Norte-americana promove start-ups lideradas por mulheres

Carolyn Rodz assume-se como defensora das mulheres empreendedoras, conectando-as a fontes de capital, parceiros estratégicos e mentores para criar negócios em escala. Através da sua aceleradora no Texas, já angariou mais de 65 milhões de dólares para mais de 200 start-ups.

Carolyn Rodz tem uma missão: democratizar o acesso ao ecossistema de start-ups em todo o mundo. “Quero construir um ambiente de negócios que dê suporte a todos os fundadores, sejam eles homens ou mulheres”, disse a empreendedora de 38 anos, natural de Houston, no Texas, ao Huffington Post.

Nos seus dois anos à frente da Circular Board, aceleradora com foco em empreendedoras, Rodz angariou mais de 65 milhões de dólares (56 milhões de euros) para 286 start-ups de todo o mundo.

Solucionar problemas é algo que atrai Rodz desde a infância. “O meu pai era um empreendedor e uma das minhas maiores diversões era vê-lo a gerir a empresa. Então, quando tinha 10 anos, comecei a escrever num caderno todas as ideias de negócios que queria abrir quando crescesse. Pensei em vender brinquedos antigos por preços mais baixos. Abrir um hospital. Construir uma escola. Qualquer coisa que ajudasse a melhorar o planeta”, conta.

Rodz formou-se em finanças na Texas A&M University e trabalhou quatro anos na área de investimentos do banco JP Morgan. O que a atraía eram as histórias de empresários que tinham construído empresas de bilhões de dólares.

Em 2005, abriu sozinha a primeira empresa, uma consultora de marketing. Sem nenhuma experiência e com pouco capital, acabou por fechar as portas. “Basicamente, fiz tudo errado. Eu não entendia o que era ter uma pequena empresa. Não acreditava na força do meu trabalho e cobrava pouco pelos meus serviços. Achava que tinha de crescer primeiro, para só depois ir atrás dos grandes clientes”, relembra.

A falta de confiança no próprio potencial é, na sua opinião, um erro comum entre as empreendedoras. “Vejo muitas mulheres a abrirem negócios sem ter segurança no que estão a construir. Se não acreditar no seu potencial, ninguém acredita”, frisa a empresária.

Numa segunda tentativa, mudou de direção e criou a Cake Communications, cujo objetivo era ajudar grandes empresas a fazer a transição para os meios digitais. Com uma solução voltada para o branding e lançamento de produtos nas redes sociais, conquistou clientes de peso como a HP. “A minha atitude tinha mudado. Eu sabia quais eram os meus pontos fortes e como melhorar o serviço”, afirma.

Uma questão familiar levou-a a vender a empresa em 2012: Rodz tinha sido mãe e queria ter mais tempo para ficar com a família (que hoje inclui mais um filho, Henry, três anos). “Naquele momento, achei que seria interessante fazer pequenas consultorias, ajudar mulheres que estavam a começar”, conta.

Aceleradora Online

Numa das conversas com jovens empreendedoras surgiu-lhe a ideia para a sua terceira – e mais bem-sucedida -empresa. “Percebi que a maioria das mulheres enfrentava o mesmo tipo de problemas pelos quais eu tinha passado. Senti que tinha a responsabilidade de evitar que cometessem os mesmos erros”, revela.

Ao estudar o ecossistema de start-ups, entrou em contato com o modelo de aceleradora nos ecossistemas de São Francisco e Nova Iorque. “Uma das primeiras coisas que notei é que havia pouquíssimas mulheres entre as inscritas e menos ainda entre as selecionadas”, frisa. Investigando um pouco mais, Rodz avaliou que os programas não estavam estruturados para atender às necessidades das fundadoras. “Ninguém estava a levar em conta que as mulheres têm filhos, estão ligadas à família, à comunidade. Questionei-me: como criar uma aceleradora mais flexível e que proporcione o mesmo tipo de suporte que um programa convencional?”.

Para formular a resposta, procurou ajuda de uma empreendedora experiente, que tinha conhecido por intermédio de um amigo que tinham em comum. Elizabeth Gore, 40 anos, era empreendedora residente do DWEN (Dell Women’s Entrepreneur Network) e tinha uma vasta experiência em negócios sociais. Juntas abriram a Circular Board, uma aceleradora virtual totalmente voltada para mulheres empreendedoras.

A abertura da empresa, em janeiro de 2016, foi acompanhada por uma espécie de manifesto. Negócios geridos por mulheres, diziam as fundadoras, empregam 7,8 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos e geram uma receita de 1,3 milhões de dólares (1,1 milhões de euros). Mas por que razão apenas 5% dessas mulheres recebem investimento de venture capital? A resposta, diziam, estava na falta de sintonia entre o que os investidores esperam e o que as empreendedoras costumam apresentar. “Fazer a ponte entre empreendedoras e os fundos, e ajudá-las a escalar os seus negócios é o que move a nossa empresa”, disse.

