Opinião

Lucro. É mau!?

Ricardo Luz, empresário

Portugal, onde o Estado sempre foi “senhor”, assiste “impávido e sereno” ao cavar de um fosso cada vez maior entre o público e o privado. E vê o Lucro, estranhamente ou não, como “coisa do demo”.  Mas então, é mesmo assim tão mau o Lucro?

Superávit é um vocábulo latino que provem de superāre e que significa “exceder” ou “sobrar”.
O superávit económico surge da diferença entre as entradas de dinheiro e os gastos durante um determinado período. Sempre que essa diferença seja positiva, fala-se de superávit (ou excedente). Pelo contrário, se as despesas excederem os rendimentos, estaremos perante uma situação de défice. O superávit do Estado tem lugar quando o dinheiro obtido através dos impostos, das retenções na fonte, das empresas públicas, etc. supera as despesas em serviços públicos e em pagamento de dívidas.( in https://conceito.de)

Pensemos um pouco sobre o representa. Simplificando, o lucro/superavit, quando se trata de:

Famílias: é o resultado entre os seus rendimentos e gastos. Aquilo que nas famílias se designa por poupança. E o que uma família poupa, anualmente, permite-lhe melhorar a vida dos seus nos anos seguintes e/ou constituir uma reserva para futuras necessidades (ex. problema de saúde!).

Então, o lucro é mau!? Para as famílias é maravilhoso!

Empresas: é o resultado entre os seus proveitos e custos. Aquilo que nas empresas se designa, mesmo, por lucro. Significa que a empresa foi bem gerida, tendo obtido pela venda dos seus produtos ou serviços mais do que lhe custou produzi-los. E o que uma empresa lucra, anualmente, permite-lhe investir nos anos seguintes, em I&D/inovação critica para a sua competitividade futura, em novos negócios/mercados, em melhores condições e salários aos seus colaboradores, até em mais impostos para o Estado. E permite-lhe constituir poupanças para anos difíceis no futuro e distribuir dividendos aos seus accionistas, os que nela investiram o seu dinheiro, correndo o risco de o perder.

Então o lucro é mau!? Para as empresas é maravilhoso!

Estado: é o resultado entre o que é cobrado aos contribuintes (cidadãos e empresas) e o que é gasto com infraestruturas e serviços aos cidadãos e às empresas… bem… e com o que é gasto a pagar dívidas contraídas no passado! No final de cada ano, se cobrar mais do que gasta, obtém um superavit. Em Portugal, este é como o “Homem das Neves”, dizem que existe mas nunca o vimos! Se cobra menos do que gasta, obtém um Déficit. Este sim, “animal” bem conhecido dos portugueses.

Poderíamos até pensar que aquilo que o Estado cobra de impostos é constante, mas não chega! Pois “era menos mau” que assim fosse mas é bem pior. O Estado, todos os anos, bate o triste recorde de cobrança de impostos e todos os anos obtém um Deficit como resultado da sua acção, i.é., dá “prejuízo”, i.é., não tem lucro, i.é., no ano seguinte tem de cobrar mais impostos, destruindo a vida a quem trabalha e produz riqueza, os cidadãos e as empresas, e destruindo os sonhos e o futuro das gerações vindouras!

Se anualmente o Estado obtivesse um superavit/lucro, poderia baixar impostos deixando mais dinheiro nas mãos das famílias e das empresas aumentando assim o seu lucro, o que já vimos seria maravilhoso. Poderia investir em melhores serviços aos cidadãos e empresas, em melhores infraestruturas, em melhor saúde e educação, em melhores pensões para os mais desfavorecidos, e em pensões justas para quem passou a vida a trabalhar e a contribuir, … tantas coisas boas!

Então o lucro é mau!? Para o Estado é maravilhoso!

Mas que raio, se o Lucro é maravilhoso para todos, família, empresas e Estado, porque é tão vilipendiado!? Diariamente nos media, ouvimos/vemos/lemos “especialistas”, bondosos defensores da solidariedade com o dinheiro dos outros, a “educar-nos” sobre a necessidade de sermos bons, pessoas e empresas socialmente responsáveis, sobre o quanto é importante ter presente que é ao Estado que compete distribuir o dinheiro das famílias e das empresas por aqueles que mais precisam. Quantas vezes, são estes autores de tão bondosas palavras bem como seus familiares e amigos os receptores desta bondade! Tão bons eles são, em contraponto com os malvados que só se preocupam com o lucro!

Mas que raio, sem lucro não há nada para distribuir! Sem lucro, ninguém é solidário com os outros! Bem, pode sê-lo com bonitas palavras. Palavras que alimentam a alma, mas que dificilmente alimentam o corpo! E há muito sabemos que a felicidade advém de uma mens sana in corpore sano”.

Mas então porque é assim, em Portugal? Talvez – é apenas uma teoria – porque muita da gente que vilipendia o lucro em boa verdade nunca teve de trabalhar para o obter. O dinheiro com que se alimenta, a si e aos seus, advém não tanto de um trabalho árduo, mas do usufruto de benesses proporcionadas por aquilo que o Estado subtrai aos cidadãos e empresas, reais criadores da riqueza. Chegam a acreditar que o dinheiro é garantido, e infinito, e como tal bonito é discutir não como o obter, mas onde gastá-lo!

Pois é, é tudo muito “lindo” mas um dia os cidadãos e as empresas, que há tantos anos pagam a “festa”, atingem um tal ponto de exaustão que se revoltam! E gritam bem alto que sim senhor as festas são muito bonitas, mas cada um as faça com o seu dinheiro, com o lucro resultante do seu trabalho e esforço e não com a usurpação do suor dos outros!

Então o lucro é mau!? Em si mesmo é maravilhoso! O que cada um, indivíduo, famílias, empresas, Estado, faz com ele é que pode ser melhor ou pior, objecto de critica ou de louvor! O resto é treta!

Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.

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Ricardo Luz

Ricardo Luz

Ricardo Luz é empresário, sócio-fundador da Gestluz Consultores, Matching Ventures e Absolute H. É Presidente da Invicta Angels - Associação de Investidores early-stage do Norte, da qual foi fundador, e é Board Member da EBAN, The European Trade Association for Business Angels. É autor e moderador das conversas SPE Futuri Investidores, no LinkToLeaders, e das conversas SPES Libertatis, no Instituto +Liberdade. Foi administrador executivo da Instituição Financeira de Desenvolvimento (hoje BPF) entre 2015 e 2017. Foi cofundador, em 2007, da... Ler Mais..

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