Opinião

O investidor em Portugal também é um empreendedor

Francisco Ferreira Pinto, Administrador Executivo da BusyAngels

Costumo dizer que sou promotor de uma startup, a Busy Angels, uma sociedade de investimento em capital de risco. Por vezes esta afirmação causa alguma surpresa ou então pensam que me confundi. Sou um “promotor” ou um “investidor”?

A verdade é que ser investidor em capital de risco, em Portugal, é também ser um promotor / empreendedor de uma start-up, até porque passamos por muitos dos mesmos desafios pelos quais passam as start-ups nas quais investimos. Revejo-me nisso diariamente e talvez por isso seja mais fácil entender os sobressaltos por que passam alguns dos nossos investimentos ou ser mais crítico relativamente a alguns dos resultados que vão sendo obtidos.

Para uma melhor compreensão desta proximidade, posso dizer que na minha atividade e, à semelhança de qualquer start-up do meu portefólio, o meu foco passa genericamente por:

  • Ter um bom produto, diferenciador e em constante evolução – ou seja, um acompanhamento aos projetos com qualidade, focado no que os promotores precisam e valorizam.
  • Conseguir obter resultados e tração real – ou seja, ter empresas a crescer, a gerar valor, a obter revalorizações e claro exits.
  • Escalar rapidamente – ou seja, realizar cada vez mais (bons) investimentos, estar presente em novas geografias, estabelecer relações / network a nível mundial.
  • Conseguir atrair financiamento para suportar esse crescimento – ou seja, procurar novos fundos e novos investidores que queiram acompanhar-nos nesta viagem.

Também como quase todas as nossas participadas e a maioria das vezes por “culpa” delas, passamos por semanas de um enorme êxtase e outras de uma enorme desmotivação. A vantagem que julgo termos, é que com 23 investimentos no portefólio conseguimos um maior equilíbrio de emoções ao longo do tempo.

Decidi destacar esta proximidade entre ambas as atividades por duas razões.
A primeira, para procurar demonstrar que não existe uma disparidade assim tão grande entre as realidades, objetivos e desafios dos empreendedores e dos investidores no seu dia-a-dia. Com um maior conhecimento da nossa realidade, os promotores podem entender melhor as razões que levam a algumas das posições ou decisões tomadas ao longo do relacionamento.

Se não conseguimos investir mais poderá ser devido ao facto de não dispormos de mais fundos nessa altura (também poderá ser por simplesmente já não querermos…); se procuramos vender a nossa posição poderá ser porque também temos os nossos objetivos de tração e resultados; se mudamos o nosso formato de acompanhamento poderá ser uma procura de inovação na nossa oferta.

A segunda, por uma razão mais macro associada ao estado de maturidade do sector em Portugal. É um facto que todo o ecossistema português está em franco desenvolvimento, observável pelos inúmeros prémios recebidos seja por promotores ou por empresas, pelas grandes rondas de investimento realizadas com investidores de referência a nível mundial ou pela realização de conferências com enorme projeção internacional como a Web Summit.

Mas também é uma realidade, que a afirmação e sustentabilidade a longo prazo do sector está ainda longe de estar garantida e vai requerer um enorme esforço e resiliência por parte de todos os seus intervenientes.

Para se conseguir essa afirmação é fundamental que este espírito empreendedor – de querer criar, falhar e recomeçar, não parar de agitar, resistir a todas as adversidades, estar sempre focado em crescer – esteja enraizado em todos os intervenientes no ecossistema e não seja apenas liderado pelos promotores, mas também pelos investidores.

Julgo que para continuarmos a contribuir para o crescimento do sector, teremos de manter esta inspiração e ambição transmitida pelos projetos e elementos que apoiamos. Ao bom estilo de uma start-up, devemos estar continuamente a procurar melhorar, acompanhando a evolução das melhores práticas a nível internacional, crescer rapidamente, mas de uma forma sustentável levantando novos fundos alicerçados em experiência acumulada e resultados obtidos, e não ficar acomodado, partilhando conhecimento com o ecossistema e procurando sempre novas formas de abordar a atividade de investimento.

Comentários
Francisco Ferreira Pinto

Francisco Ferreira Pinto

É partner da Bynd Venture Capital, uma venture capital que investe em start-ups tecnológicas de base digital na Ibéria actualmente com mais de 30 empresas no portfólio. É também membro da direção da APBA – Associação Portuguesa de Business Angels. Anteriormente, liderou projectos de consultoria de estratégia e gestão na Deloitte e tem uma licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial, pelo Instituto Superior Técnico, e um MBA no Lisbon MBA, da Universidade Nova, Católica e MIT.

Artigos Relacionados