Entrevista/ “Inovação e competitividade passam pelo empreendedorismo”

Fernando Paiva Castro, presidente da AIDA

Conhecida pelo seu dinamismo empreendedor, fruto de uma parceria de sucesso entre universidade e o mundo empresarial, Aveiro recebeu recentemente o Congresso Internacional de Negócios, uma organização da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA). O seu presidente, Fernando Paiva Castro, falou-nos das potencialidades empreendedoras do distrito e dos desafios que as start-ups enfrentam.

Sendo o polo universitário de Aveiro tão pródigo em projetos de empreendedorismo, de que forma pode a AIDA contribuir para dinamizar ainda mais a relação entre conhecimento académico e vertente empresarial?
A AIDA tem, desde sempre, vindo a realizar um trabalho de forte proximidade com as Entidades do Sistema Científico e Tecnológico. Aliás, o primeiro protocolo de cooperação da AIDA foi celebrado com a Universidade de Aveiro em 1991. É impensável que o conhecimento académico e as necessidades das empresas em termos de conhecimento e I&D não andem a par. Daí que exista uma relação de especial proximidade entre a UA, e demais entidades de ensino, e a AIDA . O que se concretiza das mais variadas formas, entre elas, o apoio da AIDA ao nível da identificação de empresários que integrem programas de tutoria, proporcionando aos alunos contacto com o contexto real das empresas; a sensibilização do tecido empresarial para a importância de introduzir inovação nos seus processos e produtos; a colaboração com a incubadora de empresas; o estímulo ao empreendedorismo; e, especial, à criação de start-ups. E neste ponto há que destacar o enfoque que a AIDA coloca no intraempreendedorismo, ou seja aquele que nasce no seio da própria empresa. Faço este destaque pois, de facto, a inovação e competitividade passam necessariamente pelo empreendedorismo, o qual é decisivo na relação entre universidade e empresas. De referir, ainda, a participação da AIDA no capital social do PCI – Parque de Ciência e Inovação.
Os vários projetos de parceria entre a AIDA e a UA estendem-se já, igualmente, ao âmbito da internacionalização. A UA é parceira do projeto INTER Aveiro, no qual participa igualmente a CIRA já que na região existe uma estratégia de desenvolvimento territorial integrada, desenvolvida em conjunto, e que, no caso do empreendedorismo, abarca as várias vertentes do mesmo. Ou seja, para além do já referido intraempreendedorismo, o empreendedorismo de base académica e o social.

No seu ponto de vista, que desafios enfrentam os empreendedores nacionais nos dias de hoje
Empreender, seja num negócio que está a iniciar-se seja num negócio já em desenvolvimento, é sempre um risco. Existem os fatores internos que influenciam a tomada de decisões e dependem do próprio empreendedor, como a capacidade de identificar oportunidades, de se adaptar ao que o mercado pede, ser inovador. Ao nível da inovação/diferenciação, um empreendedor que se lança no mercado tem o óbvio desafio de ter como concorrentes empresas que já conhecem o mercado e estarão, à partida, em melhores condições de dar resposta ao mercado.
O financiamento é, indubitavelmente, outro enorme desafio/dificuldade no momento atual. Depois há aqueles que são externos e relativamente aos quais o empreendedor não possui qualquer tipo de controle, os relacionados com as políticas públicas que, em muito, podem obstaculizar bons negócios. Falo da burocracia que, segundo um inquérito de opinião recente, levado a cabo pelo Fórum de Administradores e Gestores de Empresas, em conjunto com a Associação para o Desenvolvimento da Engenharia e a AESE Business School, pesa negativamente cerca de 19%, as taxas e os impostos cerca de outros 19%, a regulamentação laboral cerca de 14% e a instabilidade política cerca de 13%. E a este nível, a participação ativa no associativismo empresarial é da maior importância pois só com o reforço da representatividade das associações é possível tornar mais audível a voz dos empresários junto do poder público.

Em Portugal somos muito avessos a arriscar e encaramos um negócio fracassado como algo muito negativo. (…) O risco e o (in)sucesso são inerentes a qualquer investimento.

