numa conversa excelente com jovens que estão a trabalhar em start-ups em Berlim, por exemplo. Eu acho que sair e ter experiências fora é ótimo. Sair porque se quer sair, porque se quer aprender, porque se quer conhecer culturas diferentes, falar uma ou duas línguas, isso é bom. Sair por estado de necessidade, já não é tão bom. Diria que é mesmo mau.
Essas conversas que vamos tendo e o que nos vêm dizendo é que um dos problemas que nós temos é a diferença salarial e a oportunidade de construir carreira. E o território onde nasci não me permite ter essas experiências e também não me permite ter aquele salário. Nós somos cada vez mais competitivos para permitir que essa gente regresse e para permitir que possam sair por bons motivos e não por maus motivos. Estas reuniões têm-nos ajudado a dizer que a política ligada à marca e às marcas está intimamente ligada com a possibilidade de alguns deles ficarem ou quererem ou poderem regressar.
Que conselhos daria aos jovens empreendedores que querem internacionalizar os seus negócios?
Para já se quer lançar um negócio, já tem um elemento importante que é coragem. Há elementos que são importantes. Para além das questões óbvias (ser digital, nascer para ser um negócio escalável), uma boa seleção de parceiros, com know how de gestão e que saibam gerir negócios. Os parceiros de capital são muito importantes, mas um parceiro que traga competências de gestão, que traga rede para fornecedores, clientes, parceiros logísticos, um bom dimensionamento do esforço do risco, mas a intensidade de capital e de conhecimento que é necessário para poder crescer e não ter medo de ir à procura de parceiros para o fazer. Em Portugal ainda temos a ideia de que o negócio é meu, a ideia é minha.
Na internacionalização, escolher bem por onde começar, não ter medo de começar grande, mas saber que mesmo começando grande é preciso selecionar por onde começar. Quem quiser crescer, pode crescer a partir de Portugal, de Lisboa, do Porto, de Braga, de Coimbra… Mas deve pensar que Berlim, Londres, Nova Iorque, São Francisco, Toronto, São Paulo, para dar alguns exemplos, são territórios de concentração de conhecimento, de capital que nos podem fazer crescer de forma mais rápida.
“Neste momento estamos a desenvolver um projeto dentro destas condições com São Francisco para ligar mais start-ups a São Francisco, para que se possam instalar em Silicon Valley. É um projeto que está a ser conduzido entre Portugal e a delegação da AICEP, com a Teresa Fernandes”.
Vamos ter novidades em termos de programas para estes jovens empreendedores?
Espero que sim. Uma das nossas prioridades no Internacionalizar 2030 era colocar a AICEP mais próximo da Startup Portugal e das incubadoras a preparar programas específicos para a internacionalização de start-ups. Fiz no passado algumas aproximações, em particular em São Francisco, e a visita do senhor Primeiro Ministro aos EUA deu-nos um empurrão valente porque especialmente ele também esteve em São Francisco junto da nossa embaixadora, mas também com a senhora cônsul e agora com a delegada da AICEP, que é uma pessoa muito ligada ao empreendedorismo – passou pela Portugal Ventures.
Estamos muito focados em ter instrumentos próprios para esse conjunto de clientes da AICEP e é isso – tenho a convicção – que a AICEP vai pôr no próximo plano estratégico e que vai permitir apoiar de forma mais fina quer com instrumentos financeiros, quer com capacitação e apoio nos mercados. Neste momento estamos a desenvolver um projeto dentro destas condições com São Francisco para ligar mais start-ups a São Francisco, para que se possam instalar em Silicon Valley. É um projeto que está a ser conduzido entre Portugal e a delegação da AICEP, com a Teresa Fernandes.
O apoio que damos a uma start-up na internacionalização não está tanto ao nível da start-up, mas temos de ser capazes de lhes abrir portas a potenciais investidores. Muitas vezes aqui não se encontra. Estão longe do perfil de risco que a banca assume e bem – isto não é uma critica à banca.
Que a Farfecth tenha nascido aqui, em Guimarães, que tenha operações no Porto, mas sede em Londres, não é um drama. Porque a Farfetch teve uma necessidade evidente de crescimento. E é lá que está o capital. Se de uma forma ou outra, permitirmos que as empresas façam este caminho num mercado como o nosso, que é escasso de capital – sempre foi –, então estamos a fazer o caminho correto de apoio às start-ups para elas chegarem a um determinado momento e “voarem”.
Enquanto Secretário de Estado, o que é que lhe tira o sono?
Durmo relativamente bem. Somos membros do Governo, mas não tomamos uma pastilha especial que quando tomamos posse passamos a ser pessoas diferentes do comum dos mortais. Nós temos as mesmas ansiedades que tem a população que é: quando é que isto termina e será que termina? Todos nós temos família, pais, mulheres, filhos que vão para a escola, por isso, a ansiedade que temos é a mesma da generalidade das pessoas, com uma diferença: temos de participar e tomar decisões que temos a noção que afetam o conjunto da comunidade. Portanto, tentamos fazê-lo o melhor que podemos neste gelo fino que é uma difícil fronteira de definir entre as medidas de combate à pandemia, que precisam de ser tomadas para que a pandemia seja controlada, e as medidas de apoio à economia ou, pelo menos, medidas que não coloquem ainda mais dificuldades ao desenvolvimento da atividade económica, sabendo que quanto mais e melhor controlarmos a pandemia mais ajudamos atividade económica. Muitas vezes para controlar a pandemia temos de tomar medidas circunstancialmente difíceis para a atividade económica e é este equilíbrio que temos de fazer ao longo do tempo.
O Governo terá de ir ao longo do tempo gerindo, tomando muitas decisões. Governos que tomam muitas decisões com impacto na vida das pessoas, são governos que têm de tomar medidas difíceis politicamente, mas que são as decisões necessárias. Neste momento tivemos de tomar mais decisões de proteção para que a pandemia seja controlável. Sabemos que estamos a tomar decisões difíceis para quem tem um restaurante, uma mercearia, uma empresa. Sabemos que quando dizemos às pessoas que o teletrabalho é obrigatório as pessoas ficam em casa, logo menos necessidade de comprar roupa, sapatos. Esta é a angústia que temos!
Perante este cenário, como é que perspetiva 2021?
Gostava que fosse o momento em que a vacina viesse a estar disponível, que fosse aplicada, pelo menos, nas populações mais vulneráveis, que se protegesse o pessoal sanitário, médicos, enfermeiros…que se protegessem os lares, e as pessoas que estão em grandes dificuldades em residências de terceira idade, que regressasse uma certa normalidade em muitas atividades de apoio que são fundamentais à população, atividades de caráter social e desportiva… A sociedade está a viver um momento difícil, pelo que reforço que era importante ter unidade na ideia de que juntos precisamos de enfrentar esta adversidade. Quanto mais fracionados e de forma confrontacional olharmos para este momento, mais dificuldade teremos.