Entrevista/ “Largámos tudo e embarcámos para Los Angeles. Fomos uma das 12 start-ups aceites entre mais de mil”

António Andrade, cofundador da start-up luso-americana Cheres

Há uma nova plataforma social de investimentos com ADN português. Chama-se Cheres, foi fundada nos Estados Unidos, participou no programa da Techstars, em Los Angeles, e tem já uma lista de espera de 12 mil pessoas. Em entrevista ao Link To Leaders, o cofundador António Andrade fala do projeto, da app que será lançada em março e dos planos de expansão.

A start-up luso-americana Cheres prepara-se para lançar uma aplicação móvel, que permite aos investidores gerir melhor os seus ativos com diferentes ferramentas e comunicar com amigos e desconhecidos que partilhem os mesmos interesses financeiros. Fundada há cinco meses, está disponível apenas nos EUA e Canadá, iniciando agora a expansão com o objetivo de se tornar global.

Tudo começou durante os meses de confinamento quando António Andrade, Kathleen Garcia-Manjarres e Shahriar Kabir criaram um grupo para conversar sobre investimentos e perceberam que havia vontade por parte da comunidade de participar. Por isso, criaram um chatbot para automatizar a partilha de investimentos.

Em poucos dias contavam com 500 membros de todo o mundo. O crescimento da plataforma acabou por levá-los a candidatarem-se ao programa de aceleração Techstars, em Los Angeles, tendo sido aceites em julho de 2021.

O próximo passo, revela António Andrade ao Link To Leaders, é o lançamento da app em março que estará disponível para iOs e que conta já com uma lista de espera de 12 mil pessoas. Até ao final do ano, pretendem chegar aos 100 mil utilizadores, entrar em novas geografias e fazer crescer a equipa de três para sete elementos.

Como surgiu a Cheres?
A Cheres foi criada durante a pandemia, para que todos os utilizadores encontrassem a sua paixão por investimentos financeiros, da mesma maneira que nós (os três cofundadores) encontrámos – através da partilha. Durante os meses de confinamento, criámos um grupo para conversar sobre investimentos e aproximar as pessoas, e percebemos que havia uma grande vontade por parte da comunidade de poder participar. Vimos que as pessoas começaram a partilhar organicamente e por escrito os seus investimentos. Por isso, desenvolvemos um chatbot que estabelecia uma ligação com vários bancos nos EUA e permitia a partilha automatizada dos investimentos dos nossos utilizadores no grupo. Vimos a utilização do chatbot crescer rapidamente e, a partir daí, foi ver crescer uma semente: em poucos dias éramos mais de 500 membros de todos os cantos do mundo.

Desde que nos apercebemos do potencial do produto, que tudo aconteceu muito rápido. Eu estava em Singapura, a trabalhar como Full-stack Software Engineer na Zendesk, a Kat (Kathleen Garcia-Manjarres) estava em em Nova Iorque, na BCG Digital Ventures, e o Shahriar Kabir era Venture Capital Investor, em São Francisco. Largámos tudo e embarcámos para Los Angeles. Fomos uma das 12 start-ups aceites  entre mais de mil candidaturas, a participar no programa de aceleração Techstars, em julho de 2021. Foi a melhor decisão que tomámos.

“Do ponto de vista tecnológico, permitimos a ligação com mais de 500 bancos nos EUA e Canadá, todas as wallets Ethereum e ainda com a Coinbase, Kraken e Crypto.com, algo nunca antes feito até então”.

Em que é que consiste e a quem se destina?
De uma forma muito simples, a Cheres é uma plataforma que une o mundo financeiro dos investimentos ao mundo relacional de uma rede social. É uma plataforma social de investimentos financeiros que agrega todos os investimentos e investidores num só espaço virtual, para que os utilizadores possam encontrar uma comunidade e partilhar informação com os seus amigos e família, tal como noutra rede social. Do ponto de vista social, é possível fazer likes, comentários e outras funcionalidades a que já estamos habituados.

Do ponto de vista tecnológico, permitimos a ligação com mais de 500 bancos nos EUA e Canadá, todas as wallets Ethereum e ainda com a Coinbase, Kraken e Crypto.com, algo nunca antes feito até então. Isto permite aos nossos utilizadores ter uma visão completa do seu net worth numa dashboard, com um design simples e user friendly, potenciando assim uma melhor gestão de todos os ativos, tradicionais ou digitais.

A missão da Cheres é fornecer novos instrumentos e um ecossistema para ajudar todos a crescer na sua viagem financeira, unindo o mundo dos ativos tradicionais e alternativos através da cultura e da tecnologia.

Quando preveem lançar a aplicação?
Temos uma aplicação em versão beta já em funcionamento (iOS), mas o lançamento oficial da aplicação para iOS tem data para março deste ano.

Neste momento quantas pessoas já têm registadas na Cheres e como caracteriza o seu perfil?
Neste momento, temos 12 mil pessoas em lista de espera. A comunidade de utilizadores é jovem (dos 25 aos 40 anos) e diversa, com 60% dos utilizadores do sexo feminino e 80% de minorias subrepresentadas, como afroamericanos, latinos e asiáticos. Mas mais que tudo, são pessoas com paixão por investimentos financeiros, que querem aprender mais, partilhar conhecimento e fazer o seu trilho neste mundo.

Quais os maiores desafios que têm encontrado para transformar o investimento num ato social ou que depende maioritariamente da comunidade?
Um desafio que temos enfrentado é o facto dos investimentos serem percecionados como algo mais “masculino” e a que os homens têm maior e mais fácil acesso. Temos percorrido um caminho de forjar parcerias quer com universidades, para nos aproximarmos mais cedo da comunidade, quer com grupos femininos e para as minorias, perfis habitualmente afastados deste setor. Queremos participar nos movimentos de empoderamento feminino, dando as ferramentas para que a literacia financeira avance em uníssono.

