Opinião
Fora da caixa ou dentro da caixa? Mas afinal, o que é a caixa?
Quem nunca ouviu a frase: “Tem de pensar fora da caixa!”. Eu já e milhares de vezes. O pensar fora da caixa traz consigo um sinónimo de “sair da zona de conforto”. É promover a mudança do mindset, da cultura, da tecnologia e de qualquer outra coisa que se encontre no seu bom uso, mas não bom o suficiente.
Vou dar um exemplo. A empresa “FazTudo” precisava de atualizar as suas aplicações de gestão de clientes e como habitualmente passava as necessidades ao IT, como uma tarefa de suporte aplicacional. A coisa corria bem assim, no entanto às vezes demorava muito para se ter pronto o que era pedido. Tínhamos aqui o problema de não se saber todo o contexto e de ter o ticket retornado várias vezes a quem o abriu para se esclarecerem coisas. Mas funcionava há 10 anos.
Até que um dia o “José” resolveu pensar fora da caixa e propor: “Vamos acabar com essas idas e vindas e documentar tudo que precisa de ser feito antes de passar ao IT”. Então, depois de 10 anos, vamos adotar uma metodologia waterfall, documentar e garantir que vai ser tudo feito de uma só vez.
E lá se foram mais 5 anos a correr tudo lindamente, a pensar fora da caixa e a dar bons resultados. Mas com o tempo percebeu-se que, apesar de funcionar, ainda havia alguns problemas especialmente com mudanças de âmbito. O que foi previsto 6 meses atrás e levou mais 6 meses para estar pronto, já precisava de melhorias e mal começou a ser usado.
Então, para acelerar esse processo contrataram a “Joana”, que há muito tempo trabalha com Scrum e já está familiarizada com metodologias ágeis. E a Joana convida a equipa a pensar fora da caixa e a mudar novamente, agora para a metodologia Scrum. Muita resistência ao princípio, mas resolveram tentar.
Adaptaram-se muito bem e parecia que finalmente era desta. Daí vão-se mais 3 anos. Novos problemas, coisas poucas, incomodam, mas já estavam modernizados, pensavam fora da caixa há anos e o caminho era este.
Será?
Afinal, o que é a caixa?
Pensamos fora da caixa, mudamos, modernizamos, evoluímos e daqui a pouco estamos de volta à nossa caixa. Com uma capa bonita, mas novamente a nossa caixinha.
A “caixa” vai sempre existir. Ela é o nosso período de acomodação e conformismo. Aquele espaço de tempo em que tudo parece correr bem, apesar de uma coisinha ou outra não estar de todo bem. É o período em que adormecemos a nossa criatividade e a nossa busca pela inovação.
Tudo o que hoje é “fora da caixa” em alguma altura será a nossa nova caixa e por isso é importante que as equipas se sintam sempre desafiadas a explorar a sua criatividade na procura por alternativas inovadoras para que não deixemos a nossa caixa fechar-se.
Incorporar práticas de feedback e brainstorms periódicos ajuda as equipas a manter desperto o olhar crítico sobre as nossas rotinas, as nossas soluções e até mesmo sobre a nossa evolução.
Partilhar ideias, discordar, concordar, unir conceitos que parecem opostos ou separar perceções que parecem iguais, frustrar-se, ser encorajado, desafiar-se, sentir-se capaz, ter um espaço aberto para errar e acertar. Acima de tudo, dar apoio e incentivo para a equipa testar as coisas que parecem mais loucas, mesmo que sejam as mais pequenas.
A nossa maior preocupação não deve ser “pensar fora da caixa”, mas sim termos sempre a caixa, a nossa mente, aberta para as mais diversas e desafiadoras possibilidades, olhar para fora e questionarmo-nos todos os dias: O que posso fazer melhor?