Entrevista/ “O mundo dos negócios sempre me atraiu”
Luís Figo é um nome incontornável do futebol mundial. Recebeu a Bola de Ouro em 2000 e foi considerado o melhor jogador do mundo em 2001.Mas não é só em campo que as suas fintas são certeiras.
Hoje em dia é também visto como empresário, tendo investimentos em áreas tão diversas como imobiliário, restauração, setor mineiro e hotelaria. Em entrevista ao Link To Leaders, Luís Figo falou do que o futebol lhe ensinou e que chutou para os seus negócios.
É mais fácil fintar dentro das quatro linhas ou nos negócios?
Fintar é sempre difícil. Acima de tudo, em ambos os casos é preciso muito trabalho e não ter medo de arriscar. Muitas vezes, trata-se de ter feeling das oportunidades de negócio.
Hoje em dias é também visto como empresário. Tem investimentos em várias áreas…
Sim. O mundo dos negócios é algo que sempre me atraiu. Procuro diversificar as minhas áreas de negócio, do imobiliário à restauração, passando pelo setor mineiro, pela hotelaria, pela área digital e, obviamente, pelo futebol.
O que mais o atrai na gestão dos negócios?
Para além dos resultados em si, que são fundamentais para aplicação da palavra “negócio”, atraem-me os desafios e o processo de aprendizagem. Cada novo negócio é sempre mais um caminho que permite um maior enriquecimento pessoal. Sou uma pessoa interessada pelo mundo, que gosta de aceder a novos conhecimentos e culturas, e os negócios também me oferecem isso. Gosto de iniciar um novo projeto e realizá-lo com êxito.
O que aprendeu no Futebol que agora lhe é útil no mundo empresarial?
Muitas coisas, especialmente ao nível comportamental. Liderança, espírito de equipa, trabalhar por objetivos, saber lidar com as vitórias e as derrotas e, acima de tudo, resiliência.
Considera que o espírito de grupo que existe dentro de campo é fundamental para a conquista de êxitos também fora das quatro linhas?
Sempre. Ninguém consegue ganhar nada sozinho. Por muito bons que sejamos, o nosso alcance é sempre limitado, quer a nível físico – uma pessoa é sempre menos que duas, se assumirmos que ambas são capazes e produtivas – quer a nível de competências específicas, pois no futebol, por exemplo, eu não seria a pessoa ideal para ir à baliza ou para jogar como defesa central. É preciso um grupo forte, multidisciplinar e muito unido em torno de objetivos comuns. Saber delegar responsabilidades é também algo que considero muito importante.
Cinco caraterísticas de um jogador de futebol que podem ser aplicadas ao mundo empresarial.
Já referi algumas e volto a destacar a resiliência, pois é o que nos permite continuar sempre a avançar na direção correta, independentemente dos contratempos que vão surgindo pelo caminho.
O facto de estarmos fisicamente aptos é também muito importante, pois o nosso bem-estar físico tem uma influência fundamental na nossa disponibilidade para pensar e trabalhar. Também estar preparado para as diferentes situações que se vão encontrando, em termos de área de negócio, em matéria de aptidões, conhecimentos, e ter sempre a mente aberta para aprender.
Criou a Fundação Luís Figo para ajudar crianças e jovens desfavorecidos. Acha que o desporto é uma ferramenta fundamental para lutar contra a exclusão social?
Claramente. No desporto, conseguimos ser todos iguais. No futebol em particular, não existem diferenças sociais num balneário ou num campo. Estamos todos juntos pelo mesmo objetivo. Por outro lado, o desporto ajuda a dar uma motivação aos jovens para optarem por caminhos saudáveis, ocupando o tempo de uma forma positiva.
No Web Summit vai estar a representar a Dream Football. Em que é que consiste este projeto?
A Dream Football é uma plataforma digital que promove a igualdade de oportunidades no futebol, ligando os jovens talentos com clubes de todo o mundo. A partir de uma aplicação de telemóvel, qualquer jovem pode gravar, editar e fazer upload dos seus vídeos de futebol, promovê-los, ser avaliado por uma equipa técnica profissional e por mim, e ainda ser selecionado por clubes de todo o mundo.
