Opinião

Gestão de Stress – Pandemia ou Pandemónio?

Mariana Torres, national franchisor Portugal da Helen Doron English

Num período controverso, em que a saúde ocupa o primeiro lugar nas preocupações globais, não deixa de ser interessante refletirmos sobre a gestão do stress e do tempo, na nossa adaptação a uma nova realidade.

Por definição, o stress é a resposta do nosso corpo a um evento ou situação de pressão na nossa vida. Existem muitas causas possíveis, mas alterações no quotidiano, contexto social e económico e falta de rotinas são as principais enunciadas por especialistas. O stress, decorre, normalmente, de algo novo ou inesperado, algo que foge ao nosso controlo.

Ora, desde março deste ano, que fomos confrontados com uma alteração abrupta daquilo que considerávamos, o nosso “normal”. As escolas encerraram, foi declarado o estado de emergência nacional, fomos confinados a casas onde passávamos cerca de duas a quatro horas ativas por dia, forçados a um convívio permanente com a nossa família direta, forçados a um distanciamento social total, a nossa atividade profissional transformou-se numa realidade de teletrabalho. Mais difícil ainda, numa sociedade tipicamente individualista, assumimos responsabilidades de saúde e segurança para um bem-estar comum.

Ora, parece-me que alterações mais inesperadas que estas, seria impossível. Como garantir que neste contexto a pandemia não se transforma num pandemónio?

Muito se tem escrito e debatido sobre os impactos sociais e económicos desta realidade. Mas e os impactos na saúde mental e psicológica de uma sociedade indefinidamente confinada?

O que parecia simples, depressa se tornou extremamente complexo. As rotinas tornaram-se num verdadeiro desafio. Conciliar a situação de teletrabalho, que obrigou a imensas transformações e adaptações empresariais e individuais, com as tarefas domésticas, a tele escola, as aulas online, o envio de trabalhos, os horários, a gestão pessoal e familiar de uma proximidade e de um distanciamento… Rapidamente se tornou claro que a imposição de “parar” obrigaria a um ritmo alucinante, ainda que dentro de um só espaço.

Não sendo certamente o melhor exemplo, e tendo consciência de que poderia ter feito tudo bastante melhor, partilho algumas das medidas adotadas a nível pessoal e profissional que garantiram alguma normalidade neste período:

1 – Manutenção (dentro do possível) das rotinas e horários, principalmente das crianças. A hora do deitar, o momento da história, a hora do banho e das refeições foram mantidas e são cumpridas, reforçando a distinção entre dias da semana e fim de semana. Profissionalmente, parece-me que a questão dos horários foi dos pontos mais desafiantes. Progressivamente, verifiquei que a manutenção dos horários era impossível, e recebo mails e comunicações até de madrugada…

2 – Partilha de atividades e tempo de qualidade com as crianças. Apesar da tenra idade, nunca teria tido oportunidade para desfrutar tanto dos meus filhos. Fizemos inúmeras atividades, trabalhos manuais, brincámos, construímos, assistimos a filmes, lemos dezenas de vezes as mesmas histórias e sorrimos muito. Apesar da carga profissional complexa, passei mais tempo com os meus filhos do que alguma vez me seria permitido.

3 – Aposta no 100% digital. Esta nova realidade obrigou-nos, definitivamente a ser digitais. Já recorria a várias plataformas sociais e profissionais no meu dia a dia, mas nestes últimos 54 dias, o nosso mundo passou a rodar através de um ecrã. Todas as compras foram feitas online, o convívio foi digital, a comunicação também e o conforto de partilha de vivências e experiências foi essencial. Para muitos, o nosso grande refúgio esteve nas séries da Netflix ou do HDO, nas stories do Instagram, nos relatos do Facebook, nas conversas em Face Time ou Skype. O Zoom, outrora desconhecido, tornou-se na minha ferramenta de trabalho por defeito e permitiu que o meu filho mais velho tivesse algum contacto com a professora e amigos.

4 – Apoio às marcas e serviços nacionais. Descobri marcas portuguesas incríveis, negócios de distribuição de cabazes e produtos frescos de enorme qualidade e assisti com orgulho a toda uma economia que, mesmo parada, se reinventou e se adaptou dando resposta às nossas necessidades e limitações. Se o que era nacional já era bom, agora será ainda muito melhor.

5 – Gestão (difícil) de uma equipa à distância. Com as deslocações limitadas e o confinamento obrigatório, a tomada de decisões, gestão de expetativas e manutenção da motivação foram, sem dúvida, os meus maiores desafios. Apesar de as novas tecnologias permitirem alguma interação, as reuniões não presenciais carecem de feeling, de emoção e de sensibilidade. As empresas tiveram de se adaptar e reinventar semanalmente, alterando com frequência a sua comunicação, a sua estratégia e lutando pela manutenção dos serviços prestados. Apesar das dificuldades, acredito que quem se adaptou a esta situação, será vencedor no regresso à normalidade que tende a tardar.

6 – Foco nas oportunidades e não nos obstáculos. Naturalmente que tive momentos de desespero e alguma tristeza, mas de forma geral, procurei desde o início, manter-me positiva e otimista, como aliás me mantenho. O impacto negativo de toda esta situação parece-me inquestionável, mas o início progressivo do desconfinamento, traz-me esperança e alguma tranquilidade.

O futuro constitui, ainda, uma enorme interrogação. Talvez, do ponto de vista de gestão de stress esse seja, agora o nosso maior desafio. Passada a fase mais drástica do confinamento total, aos poucos as empresas vão reabrindo, as pessoas vão saindo e as crianças vão brincando. Mas com máscaras, viseiras e inúmeros cuidados. Para quando o regresso ao nosso normal? Para quando a liberdade de volta? Para quando a certeza do dia de amanhã? Ninguém sabe. Especula-se, debata-se, mas não se pode planear nem definir um prazo. Cabe-nos a todos a árdua tarefa da paciência, da resignação e da esperança… porque, afinal, #vaificartudobem!

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Mariana Torres

Mariana Torres

Mariana Torres é national franchisor em Portugal da marca Helen Doron English, um método de ensino da língua inglesa que vai desde os bebés com três meses até aos jovens com 19 anos. Em 2012, abriu a sua primeira unidade como franchisada dos centros de ensino de inglês Helen Doron English, em Odivelas. Passado um ano, assumiu o master da marca em Portugal. É também vogal do Conselho de Administração da Fundação Lapa do Lobo. Mariana Torres é licenciada em... Ler Mais..

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