Opinião

Intuição? O algoritmo invisível dos líderes visionários

Sónia Jerónimo, Startup Builder EmpowHER

Vivemos numa era empresarial onde a expressão “data-driven” é quase um mantra. Decisões estratégicas baseadas em dados, análises preditivas e inteligência artificial são o pilar da liderança moderna.

É inegável que dados são essenciais. Um CEO que os ignora está a conduzir o seu negócio às cegas, num ambiente competitivo e volátil. No entanto, há algo que os dados, por mais avançados que sejam, não podem oferecer: o contexto completo. Após três décadas de liderança, afirmo com confiança que a intuição treinada representa um recurso tão valioso quanto o modelo analítico mais sofisticado.

O que é intuição treinada?

Não se trata de um “feeling” indefinido ou de impulsos irracionais. A intuição de um líder experiente resulta de anos a interpretar padrões, captar sinais não evidentes e ligar pontos que os relatórios não mostram. É a competência de ouvir nos silêncios, observar dinâmicas em reuniões e antever tendências antes de surgirem no radar empresarial.

Muitas vezes tomei decisões baseadas nos números. Mas houve outras ocasiões em que eles diziam uma coisa e a minha intuição outra. Essas decisões revelaram ser as mais estratégicas. A intuição treinada é mais do que instinto; é uma forma de processamento inconsciente alimentada por experiência, histórias vividas e lições acumuladas ao longo do tempo.

Nem toda intuição é confiável!

Intuições podem ser distorcidas por preconceitos ou inseguranças. Treiná-las é fundamental para retirar delas o maior valor possível. Mas, como se treina a intuição?

  • Escuta ativa: Ouça não apenas o que é dito, mas também o que é omitido.
  • Autoconhecimento: Reflicta sobre as suas decisões passadas para compreender os seus padrões.
  • Contraditório: Tenha a humildade de acolher perspetivas diferentes das suas.
  • Diversidade: Conviva com pessoas e experiências diferentes para ampliar o seu repertório.
  • Curiosidade permanente: Mantenha-se em constante aprendizagem.

Tudo isso fortalece a capacidade de captar nuances e perceber caminhos invisíveis aos dados.

O equilíbrio entre dados e intuição

Os dados refletem o passado ou o presente e ajudam os CEOs a tomar decisões fundamentadas. Contudo, o futuro é imprevisível, e é aí que a intuição faz diferença. É ela que consegue pressentir oportunidades ocultas, antecipar riscos invisíveis e guiar a liderança em tempos de incerteza.

Algumas das minhas melhores decisões foram tomadas contra a evidência dos dados. Olhando para trás, percebo que não foi magia, mas a experiência acumulada a agir de forma inconsciente.

O líder dos tempos modernos não é apenas “data-driven”. É também “intuition-enabled”. A combinação de análises rigorosas com sensibilidade intuitiva permite decisões mais completas, humanas e alinhadas com a realidade, que, como sabemos, nunca cabe dentro de um Excel!

Se quer preparar-se como líder, desenvolva mais do que competências técnicas. Aprenda a escutar-se, a refletir e a conectar experiências. A intuição bem treinada é o algoritmo invisível que distingue gestores eficientes de líderes visionários. Use-a. Valorize-a. Porque é ela que transforma o conhecimento em ação visionária.

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Sónia Jerónimo

Sónia Jerónimo

Sónia Jerónimo é atualmente Startup Builder EmpowHER®. Anteriormente foi cofundadora da GO IT Concept & Ambassador na Fábric@ Empreendedorismo do Município de Seia, foi Entrepreneur & Board Advisor e passou pela Winning, como COO e Board Advisory. Tem mais de 20 de experiência na área da gestão e liderança de empresas ligadas às tecnologias de informação. Após a licenciatura em Economia, iniciou a sua carreira no mundo académico como professora nas áreas de Economia e Gestão, na Universidade da Beira... Ler Mais..

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