Fast fashion: os problemas da segunda indústria mais poluente do mundo

Antes de se aventurar na próxima época de saldos, tenha consciência do impacto que a indústria fast fashion tem no ambiente e na vida dos trabalhadores.

Do ponto de vista do consumidor, é cada vez mais complicado continuar a usar roupas que foram compradas há alguns meses (ou semanas) quando aparecem as últimas tendências nas montras e prateleiras das lojas.

O que poderia ser potencialmente interessante para os clientes, visto que podem comprar peças que estão na moda a preços relativamente baixos, tem associado um elevado custo para o ambiente.

Este problema tem um nome: fast fashion. As maiores críticas a esta indústria, que se foca na apresentação de modelos inspirados na alta costura, mas a preços acessíveis para a maioria dos consumidores, são a poluição e consumo de água, a utilização de químicos tóxicos e os crescentes níveis de poluição associados ao desperdício têxtil.

Como nasceu o movimento

Antes de entrarmos em detalhe nos problemas associados ao crescimento desta indústria, temos de perceber quando é que foi criada e o porquê de ter sido criada.

Quando? Esta tendência começou nos anos 60, numa altura em que os jovens começaram a comprar roupa mais barata para, assim, seguirem constantemente as novas tendências, rejeitando a tradição das gerações mais antigas – em que as roupas eram compradas para durar.

Porquê? A partir daqui os grandes fabricantes de roupa tiveram de encontrar formas mais eficazes de venderem produtos baratos a um ritmo cada vez mais acelerado. Com estes problemas em vista, a solução passou por começar a fabricar nos países em desenvolvimento, o que permitiu às grandes marcas vender mais barato ao mesmo tempo que conseguiam margens de lucro mais apelativas.

Fast fashion: os problemas da segunda indústria mais poluente do mundo

 Os custos para o ambiente

As cores apelativas e vibrantes das várias peças de roupa que usamos têm custos bastante elevados para o planeta. Isto acontece porque os fabricantes utilizam químicos tóxicos para atingirem as cores pretendidas. O tingimento de roupa é o segundo maior poluente de água limpa do mundo. Neste campo, a agricultura ocupa o primeiro lugar do pódio.

Parte destes químicos utilizados para dar cor às peças de roupa estão banidos em alguns países. Para além de poluírem a água, os argumentos contra prendem-se com a sua toxicidade, por serem perturbadores para as hormonas, cancerígenos e bioacumulativos, ou seja, as substâncias desenvolvem-se mais rapidamente do que o processo de metabolismo ou de excreção de um organismo.

Os pontos negativos aumentam quando falamos do tecido mais utilizado do mundo: o poliéster. Quando a roupa produzida com este material é lavada são libertados “detritos” de microfibras, responsáveis pelo aumento do nível de plástico nos oceanos.

Isto acontece porque as microfibras passam facilmente pelos filtros utilizados nos esgotos e nas estações de tratamento de águas. Não sendo biodegradáveis representam um problema sério para a vida marinha. Este tipo de lixo é comido por pequenos seres-vivos como o plâncton e, a partir daí, escalam a cadeia alimentar até chegar aos humanos.

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O impacto na vida humana

A ideia de que a fast fashion seria uma situação win-win tanto para os países desenvolvidos – onde as pessoas conseguiriam comprar roupas mais baratas -, como para os países em desenvolvimento – onde iriam ser criados empregos em fábricas -, não podia estar mais errada.

Esta ideia está espelhada no “The True Cost”, onde é dado um insight diferente sobre a indústria. Neste documentário são mostrados alguns casos, como o de um agricultor de algodão norte-americano que morreu com um tumor no cérebro, ou os problemas de saúde dos bebés filhos de agricultores de algodão indianos.

O fato de o crescimento de algodão necessitar de níveis altíssimos de água e de pesticidas para prevenirem  falhas do desenvolvimento das colheitas, está na origem de algumas destas situações..

Para diminuir a utilização de pesticidas, grande parte do algodão é geneticamente modificado para resistir a espécies invasoras. Mas o que poderia ser uma opção interessante está a provocar a emergência de culturas resistentes aos pesticidas mais comuns, o que coloca a necessidade de utilizar pesticidas mais fortes, consequentemente mais perigosos vida humana e animal.

Fast fashion em números

2 – Quantia de dólares que os trabalhadores da indústria têxtil dos países como o Camboja, Bangladesh e Índia recebem por um dia de trabalho.

7 – Número de vezes que uma peça de roupa é utilizada antes de ser deitada fora.

10% – Percentagem de emissões que dióxido de carbono que a indústria da roupa ocupa.

40% – Percentagem de peças de roupa que não são utilizadas.

80% – Percentagem de mulheres entre os trabalhadores da indústria.

200 – Anos que o poliéster leva para se decompor nos aterros.

500% – O crescimento do consumo de peças de vestuário nos últimos 20 anos.

2700 – O número de litros de água que são necessários para produzir uma t-shirt.  

70 000 000 – Número médio de barris que, todos os anos, tem de ser utilizados para fabricar poliéster.

1 130 000 000 – Quilos de roupa que são deitados para aterros todos os anos.

13 000 000 000 – Avaliações singulares das marcas Zara e H&M (em dólares), segundo a Forbes. Ocupam, respetivamente, o 46.º e o 47.º lugar do ranking da revista norte-americana.

Fast fashion: os problemas da segunda indústria mais poluente do mundo

O que podemos fazer enquanto consumidores?

Da próxima vez que for aos saldos tenha a certeza que gasta o seu dinheiro em marcas que se esforçam tanto por diminuir o impacto que têm no ambiente, como por melhorar a vida das pessoas que trabalham em países em desenvolvimento.

Rita Carvalho, consultora de comunicação e imagem, escreveu um artigo de opinião para o Link to Leaders onde abordou o tema e deixou alguns conselhos aos leitores:

“Enquanto consumidor, o primeiro passo é envolver-se neste debate e escolher quais as marcas de roupa que pretende suportar com o seu dinheiro. Existem projetos que apoiam as produções locais, fabricam roupa com matérias-primas sustentáveis e proporcionam condições de trabalho dignas. Criadores como Stella McCartney e Ralph Lauren estão a tentar reformular as práticas da indústria, usando tecidos orgânicos ou tecidos feitos de reciclagem de materiais, de modo a reduzir o desperdício de água, energia, tempo e produtos químicos. Por isso, investigue mais sobre as marcas que consome no Fashion Transparency Index de 2017.

Além disso, consuma de forma mais inteligente. Compre apenas o que realmente necessita e aumente a longevidade das suas peças de vestuário e calçado, adquirindo também roupa em segunda mão. Pode, ainda, publicar uma foto nas redes sociais com a etiqueta da sua roupa, fazer tag da marca e colocar a hashtag #whomademyclothes, bem como escrever mensagens às marcas fast fashion, solicitando um maior compromisso e transparência em todo o processo”.

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