Para além disso, as pessoas de gerações mais velhas olham para nós com algum ceticismo, isto porque sempre foi tabu falar de dinheiro e finanças pessoais – até agora. Muitas pessoas não percebem que as novas gerações nasceram com um smartphone e redes sociais nas mãos, e que elas próprias – bem como todos os seres humanos – são inerentemente sociais. Estamos a passar por uma “socialização” do mundo, onde qualquer produto, quer seja físico ou digital, está profundamente dependente da sua comunidade para sobreviver e prosperar. As novas gerações têm muito maior espírito de partilha e entreajuda, bem como iniciativa de agarrar o destino pelas próprias mãos e vencer por conta própria.

“Fechamos uma ronda seed logo dois meses depois de acabar o programa da Techstars, que foi fantástico para pôr em ação o lançamento da app para os Estados Unidos e Canadá, mas queremos estar em todo o mundo”.

Qual é a estratégia de expansão da Cheres?
Fechamos uma ronda seed logo dois meses depois de acabar o programa da Techstars, que foi fantástico para pôr em ação o lançamento da app para os Estados Unidos e Canadá, mas queremos estar em todo o mundo. As ambições da Cheres para o futuro passam por fazer crescer ainda mais a comunidade de forma significativa, entrar em novas geografias, nomeadamente alargar a outros continentes como Europa e Ásia, e atrair o melhor talento para se juntar a nós nesta missão.

Quais as previsões para este ano da Cheres? Querem chegar a quantos utilizadores e como o pensam fazer?
Queremos chegar aos 100 mil utilizadores este ano e achamos que é possível, uma vez que agora chegamos a mais de 3 milhões de pessoas, se contarmos com as estratégias go-to-market, parcerias com universidades, grupos e comunidades, e com a nossa newsletter que tem um público de 10 mil subscritores, número este que tem crescido 10% todas as semanas. Mantendo o canal aberto para a nossa audiência, é um número de utilizadores que prevemos alcançar.

De que forma o Acelerador Techstars Los Angeles tem contribuído para o crescimento da Cheres?
Foi o grande catalisador e o ponto de viragem para a criação da Cheres – foi aqui que partimos da ideia para a ação e foi a partir da nossa participação que conseguimos investimento. A Techstars tem um portefólio de start-ups com mais de 60 mil milhões de dólares de valorização cumulativa, de entre elas a primeira start-up apoiada por um acelerador a fazer IPO nos EUA. São uma marca de referência, com uma taxa de aceitação inferior às melhores universidades do mundo.

Para além do enorme voto de confiança, também tivemos acesso a um network de veteranos neste espaço, onde conhecemos mentores com quem continuamos a colaborar hoje em dia, mesmo após ter terminado o programa. Contamos com o apoio de advisors que já passaram pela Google, Square, Meta/Facebook, Snapchat, Amazon ou Goldman Sachs, e isso ajuda-nos a cometer menos erros e crescer com ainda mais velocidade.

E de que forma a experiência profissional do António o ajudou ou deu-lhe as ferramentas necessárias para lançar a Cheres?
Tive a sorte da minha vida pessoal e profissional me permitirem viver e experienciar realidades socioeconómicas bastante distintas – desde Macau, Singapura, Suíça, Alemanha, até Portugal, e mais recentemente Los Angeles e Nova Iorque. Acredito que esta diversidade de experiências me permite ter mais empatia e forjar um produto que tem em conta as necessidades de todos, com especial foco em pessoas cujo perfil tem sido negligenciado de forma sistémica neste espaço.

No que toca ao meu percurso, estudei Engenharia no Instituto Superior Técnico e fiz investigação em Inteligência Artificial na École Polytechnique Fédérale de Lausanne. Toda esta formação científica e matemática permite-me aprender de forma rápida e autónoma, e resolver problemas independentemente do seu domínio. O pensamento crítico, claro e bem estruturado é fundamental para um founder, e nos dias de hoje ainda aplico muitos dos modelos mentais de raciocínio da ciência e da matemática nos problemas com que me deparo diariamente, não só no processo técnico de desenvolvimento do nosso produto, mas em todos os aspectos de criação e gestão da empresa.

Como vê a Cheres dentro de dois anos?
Para já, sabemos que queremos tornar a Cheres numa única plataforma all-in-one. Para além das ferramentas de gestão de ativos e da comunidade, likes, comentários, tudo o que já existe numa rede social para potenciar engagement, partilha e conhecimento (que a app já inclui), vamos também permitir o showcase de forma fácil e personalizada de NFT’s da Ethereum blockchain. Queremos fomentar uma comunidade de partilha aberta, saudável, e dar acesso a ferramentas que potenciam a gestão de ativos e o diálogo com base na aprendizagem, permitindo assim aos nossos utilizadores evoluir o seu conhecimento e performance financeiros.

“No futuro, o objetivo é que se possa transacionar ativos através de qualquer conta de investimento no mundo sem sair da app da Cheres, permitindo o livre e fácil acesso ao mercado a qualquer pessoa no mundo”.

Projetos para o futuro da Cheres…
No futuro, o objetivo é que se possa transacionar ativos através de qualquer conta de investimento no mundo sem sair da app da Cheres, permitindo o livre e fácil acesso ao mercado a qualquer pessoa no mundo.

Respostas rápidas:
O maior risco:
Não tomar riscos suficientes.
O maior erro: Não agir na altura certa.
A maior lição: Tudo o que existe no mundo foi criado por pessoas como tu e eu.
A maior conquista: Todas as conquistas são um máximo local quando em comparação com a próxima.

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