Entrevista/ “O Future Opens é um pré Shark Tank”
Apoiar os novos empresários e empreendedores nacionais que necessitam de uma rede de contacto com os clientes, para expandir a sua base de atuação e valorizar o negócio dos CTT é o objetivo do Future Opens, o novo projeto dos correios.
O Link To Leaders esteve à conversa com Rui Paulo Torres, responsável de Marketing da Rede CTT, sobre o projeto que abre as portas das 619 lojas CTT aos produtos, serviços ou modelos de negócio das start-ups que possam apresentar interesse para o negócio dos CTT.
O que levou os CTT a lançarem o Future Opens?
No Shark Tank, o que os sharks geralmente perguntam é sobre a existência ou não de parcerias com a rede de retalho, o modelo de negócio, onde está o produto…, mas as respostas dos candidatos sempre me fizeram alguma confusão. Foi a partir daqui e da paixão de uma equipa que nasceu o Future Opens. Através deste projeto, as start-ups vão poder dizer: já tenho uma parceria, o produto está em venda ou já esteve à venda nas lojas CTT, os resultados foram estes, o preço era 10, mas passámos para 5, quem comprou, afinal, não foram os senhores de idade… O produto é que nos vai dizer o que é que as pessoas querem dele e o Future Open vai dar uma ajuda!
Como é a mecânica do Future Opens?
Os candidatos devem apresentar a suas candidaturas online até 20 de novembro deste ano, e os projetos serão submetidos a um processo de pré-seleção, a anunciar até ao fim do ano. Após essa seleção, os candidatos farão apresentações personalizadas a um painel de jurados, em formato pitch, de onde sairão os vencedores que irão passar a contar com a rede de Lojas CTT e com os canais de venda online dos CTT para a comercialização dos seus produtos e serviços.
O objetivo dos CTT é duplo: apoiar os novos empresários e empreendedores nacionais que necessitam de uma rede de contacto com os clientes para expandir a sua base de atuação; e valorizar o negócio dos CTT, suportando uma diversificação da oferta e dos valores de conveniência da mais reticular rede de retalho dos CTT, a rede de lojas dos correios.
Qual a grande mais valia deste projeto para as start-ups?
O Future Opens não se limita a três ou quatro investidores, como acontece no Shark Tank. Alguns projetos que não passaram à fase de seleção no Shark Tank e que se perderam pelo caminho, podem encontrar no Future Opens uma porta aberta. Neste projeto, queremos acompanhar, dar visibilidade. Quando temos um produto e acreditamos no mesmo e já passamos por um determinado estágio, o que é que os CTT nos podem oferecer? Uma cobertura fantástica – 616 lojas e mais 1700 postos de vendas de selos de correio -, uma equipa de vendedores, profissionais com uma polivalência tremenda em termos de colocação de produtos, de venda de produtos e com formação contínua.
Mesmo quem tem limitações de stock, pode concorrer. Não faz 10, faz antes 5 ou 3! Vamos analisar a autenticidade, a criatividade, o produto em si, a diferenciação em relação aos demais…. É um negócio para os CTT, mas também para o cliente. É um win-win, em que os CTT têm aquilo que as start-ups não têm: uma loja para vender. Os CTT têm ainda a vertente on-line, ou seja, a possibilidade de os produtos serem comercializados também na sua Loja Virtual.
Como funcionará a integração dos projetos vencedores na rede de Lojas CTT?
Cada caso vai ser um caso! Há três coisas que já adiantamos! Os vencedores do projeto entregam num único ponto – no armazém -, ao invés de entregarem em várias lojas, e depois cabe aos CTT distribuírem. Depois temos a parte da comunicação: nós temos nestas lojas suportes de comunicação, os LCDs, a lista de espera… Portanto, eu estou a comunicar o meu produto durante um período de tempo e isto tem um valor. Por último: a parte de exposição do produto. Eu consigo colocar exposto um produto numa loja CTT, sem front fee de entrada.
