Opinião
Gestão de Stress – Pandemia ou Pandemónio?
Num período controverso, em que a saúde ocupa o primeiro lugar nas preocupações globais, não deixa de ser interessante refletirmos sobre a gestão do stress e do tempo, na nossa adaptação a uma nova realidade.
Por definição, o stress é a resposta do nosso corpo a um evento ou situação de pressão na nossa vida. Existem muitas causas possíveis, mas alterações no quotidiano, contexto social e económico e falta de rotinas são as principais enunciadas por especialistas. O stress, decorre, normalmente, de algo novo ou inesperado, algo que foge ao nosso controlo.
Ora, desde março deste ano, que fomos confrontados com uma alteração abrupta daquilo que considerávamos, o nosso “normal”. As escolas encerraram, foi declarado o estado de emergência nacional, fomos confinados a casas onde passávamos cerca de duas a quatro horas ativas por dia, forçados a um convívio permanente com a nossa família direta, forçados a um distanciamento social total, a nossa atividade profissional transformou-se numa realidade de teletrabalho. Mais difícil ainda, numa sociedade tipicamente individualista, assumimos responsabilidades de saúde e segurança para um bem-estar comum.
Ora, parece-me que alterações mais inesperadas que estas, seria impossível. Como garantir que neste contexto a pandemia não se transforma num pandemónio?
Muito se tem escrito e debatido sobre os impactos sociais e económicos desta realidade. Mas e os impactos na saúde mental e psicológica de uma sociedade indefinidamente confinada?
O que parecia simples, depressa se tornou extremamente complexo. As rotinas tornaram-se num verdadeiro desafio. Conciliar a situação de teletrabalho, que obrigou a imensas transformações e adaptações empresariais e individuais, com as tarefas domésticas, a tele escola, as aulas online, o envio de trabalhos, os horários, a gestão pessoal e familiar de uma proximidade e de um distanciamento… Rapidamente se tornou claro que a imposição de “parar” obrigaria a um ritmo alucinante, ainda que dentro de um só espaço.
Não sendo certamente o melhor exemplo, e tendo consciência de que poderia ter feito tudo bastante melhor, partilho algumas das medidas adotadas a nível pessoal e profissional que garantiram alguma normalidade neste período:
1 – Manutenção (dentro do possível) das rotinas e horários, principalmente das crianças. A hora do deitar, o momento da história, a hora do banho e das refeições foram mantidas e são cumpridas, reforçando a distinção entre dias da semana e fim de semana. Profissionalmente, parece-me que a questão dos horários foi dos pontos mais desafiantes. Progressivamente, verifiquei que a manutenção dos horários era impossível, e recebo mails e comunicações até de madrugada…
2 – Partilha de atividades e tempo de qualidade com as crianças. Apesar da tenra idade, nunca teria tido oportunidade para desfrutar tanto dos meus filhos. Fizemos inúmeras atividades, trabalhos manuais, brincámos, construímos, assistimos a filmes, lemos dezenas de vezes as mesmas histórias e sorrimos muito. Apesar da carga profissional complexa, passei mais tempo com os meus filhos do que alguma vez me seria permitido.
3 – Aposta no 100% digital. Esta nova realidade obrigou-nos, definitivamente a ser digitais. Já recorria a várias plataformas sociais e profissionais no meu dia a dia, mas nestes últimos 54 dias, o nosso mundo passou a rodar através de um ecrã. Todas as compras foram feitas online, o convívio foi digital, a comunicação também e o conforto de partilha de vivências e experiências foi essencial. Para muitos, o nosso grande refúgio esteve nas séries da Netflix ou do HDO, nas stories do Instagram, nos relatos do Facebook, nas conversas em Face Time ou Skype. O Zoom, outrora desconhecido, tornou-se na minha ferramenta de trabalho por defeito e permitiu que o meu filho mais velho tivesse algum contacto com a professora e amigos.
4 – Apoio às marcas e serviços nacionais. Descobri marcas portuguesas incríveis, negócios de distribuição de cabazes e produtos frescos de enorme qualidade e assisti com orgulho a toda uma economia que, mesmo parada, se reinventou e se adaptou dando resposta às nossas necessidades e limitações. Se o que era nacional já era bom, agora será ainda muito melhor.
5 – Gestão (difícil) de uma equipa à distância. Com as deslocações limitadas e o confinamento obrigatório, a tomada de decisões, gestão de expetativas e manutenção da motivação foram, sem dúvida, os meus maiores desafios. Apesar de as novas tecnologias permitirem alguma interação, as reuniões não presenciais carecem de feeling, de emoção e de sensibilidade. As empresas tiveram de se adaptar e reinventar semanalmente, alterando com frequência a sua comunicação, a sua estratégia e lutando pela manutenção dos serviços prestados. Apesar das dificuldades, acredito que quem se adaptou a esta situação, será vencedor no regresso à normalidade que tende a tardar.
6 – Foco nas oportunidades e não nos obstáculos. Naturalmente que tive momentos de desespero e alguma tristeza, mas de forma geral, procurei desde o início, manter-me positiva e otimista, como aliás me mantenho. O impacto negativo de toda esta situação parece-me inquestionável, mas o início progressivo do desconfinamento, traz-me esperança e alguma tranquilidade.
O futuro constitui, ainda, uma enorme interrogação. Talvez, do ponto de vista de gestão de stress esse seja, agora o nosso maior desafio. Passada a fase mais drástica do confinamento total, aos poucos as empresas vão reabrindo, as pessoas vão saindo e as crianças vão brincando. Mas com máscaras, viseiras e inúmeros cuidados. Para quando o regresso ao nosso normal? Para quando a liberdade de volta? Para quando a certeza do dia de amanhã? Ninguém sabe. Especula-se, debata-se, mas não se pode planear nem definir um prazo. Cabe-nos a todos a árdua tarefa da paciência, da resignação e da esperança… porque, afinal, #vaificartudobem!