Como presidente de uma associação industrial, na sua perspetiva, de que precisam as start-ups que nascem nas áreas de intervenção da AIDA para vingarem?
A afirmação de uma start-up pressupõe, como base, que a mesma beneficie de serviços especializados nas mais variadas áreas relacionadas com a gestão, marketing, internacionalização, gestão de recursos humanos.
É também essencial a disponibilização de serviços de capacitação que tenham em conta áreas críticas como a proteção da propriedade intelectual e de programas de incentivo desburocratizados que se tornem apelativos para quem inicia o seu negócio e necessita, naturalmente, de apoio financeiro. Acresce a necessidade da existência de condições que minimizem a necessidade de custos fixos com instalações e equipamentos, por exemplo. Assim, as incubadoras de empresas devidamente infraestruturadas são um excelente instrumento para ajudar ao arranque de uma start-up, com serviços de capacitação de qualidade e que trabalhem em parceria estreita com as associações empresariais. Depois, e correndo o risco de me repetir, é necessário um contexto favorável ao investimento, o que passa pelas políticas públicas ao nível fiscal e laboral, entre outras.
Para finalizar, não podia deixar de referir algo mais intangível, a cultura do risco e da aceitação de eventuais fracassos. Em Portugal somos muito avessos a arriscar e encaramos um negócio fracassado como algo muito negativo. Ora, esta ideia tem de ser combatida sob pena de deixarmos de ter star-ups. O risco e o (in)sucesso são inerentes a qualquer investimento.

Quais os polos de incubadoras mais significativos da região de Aveiro?
Na região de Aveiro, os vários municípios e a Universidade de Aveiro optaram por trabalhar em rede e constituir a IERA – Incubadora de Empresas da Região de Aveiro. O facto de existir esta estratégia conjunta faz com que os vários polos se articulem, troquem experiências e partilhem know-how, permitindo que todos fiquem a ganhar em termos da qualidade da resposta que conseguem dar aos empreendedores que os procuram, não se podendo destacar nenhum em detrimento de outro pois o trabalho é conjunto.

Quais os projetos mais marcantes da região em termos de start-ups? Quais são os que podemos apelidar de “imagem de marca” do distrito?
Existem inúmeros projetos marcantes com origem na região. Nomeá-los é um complicado, já que se corre o risco de deixar de lado alguns igualmente merecedores de referência. Dois dos mais conhecidos, e incontornáveis, são o motor de busca Sapo e o sistema de pagamento da Via Verde, ambos criados no seio da UA. Mais recentemente temos um projeto que muito orgulha a região de Aveiro, e que é já uma referência a nível mundial, que passa pela criação de soluções para a “internet em movimento”, transformando automóveis em pontos de acesso à internet sem fios. A mentora é a Susana Sargento que fundou a Veniam, com sede em Silicon Valley. Posso ainda referir a impressora 3D criada pela Beevery Creative, o cultivo de macroalgas marinhas efetuado pela ALGAPLUS. Mas há muitos mais.

E de que forma a AIDA se relaciona e coopera com estes polos de incubadoras de empresas?
É parceira ativa da IERA desde o primeiro momento, sendo que muitas das start-ups sedeadas nos vários polos são suas associadas. Aliás, nem poderia ser de outra forma, considerando que um dos principais objetivos da associação é precisamente promover condições de competitividade para as empresas não Região. Assim, a AIDA integra o grupo de trabalho que coordena a atuação dos polos, ainda que, refira-se, cada um deles mantenha a sua autonomia. Sendo profunda conhecedora da realidade empresarial, a AIDA conhece as necessidades das start-ups e acaba por funcionar como ponte, identificando essas necessidades e disponibilizando o seu know-how, sempre que as incubadoras não tenham as valências concretas de que as empresas necessitem, encaminhando as start-ups para as incubadoras.

Qual a mais-valia que o distrito de Aveiro traz para o tecido empresarial nacional, uma vez que 50% do volume de negócios de Aveiro se centra na indústria?
A mais-valia do distrito de Aveiro para as empresas é evidente e facilmente identificável. De forma muito sucinta, começo por referir o facto de ser o ponto da Europa que se encontra geograficamente mais próximo dos Estados Unidos e possuir excelentes infraestruturas como o porto de Aveiro e vias rodoviárias que facilitam o trânsito das mercadorias para o centro da Europa. Acresce a diversidade de recursos humanos, a existência de recursos humanos altamente qualificados, centros de saber de elevada qualidade e com grande abertura ao tecido empresarial e uma cultura bastante permeável à aposta em I&D. Essencial também a existência de uma estratégia de desenvolvimento territorial muito consistente, na qual os diversos agentes económicos públicos e privados trabalham em parceria o que oferece uma garantia de estabilidade e complementaridade de respostas claramente indutora da competitividade empresarial. E, claro, o trabalho de associações empresariais como a AIDA que colocam todo o seu hnow-how ao dispor das empresas, afirmando-se como representativas das mesmas na defesa das melhores condições para o exercício da atividade empresarial.

Comentários

Artigos Relacionados