São três atributos, encargos financeiros que ficam de fora na equação de modelo de negócio. Depois os CTT encontrarão, certamente, aqui um modelo que seja bom para ambas as partes, em termos de negócio… Não é por aqui que vamos encontrar problemas no meio do percurso. Qualquer start-up pode participar, desde que tenha um projeto materializado.
Os produtos selecionados só vão estar em determinadas lojas CTT?
Vai haver uma análise. A capacidade para chegar a todos os pontos em termos de stock é limitada. Os recursos custam dinheiro. O eu passar de um armazém para um determinado espaço é mais um custo. As start-ups deixam de ter o stock no seu armazém, para passar para o sítio onde as pessoas podem comprar. E isso é ótimo, já que evita que estejam três ou quatro meses com stockagens e a pagarem um x por metro quadrado….
Vamos ter algum cuidado na seleção dos candidatos. Vai haver um júri definido pelos CTT. Queremos que as empresas que entram aqui, saiam daqui satisfeitas com esta experiência e, acima de tudo, com o negócio, com os números, com os valores.
Há alguma possibilidade de os produtos, serviços e outras oportunidades de negócio vencedores continuarem a longo prazo com os CTT?
Pode perfeitamente acontecer. Os CTT comercializam livros, artigos portugueses… uma panóplia de produtos… Temos produtos a mais e o que estamos a fazer é a segmentação das lojas. Alguns produtos vão funcionar melhor em algumas lojas do que outros.
Na loja do Parque das Nações, que é uma loja moderníssima, aberta 24 horas, temos alguns conceitos diferentes dos que existem nas outras lojas. Por isso, porque não testar aqui um produto? Vamos adaptar cada produto a cada loja.
Quais são as mais-valias para concorrer ao Future Opens, relativamente a uma possível participação num programa como o Shark Tank?
No Shark Tank, eu tenho quatro investidores que vão lutar entre eles para adquirem o produto, argumentando que têm networking, que vão colocar o produto nos pontos certos… O Future Open é um pré Shark Tank. Eu vou ao Shark Tank quando o meu produto estiver numa fase de maturidade já muito boa e quando preciso mesmo de investidores. Ao contrário do Shark Tank, no Future Opens as start-ups candidatam-se, têm o produto, conseguem testar, têm acesso aos resultados, podem afinar o produto, as embalagens…
Os CTT fizeram um investimento muito elevado neste projeto?
O investimento que fizemos foi ao nível de recursos, ao nível da formação e distribuição. Houve muito investimento interno.
Qualquer start-up pode correr?
Não barramos nenhuma participação. Se concorrerem com umas caixas de bolachas com prazo de validade, podem participar, mas quase que me atrevo a dizer que a probabilidade de ganhar é reduzida, pois o seu produto não é diferenciador. Tenho um projeto, está a materializar-se, ainda não tenho o produto, mas daqui a três meses já o tenho. Nestas situações também posso contar com os CTT.
Procuramos empresas ou pessoas singulares com menos de três anos de atividade, sem limite de idade, que possuam oferta numa de três categorias: Retalho, incluindo produtos de retalho sustentável, de consumo e de tecnologia; Serviços, englobando serviços tecnológicos e de consumo; e Outros, nas situações em que os candidatos apresentem modelos de negócio que possam apresentar interesse para o negócio dos CTT.
O lançamento deste projeto a pouco tempo do Web Summit é uma feliz coincidência?
É uma feliz coincidência (risos). O Web Summit veio agitar o ecossistema e como nós estamos muitos próximos deste ecossistema, também foi um fator a ter em conta.
Se tivesse de dar um conselho a quem vai concorrer, o que diria?
Concorram com paixão! Acima de tudo divulguem, não se inibam de partilhar com os outros. Se não houver uma oportunidade na primeira fase, pode haver na segunda fase. O Future Opens é um concurso para ser partilhado, para chegar às pessoas.