A proposta da aceleradora online é simples: 10 empresas participam num programa de 12 semanas. Nesse período, reúnem-se por videoconferência para trocar ideias, oferecer feedback umas às outras e fornecer relatórios sobre seu progresso. “As mulheres trabalham muito bem em colaboração. Constroem modelos de negócios juntas, testam os produtos com as colegas e são as melhores promotoras dos negócios do grupo”, explicou. Além da partilha de informações, as empreendedoras têm acesso a cursos sobre construção de marca, formação legal e financeira, recrutamento de pessoas e networking.

Grande parte do trabalho da Circular Board passa por ajudar as mulheres a cultivar a rede de relacionamentos, entender o que é valorizado pelos venture capitalist e a melhor maneira de estabelecer uma relação com eles. “Na hora de escolher, os investidores costumam apostar na própria intuição e também na equipa certa. Se as fundadoras não tiverem construído uma reputação através de um bom networking, a relação não vai acontecer”, conta.

Segundo Rodz, existe um outro motivo pelo qual as empreendedoras não costumam ter tanto acesso a investimentos: a aversão ao risco é maior do que a dos colegas do género masculino. “O problema aqui é a empatia. Enquanto os homens focam-se na sua visão, as mulheres envolvem-se com todos à sua volta. Sentem que, se a empresa falhar, ela terá de demitir, vai levar outros com ela”, relata a empreendedora.

Superada essa primeira barreira, diz Rodz, a empatia tende a transformar-se na sua maior força. “As mulheres são líderes incrivelmente poderosas, porque pensam na equipa, valorizam fornecedores e clientes, e inspiram todos à sua volta.”

Se, mesmo com a ajuda da aceleradora, o venture capital não vier, as sócias orientam as fundadoras a procurar outro tipo de recursos: linhas de financiamento para pequenas empresas, business angels, editais do governo, concursos que premeiam com dinheiro.

No mundo das start-ups

Quando fundou a Circular Board, Rodz não esperava tamanha repercussão. “Tivemos uma tração inicial incrível, com milhares de empresas a quererem inscrever-se na Europa, na América do Sul, em África… Em apenas dois anos, captamos dezenas de milhões de dólares para mais de 200 start-ups”, relembra. O modelo de negócio estava a funcionar. Mas, para Rodz, ainda era pouco. Era preciso chegar a mais mulheres, escalar mais empresas, mudar as estatísticas. E, para isso, seria necessário recorrer à tecnologia.

Entra em cena a Alice. Não uma terceira sócia, mas uma assistente virtual. “O nome é inspirado na Alice no País das Maravilhas”, revela Rodz, acrescentando que “numa passagem do livro, o autor Lewis Carroll diz: “Eu sou capaz de acreditar em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”. Acho que isso traduz bem o espírito empreendedor.” Desde maio do ano passado, a plataforma de inteligência artificial helloalice.com, desenvolvida em parceria com a Dell e a Pivotal, está disponível para empreendedoras em todo o mundo. Também em 2017, a empresa passou a chamar-se Alice.

Numa primeira fase, as sócias transferiram todos os dados adquiridos durante a experiência na aceleradora para a plataforma. Depois, estabeleceram parcerias com governos, entidades, universidades e associações do mundo inteiro, para que partilhassem publicamente as suas informações.

O objetivo é fazer com que Alice seja capaz de responder a perguntas sobre investimentos, oportunidades de mercado e networking, seja qual for o país de origem da empreendedora. “Através de machine learning, a plataforma é capaz de incorporar dados novos, o que a torna apta a dizer quais são os recursos certos para escalar uma empresa, seja na Austrália ou no Brasil”, afirma Rodz.

Enquanto planeia as próximas funcionalidades da plataforma, a empreendedora atua em outras frentes: conversa com fundos de venture capital, para ajudá-los a reconhecer e selecionar empresas lideradas por mulheres; trabalha com governos para criar políticas de apoio às empreendedoras e participa em comunidades como o DWEN e atua como delegada na Aceleradora Global da ONU.

No entanto, a empreendedora lamenta não ter chegado nem perto de realizar a sua missão – conquistar a equidade de género no ecossistema das start-ups. “Mas, todos os dias, recebo e-mails de mulheres de todo o mundo a partilharem comigo que os seus negócios foram impactados por algo que fiz. Não consigo imaginar nenhuma forma mais recompensadora de começar o dia”, termina.

 

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