Tudo isto é gratuito, tanto para os jogadores como para os clubes e a Dream Football não tem qualquer interesse comercial de agenciamento dos atletas. Os contactos entre jogadores e clubes são diretos na plataforma. No fundo, é uma mudança de paradigma, em que os jovens passam a poder ter a iniciativa de mostrar o seu talento, quando e quantas vezes quiserem, ao invés de aguardarem pela sorte de alguém reparar neles. A Dream Football é também um projeto que responde em parte à questão anterior, pois acaba por ser um “integrador social”, em que apenas o talento faz a diferença.
O Web Summit será também o “palco” para o lançamento da App Dream Football. O que podemos esperar deste momento?
As expetativas são enormes e estamos muito gratos à organização e ao AICEP pela atenção e carinho que têm dado a este projeto. No evento, eu e o João Guerra, o meu sócio cofundador, iremos fazer a apresentação formal da nova App e, ao longo dos três dias, através de um campo implantado no recinto, iremos fazer uma demonstração do conceito e funcionamento da App em tempo real.
Como o vamos fazer? Em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e com o S. L. Benfica, iremos ter crianças que irão visitar o Web Summit ao longo dos três dias, onde poderão jogar futebol e gravar os seus vídeos através da nossa App.
Esses vídeos serão avaliados pelo departamento de scouting do Benfica que selecionará os mais talentosos, para participarem em sessões de captação, ou seja, nos três dias do Web Summit, o sonho de alguns jovens tornar-se-á realidade, com base apenas num vídeo e no seu talento.
Qual é o modelo de negócio da Dream Football? Quem já se associou ao projeto?
O modelo de negócio da Dream Football baseia-se na vertente digital. A App é gratuita para todos e queremos que nenhum talento se perca por não ter capacidade financeira. Por esse motivo, as receitas serão provenientes das áreas de “Sponsoring”, marcas que se querem associar ao conceito, aos valores e à causa Dream Football, e ao seu “poder de fogo”; de “Advertising” fruto de tráfego global e viral gerado; e também das “In App Purchases” com alguns serviços extra, que serão lançados posteriormente.
Em termos de “sponsoring”, muitas grandes marcas já se associaram ao projeto no passado, quando ainda funcionava apenas com base no website que deu oportunidade a vários talentos. Algumas dessas marcas foram a Coca-Cola, Rexona, Tim Mobile, Skip, Ford, Furnas e Sony entre outras, sempre com um retorno excelente, segundo as próprias.
Como vê o empreendedorismo social em Portugal?
Confesso que não tenho um conhecimento profundo da matéria, mas espero que esteja forte e que se façam muitos projetos nesta área. Desde que sejam sérios, quantos mais melhor.
O que é que os portugueses podem ganhar com o Web Summit?
Muitas coisas. Para começar, o prestígio de ter lugar no nosso país um dos maiores eventos mundiais do género, com a atenção dos media de todo o mundo posta no nosso país. Depois todos os ganhos turísticos. Em terceiro lugar, a credibilidade junto da comunidade tecnológica à escala mundial. Por último, oportunidade para os nossos empreendedores. Fica sempre mais fácil o acesso aos grandes “players” quando temos um evento destes no nosso país.
Qual o empreendedor ou investidor a quem passaria a bola dentro de campo e porquê?
Passaria a bola a Warren Buffet, porque se trata de um guru dos negócios e investimentos.
Como se vê no futuro: presidente de um grande clube, treinador de um grande clube ou o homem de negócios das causas sociais?
Depende sempre das oportunidades com que me deparar num futuro próximo, mas treinador está fora das opções neste momento. De resto, tudo pode acontecer.
Respostas rápidas:
O maior risco: investimento hoteleiro
O maior erro: algum investimento financeiro
A melhor ideia: ainda está por chegar, ahahahah…
A maior lição: que nesta vida ninguém te dá nada!! Nada cai grátis do céu
A maior conquista: a minha família