Opinião
Com as redes sociais, o livre arbítrio morreu?

Será bastante reduzida a probabilidade de colocarmos o nosso número de telefone, e-mail, idade, número de contribuinte e/ou de cartão de cidadão, ou outro tipo de elementos similares no nosso automóvel (para que todos na rua os possam ver) ou à porta de casa.
Na verdade, e na maior parte dos casos, senão mesmo na generalidade, teremos até alguma reserva em partilhar qualquer um desses elementos e, inclusive, se alguém nos abordar na rua, a pedir o número de telefone apenas ignoraremos ou responderemos de forma abrupta ou mesmo pouco amistosa.
Ora, sendo assim, será pouco compreensível que, no universo mais lato e inclusive mais acessível a um maior número de pessoas como é o mundo digital, disponibilizemos, de qualquer modo e sem ajuizado valor prévio, tais dados/elementos utilizáveis por quaisquer estranhos ou menos estranhos que lhes possam aceder.
Na recente polémica sobre o grau de utilização de dados, a sua manipulação para uso (mais do que indevido, previamente orientado para determinados fins), o primeiro passo, prévio à eventual indignação, será, provavelmente o de reavaliarmos a nossa própria forma de exposição direta no mundo digital.
Se, de forma pouco avisada, expomos a milhões de pessoas os nossos gostos de filmes, séries, clubes desportivos, opções religiosas ou políticas, deveremos estar preparados para que, tais milhões de pessoas (direta ou indiretamente) nos apresentem ideia/contra ideias, opções ou alternativas a tais preferências?
E, por outro lado, de que modo limitamos significativamente as nossas escolhas de vida ao limitar as nossas comunicações, ambientes digitais ou socialização on-line, exclusivamente às nossas preferências, sem contraponto de outras visões, permitindo que, em cascata, nos embrenhemos cada vez mais num mundo de pensamento único – no qual apenas estão aqueles que connosco concordam ou vice-versa?
Ao expormos as nossas preferências e dados, estamos a perder o livre arbítrio, entre algoritmos divinos que constituirão a carta celeste das nossas vidas?
Tem mais de 15 anos de experiência nos vários domínios de data science – da investigação e data mining à extração de dados; produção de informação e visualização e design da mesma (destacando-se, em particular, em trabalhos sobre a escolha dos eleitores); indústria da aviação; retalho e telecomunicações. Foi fundador de várias empresas – da agricultura aos serviços – sendo developer de soluções técnicas e laboratório de experiências de monitorização para subsequente aplicação na cadeia de valor agrícola. Criou a Tisad Technologies e é também um dos sócios fundadores da REBIS, na qual assume o papel de Chief Corporate Development Officer e Co-CEO.